Atualmente a a nostalgia da época dos anos 2010 é muito bem delimitada. De um pop extravagante que se fundia à EDM às páginas de Tumblr e à ascensão dos smartphones, toda a estética desse período é facilmente reconhecida. Não por acaso, um dos personagens mais emblemáticos da década é o The Neighbourhood; seu clássico instantâneo, “Sweater Weather”, é, para além de ser a sexta faixa mais tocada no Spotify (outro produto de seu tempo), um retrato de toda uma geração.
Tendo alcançado o ápice da carreira já em seu disco de estreia, I Love You. (2013), o grupo praticamente nasceu com a difícil tarefa de construir sua imagem ao mesmo tempo em que o público já a decretava. Como resultado, Wiped Out! (2015) veio para aprofundar o imaginário em torno da banda, consolidando uma persona que funcionou porque a música indie abraçava de vez a estética do “bad boy” melancólico em preto e branco — vide o sucesso geracional de AM (2013), do Arctic Monkeys, e a ascensão de nomes como The 1975 e Cigarettes After Sex. O projeto liderado por Jesse Rutherford se diferenciava por seu estilo californiano adolescente, quase sempre associado a um visual despretensioso.

Contudo, tanto a música quanto a indústria mudaram — e, principalmente, a maneira como se consome e se estabelece conexão com ela. O terceiro registro, Hard to Imagine The Neighbourhood Ever Changing (2018), já expunha ao mundo a autoconsciência dos integrantes logo em seu título; porém, considerando os rumos que o grupo tomou e, sobretudo, seu mais recente álbum, (((((ultraSOUND))))), essa expressão soa mais como uma maldição da qual a banda nunca conseguiu se desvincular.
O quinto disco até começa com boas ideias. A excelente “Hula Girl” evoca algo próximo ao Oasis e já engata no empolgante e honesto trio de singles “OMG”, “Lovebomb” e “Private”, que se afastam do indie e apontam para o rock. Esses primeiros minutos elevam as expectativas quanto ao tom do álbum, mas tudo logo se desfaz e retorna à sonoridade que, de tanto ser replicada por eles, começa a soar genérica e, sobretudo, datada.
A sensação que permanece ao longo do projeto — e que se manifesta como reflexo da própria carreira — é a de que a banda demonstra pouco empenho na busca por uma nova identidade, acomodando-se na imagem atribuída a ela há uma década (e que, para a época, funcionava muito bem). A zona de conforto pode ser traiçoeira e, ao que tudo indica, o The Neighbourhood parece preferir assumir esse risco a inovar.
Aliás, essa crítica não se limita apenas ao som. Ainda durante o hiato, o baterista Brandon Fried foi demitido após um episódio de assédio envolvendo Maria Zardoya, vocalista do The Marías. A surpresa do anúncio do retorno às atividades veio acompanhada da readmissão do músico e de suas levadas de bateria simplistas e, a esta altura, saturadas.
O recado transmitido é que o grupo, para além da música, não demonstra maior interesse em amadurecer e evoluir, mas sim em perpetuar essa persona descompromissada e, em certo ponto, inconsequente. Essa tentativa de emular o “jeito rockstar de ser” pode até funcionar no palco, mas, em todos os demais aspectos que permeiam a banda, soa como algo sem perspectiva de mudança.
A obra ainda apresenta alguns momentos de destaque, com “Planet” e “Mute” despontando nesse platô de ideias repetidas, muito por conta do baixo cheio de groove de Mikey Margott. Justamente por isso, o registro passa longe de ser considerado ruim — até porque, para alcançar tal título, seria necessário um esforço que não se percebe aqui.
Esse gosto que o The Neighbourhood deixa de que sempre poderia oferecer mais começa a se intensificar ao longo de uma discografia que corre em círculos e não parece apontar para lugar algum. (((((ultraSOUND))))) parecia promissor, mas, no fim, apenas expôs o interior do grupo: viver à sombra de seus dois primeiros álbuns e insistir na mesma fórmula na esperança de emplacar novamente.