O grande salto musical do Nothing But Thieves aconteceu durante um momento tenso para bandas e artistas: durante o ano de 2020, quando uma pandemia travou qualquer um de fazer shows e ficar mais perto dos próprios fãs. Esse salto musical tem mais a ver com o fato do quinteto britânico ter conquistado muito mais pessoas entre aquele ano e seu momento atual.
No final daquele ano, o lançamento do disco “Moral Panic” mostrou uma banda que não se limita a ir de um extremo ao outro no que diz respeito à agressividade em seu som e à forma poderosa de dizer o que pensa. Se uma comparação for feita entre suas eras, é possível perceber que a essência que eles carregam até hoje é a mesma de quando surgiram com seu álbum autointitulado em 2015.
A banda faz pequenas viagens entre subgêneros do rock, como se em cada parada pegasse um pouco para temperar seu som final. Não há um rock ‘puro’ aqui, pois isso seria algo muito básico para um grupo composto por membros tão criativos. Conor Mason, Joe Langridge-Brown, Dominic Craik, Philip Blake e James Price fazem com que suas ideias se unam da melhor forma a cada lançamento, e prova disso foi documentada em uma série de vídeos onde apresentam o processo criativo do mais recente, e também um dos seus melhores trabalhos: “Dead Club City“, lançado em 2023.
É necessário dar uma atenção especial a Dominic Craik, o guitarrista e responsável pelos instrumentos de teclas, que já há alguns lançamentos vem mergulhando cada vez mais nas produções da banda. Uma das maiores qualidades do Nothing But Thieves é sua capacidade de mostrar que pode ir de um ponto ao outro sem problema algum. Enquanto músicas como “Welcome to the DCC” trazem sintetizadores pesados e uma sonoridade que parece saída de uma história cyberpunk, se diferencia bastante de um dos seus maiores hits, “Amsterdam“, e daquela que aposta em crítica social com rock pesado, “Can You Afford to Be An Individual?“.
Tudo isso deixa claro que estamos lidando com músicos que não têm amarras musicais. E se não fosse o semblante tão único e memorável dos vocais de Conor Mason, seria até possível imaginar que são três bandas diferentes com esses exemplos.
Após quatro discos na bagagem, é fácil dizer que o Nothing But Thieves está cada vez mais interessante, principalmente devido às experiências que faz dentro do gênero do rock, no qual eles vêm exercendo um domínio muito interessante. Em todos os lançamentos, é possível apontar e recomendar cada um de acordo com a preferência de um novo ouvinte. Caso o foco seja algo mais próximo do rock alternativo, “Broken Machine” é a melhor pedida, mas os flertes com o eletrônico e até o industrial de forma leve são o que fazem o lançamento mais recente ser o mais acessível.
Independentemente da direção escolhida, sempre há um ponto que faça com que todos os trabalhos se liguem muito bem, isso porque o Nothing But Thieves já se provou como uma das bandas mais atraentes de sua geração, fortalecendo o magnetismo para trazer novas pessoas para seu som.
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Nothing But Thieves se apresenta no Lollapalooza Brasil 2024 no domingo, mesmo dia dos headliners SZA e Sam Smith