O Quarteto Fantástico está de volta às telonas em uma nova versão, outro universo e um novo estúdio! Dia 24 de julho chegou aos cinemas Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (ou Fantastic Four: First Steps), dirigido por Matt Shakman, produzido por Kevin Feige e estrelado por Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach.
Esta é a Terra 828: um planeta em que o Quarteto Fantástico são estrelas, a linha de frente da salvação da humanidade. Além de seus trabalhos heróicos, Susan Storm, a Mulher Invisível, é uma forte representante da diplomacia americana, seu marido Reed Richards, o Senhor Fantástico, um grande cientista; Johnny Storm, o Tocha Humana, permanece como um bad boy e Ben Grimm, o Coisa, o amigo da comunidade. Tudo parece perfeito, até que a enigmática e poderosa Surfista Prateada (Julia Garner), anuncia que a Terra será destruída por Galactus, um ser cósmico que se nutre das vidas dos planetas.
Obviamente, os únicos que podem salvar a Terra é a família de super-heróis, mas surge um dilema quando Galactus se propõe a não destruir o mundo em troca do bem mais preciosos deles: o filho de Susan e Reed. Agora, eles entram um impasse: afinal, eles devem abandonar seu bebê em troca de salvar toda a humanidade? Este é o fio condutor de toda a história.
Uma dos grandes destaques deste filme é o visual retrofuturista, que imagina um mundo futuro com o visual que remete às décadas 1950 e 1960, tal qual as animações Jetsons e Os Incríveis. Ele traz inclusive diversas referências a esse período, como Andy Warhol e Beatles. Apostar neste estilo tornou o longa ainda mais interessante tanto em relação a outras adaptações da família de heróis, quanto ao próprio universo cinematográfico da Marvel, que em sua maioria estava repetitivo.
Em relação aos efeitos visuais, há uma harmonia entre os cenários e os personagens que utilizam CGI e efeitos práticos, como o Coisa e a Surfista Prateada. Mas em relação ao Galactus, há um atrito evidente, pois ele condiz muito mais com outros universos da Marvel.
Quarteto Fantástico e o Dilema do Trem
Como dito anteriormente, o Quarteto Fantástico está vivendo um impasse ético entre salvar toda a humanidade ou então proteger Franklin, o mais novo integrante da família Storm-Richards de ser apoderado por Galactus. Está ponderação já foi analisada pela filósofa Phillipa Foot com o Dilema do Trem, que apresenta a seguinte situação: um trilho descontrolado que pode atropelar várias pessoas ou, se desviado, matar apenas uma.
Esta questão é antiga e muito comum na cultura pop, principalmente em histórias de heróis, isso não a torna mais antiga ou ultrapassada e poderia ter sido muito melhor explorada no filme, principalmente por Reed Richards ser um personagem mais duro, com uma visão mais racional do que emocional, o que infelizmente Pedro Pascal não soube explorar.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos possui destaques positivos na atuação, mas Pascal não é um deles
É inegável que Pascal é competente e muito carismático, mas aqui há muito do ator e pouco do personagem. Em meio a um turbilhão de questões éticas e pessoais, Reed Richards seria um protagonista excelente para esta questão, pois o obrigaria a tomar uma decisão difícil seja ela qual fosse, mas nem o ator, nem o diretor souberam trabalhar isso de forma concisa. Ao invés disso, todo o espaço que poderia ter trabalhado a questão, virou uma barriga no meio do filme para buscar soluções pouco eficazes.
Até Galactus, interpretado por Ralph Ineson, acaba sofrendo um pouco no roteiro. Isso porquê, por ser um longa que os introduz para o MCU, era esperado que os objetivos do vilão estivesse mais delineado — o que não ocorre. Para os amantes de HQ e já introduzidos nesse universo, esse objetivo pode estar mais claro, mas aos desavisados e avulsos, não. Ok, sabe-se que ele é um ser cósmico que alimenta-se de planetas, deseja morrer, mas precisa de um substituto e ele acredita que Franklin deve ser seu sucessor, contudo, não há nenhuma justificativa para a necessidade de um devorador de mundos.
Em contrapartida, Vanessa Kirby é o grande destaque entre o elenco ao apresentar uma Susan Storm cativante, inteligente, ágil e habilidosa. Ela torna-se a maior protagonista do filme por conseguir demonstrar suas habilidades diplomáticas e seus poderes de forma equilibrada e interessante.
O mesmo vale para a atuação de Julia Garner como a vilã Shalla-Bal, a Surfista Prateada A atriz consegue sustentar o peso da história pregressa da personagem, demonstrando seu sofrimento e sua obstinação. Provavelmente, é quem possui o melhor desenvolvimento ao longo do filme.
Quanto ao Johnny Storm, de Joseph Quinn – inicialmente, ele parece um pouco avulso, pois não há momentos dele sendo um eterno bon-vivant, apenas indícios em algumas falas dos outros integrantes. Apesar disso, ele é está bem no filme e, assim como a Surfista Prateada, possui um arco de progresso surpreendente.
É muito difícil avaliar o trabalho Ebon Moss-Bachrach como o Coisa, mas o que pode-se dizer é que a forma como exploram sua personalidade, colocando-o como o herói que tem mais contato com as cidadãos comuns traz uma leveza a questão que sempre o ronda na história: sua aparência.
Em síntese, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos possui alguns problemas relacionados ao roteiro e a atuação, que fazem o filme ficar defasado em pontos críticos. Apesar disso, ele permanece sendo um longa muito divertido, com um visual que encanta os olhos e uma história que merece ser contada — pelo menos agora.