Number Teddie é a figura por trás de Geovanne Aranha. O cantor, compositor e produtor musical amazonense de 24 anos fez, com um teclado, microfone e interface baratos e seu notebook, o EP “Eu Nasci um Fantasma”, lançado em 2020. Por trás de seus vocais doces, são ditos versos e estrofes íntimos, teatrais e profundos.
No ano passado, o artista mostrou mais uma nova faceta: a de compor para outros intérpretes. Depois de ‘Racha’, da cantora Urias, a parceria veio em dose dupla e Number Teddie foi um dos nomes envolvidos na composição de ‘Foi Mal’, lançada no final de março deste ano. E ao que tudo indica, ele ainda tem muito mais para nos mostrar!
Ricardo Costa Luna, colunista do ESCUTAI, bateu um papo com Number Teddie sobre inspirações, carreira, compor para outros artistas, seu EP “Eu Nasci um Fantasma” e os planos para o “tão aguardado primeiro disco” na vida de um artista.
Leia a entrevista:
ESC: Quem é o Number Teddie e onde ele se diferencia do Geovanne? Onde eles são iguais? Qual é a origem do nome Number Teddie?
NUMBER TEDDIE: Eu poderia muito inventar toda uma história, mas no final das contas o Number Teddie e o Geovanne são a mesma coisa praticamente. O Number Teddie visualmente é uma versão minha mais fantasiosa, mas no final das contas é mais a forma que eu utilizo para expressar minha arte. E Geovanne Aranha pra mim parece nome de ator pornô, sabe? O nome Number Teddie veio da mistura de duas coisas super refinadas: Lilo e Smith e um porquinho da Índia que eu tinha quando eu era criança. Eu queria um nome que só eu tivesse.
ESC: Você é cantor desde os três anos de idade, e desde muito jovem sempre esteve perto da arte. E até mesmo estudou jornalismo, certo? Qual foi o estalo para falar “eu quero ser um cantor, vou escrever, produzir e lançar minhas músicas”?
NUMBER TEDDIE: Sim! Eu canto desde que eu tinha 3 anos de idade, sempre foi o que eu amei e quis fazer. O mais engraçado é que minha família não é nada artística, mas eu nasci com essa gana. Sempre estudei teatro e dança, e sonhava em ser um popstar que tinha uma série na Disney. Eu sempre soube que eu ia lançar música, até quando eu estudei teatro por anos na adolescência, no fundo eu sabia que um dia eu ia lançar músicas. Desde criança eu escrevia músicas e gravava no gravador do meu Nokia que trocava a capinha eu cantando elas acapella. Então eu indiretamente sabia que um dia ia acontecer
ESC: Você já comentou que decidiu produzir suas próprias músicas justamente porque se não fosse você, ninguém faria isso. Como foi esse começo? Você teve ajuda de alguém para tocar alguns instrumentos, masterizar e fazer ajustes finais nas canções?
NUMBER TEDDIE: Não tive ajuda ALGUMA, ninguém quis me ajudar. Eu lembro que 4 anos atrás eu até tentei falar com uns produtores locais e vários me ignoraram, então eu peguei isso e falei “foda-se, vou aprender do meu jeito”. Tudo que eu tinha e ainda tenho é um teclado, um microfone barato, uma interface barata e meu notebook. E o resto foi eu querendo quebrar o computador, fazendo muita música ruim, me frustrando muito, demorando muito pra fazer tudo e refazendo várias vezes até ficar ok. Aprendi muito, mas não pretendo produzir mais por enquanto (risos).
ESC: Ouvindo o seu EP ‘Eu Nasci um Fantasma’ vemos que é um trabalho totalmente íntimo: alguns temas como bullying, problemas familiares, traumas e o modo que você vê o mundo. Como foi esse trabalho de elaborar um conceito e botar ele em prática?
NUMBER TEDDIE: Foi bem natural. Só saiu mesmo, várias coisas presas dentro de mim que eu não sei expressar falando e nunca soube. Foi muito natural mesmo e foi onde eu vi o que eu curto fazer, que é ser altamente sincero nas minhas letras e foda-se.
ESC: De um lado temos suas letras super pessoais, do outro “Racha” e “Foi Mal” que você colaborou com a Urias recentemente. Tanto nos versos, quanto na sonoridade, parecem bem distantes do seu estilo. Como é o desafio de compor para outra pessoa? Como foi esse processo de compor para a Urias?
NUMBER TEDDIE: Compor para outras pessoas é bem desafiador (e empolgante) pra mim, pra ser sincero. Eu tenho um jeito com várias peculiaridades para escrever, mas eu e a Urias nos damos tão bem e ela é uma artista que sabe tanto o que ela quer falar, que acaba se tornando fácil e divertido demais. Ela é maravilhosa e um amor de pessoa, além da artista incrível que ela é, e eu amo muito escrever com ela e amo tudo que ela é e representa. Sou fã mesmo, criaria um fã clube fácil pra ela.
