É muito legal, pra quem acompanha cinema, ver novas carreiras surgindo. Depois da ascensão do new-horror, muitos atores que lá estrearam estão procurando por seu spotlight no mainstream, ou mesmo tentando fazer seu nome no meio crítico. E foi assim que Alex Wolff, o protagonista de Hereditário, fechou parceria com um diretor também de pouca rodagem, Joey Klein, e fizeram “No Fundo do Poço”, filme que estreou em 2019 e foi direto pro Festival de Toronto, distribuído agora no streaming Cinema Virtual.
Sempre achei extremamente interessante filmes que tratam sobre sentimentos inerentes ao ser humano. Castle In The Ground, ou em tradução pro português, No Fundo do Poço, fala justamente sobre um deles: o luto. O protagonista, interpretado por Alex Wolff, é claramente movido pela própria mãe nos primeiros momentos do filme: a sua função é preparar as refeições e remédios dela, levá-la ao médico e participar dos rituais religiosos que também são muito voltados para sua mãe.
Dentro disso, conhecemos a sua vizinha, Ana, interpretada por Imogen Potts, e que representava o oposto do que Henry, nosso protagonista, vivia na casa da mãe. Ana fazia festas extremamente barulhentas e regadas a drogas, e possuía uma personalidade manipuladora e chantagista, perceptível logo na sua primeira cena.
A partir deste cenário, somos inseridos na situação da morte da mãe de Henry, fazendo-o perder então o centro da sua vida. Desesperado para fazer este lugar ocupado, Henry trata Ana como sua muleta, e entra assim em um processo destrutivo e extremamente abusivo de luto. Ana se aproveita da situação da vulnerabilidade de Henry, fazendo-o adentrar ainda mais em um universo até então desconhecido para ele, e se tornando então o novo centro e nova obsessão da existência dele.
Ao longo do filme, percebemos como Henry sutilmente substitui a mãe por Ana, dando-lhe o celular que anteriormente possuía a sua progenitora, deixando de frequentar ambientes que lhe lembravam sua mãe, como os rituais judaicos, e finalmente passando a viver em função de Ana, seja utilizando o carro para leva-la aos lugares, seja proporcionando medicamentos que antes eram usados pela mãe e até roupas.
Temos como principal destaque do filme o ator Alex Wolff, indicado a Melhor Ator no Festival de Toronto por sua atuação. O roteiro também se encarrega de nos mostrar essa dualidade e oposição da Ana e da mãe de Henry, mostrando-nos sutilmente como o garoto deixa de viver para uma e passa a viver para outra, nos inserindo no processo de luto, também assegurado pela cinematografia, que trabalha com tons escuros e muito próximos do preto.
Assim, é um filme que vale a pena ser assistido, especialmente por tratar de um tema tão inerente a nós, mas que nos recusamos a percebê-lo. As atuações são excelentes, o roteiro é bom e a cinematografia manda seu recado. Creio que veremos muito o Alex e o Joey nos próximos projetos cinematográficos, e acreditem: é extremamente satisfatório ver o trabalho dos dois.