ESC: Com quem Number Teddie gostaria de trabalhar futuramente, seja na composição, ou até mesmo em um featuring?
NUMBER TEDDIE: Pergunta difícil porque seriam bastante pessoas! Soando muito metido, mas tem artista brasileiro que eu sempre sonhei trabalhar e admirei que eu trabalhei recentemente e digo que VEM AÍ. Sonhando grande, tem essa artista chamada AUDREY NUNA, sonho muito em trabalhar com ela. Queria muito cantar com a Dolly Parton, que é uma das minhas ídolas. Fazer uma música com o Jay Park… com o Travis Barker na bateria, com o Iggy Pop, com a Rita Lee, com o Jon Bellion. Muita gente mesmo. Todos na mesma música, imagina?
ESC: Quais são as suas maiores inspirações? Como conseguimos vê-las nas suas canções?
NUMBER TEDDIE: Eu sempre digo disso e nunca vou me cansar mas o Elliott Smith. Na minha cabeça é bem perceptível o como ele me influencia. Eu sinto que ele me entenderia muito mesmo.
Mas a Dolly Parton por exemplo é uma das minhas maiores inspirações. Minha música Chevette Verde foi inspirada pela música Coat of Many Colors dela por exemplo e a sinceridade dela e a contação de histórias. A Lily Allen me inspira muito e sei lá, minhas inspirações vem do Philip Glass até a Britney Spears. É bem aleatório.
ESC: Acompanhando você pelo Instagram você comentou já ter mais de 40 letras para seu primeiro álbum e que vai ser três vezes mais real. Ficamos curiosos! No seu EP vemos um lado mais melancólico e uma produção mais melódica. Podemos esperar uma continuação ou vem aí uma faceta totalmente nova de Number Teddie? Você pode nos dizer algo?
NUMBER TEDDIE: O famigerado PRIMEIRO DISCO! E quando falo que eu fiz mais de 40 demos pra ele eu não tô exagerando, foram mais de 40 e vai aumentar porque eu não paro de escrever. O primeiro disco é uma coisa muito única na vida de um artista e quero que o meu seja o melhor dos melhores, mas sei que quando eu ficar mais velho eu vou olhar pra ele e sacudir minha cabeça, porém, vou poder dormir com a sensação de “fui muito sincero nele”.
Estou muito empolgado pra lançar esse disco porque vou trabalhar com pessoas que sempre sonhei trabalhar nele. Acho que vai mostrar uma faceta diferente, porque ninguém me conhece (risos). Muitas letras chegam a ser tragicômicas e eu vou falar de tudo: de sexo até amizades, minha saúde mental, traumas. Vou falar bastante da minha saúde mental, de uma forma bem real. A sonoridade vai ser bem cinematográfica e vai misturar muita coisa.
ESC: Uma coisa que chama bastante atenção também é que, além de se autoproduzir, você assina a Direção, Roteiro e Direção Criativa do clipe de “Moleque de Ouro”. Existe algo que Number Teddie não faça? (risos) Podemos esperar mais clipes assim na sua próxima era?
NUMBER TEDDIE: Segue a lista: Matemática básica porque eu tenho discalculia, fato engraçado. Dançar pois sou um péssimo dançarino. Ser organizado. Ser mais sociável e menos ansioso. Manter relacionamentos saudáveis. Não me autossabotar tanto. Parkour.
Com certeza [podem esperar mais clipes]! Eu amo gravar clipes e dirigir, e só não gravo mais por falta de dinheiro, mas vai ter bem mais mesmo! Estava escrevendo o que imagino para os visuais dos próximos trabalhos esses dias, inclusive.
ESC: Ser um artista independente não é nada fácil. Qual conselho você daria para o Geovanne de alguns anos atrás? E o que você falaria para quem ainda precisa de um “empurrãozinho” para se jogar na vida artística?
NUMBER TEDDIE: Ser um artista independente quando você não tem nada é uma merda. Desculpa falar, mas não tem nada de romântico sobre, é horrível e frustrante, e o que segura é o amor pela arte e o feedback de quem ama o seu trabalho, na maioria das vezes.
Meu conselho pra mim de anos atrás seria: seja sincero com você mesmo. Se você não gosta de uma coisa recomece, sem medo. Não coloque no mundo coisas que você não gosta e… continua! Continua muito e se prepara! Nada vai vir de mão beijada, nada vai vir rápido. Serve pra mim agora também (risos). O conselho que eu daria pras pessoas que querem começar é o mesmo que eu dei pro meu eu do passado (risos), com um SÓ FAZ, se todo mundo odiar dá pra apagar. Ninguém vai fazer pra você, no caminho você vai descobrir muita coisa e tem questões que só a prática responde.
Bom, foi um bate-papo incrível! E enquanto o novo álbum de Number Teddie continua ganhando forma, você pode ouvir o EP “Eu Nasci um Fantasma” nas plataformas de streamings e, claro, continuar acompanhando o ESC para ficar por dentro das novidades do cantor e de outros artistas!