O experimentalismo radical de Meta Golova em seu álbum de estreia, “Tempo Mutilação”

O trabalho propõe uma viagem electro punk multicultural que reflete o universo da Meta Golova

Meta Golova acaba de lançar seu álbum de estreia, Tempo Mutilação. Com sete faixas, o trabalho traduz o experimentalismo levado ao extremo que propõe o duo formado pela performer siberiana Lena Kilina e o pelo músico brasileiro Carlos Issa.

Tempo Mutilação (ou “Время Увечий” em russo) traz melodias emocionantes e faz uma incursão multilíngue no som electro punk, com clima assustador e melancólico, sustentadas pelos vocais profundos de Lena. O projeto é fruto da conexão entre os artistas, que produzem juntos em São Paulo (SP) a cerca de um ano. “Nós somos loucos pelo nosso trabalho e ele mudou drasticamente nossas vidas”, diz a banda.

A poesia do Extremo Oriente e a tragédia urbana são sintetizadas nas composições, refletindo situações contemporâneas como os rastros de uma guerra iminente que a região de onde vem a vocalista enfrenta, e a permanente revolução urbana da cidade de São Paulo, um lugar atravessado por gentrificação e desigualdade.

Desafiando a cultura da submissão às circunstâncias, o álbum incita o público a pensar nas situações trágicas que a humanidade enfrenta, bem como na esperança e na vontade que nos move para as mudanças futuras. As composições são dedicadas à sobrevivência neste mundo insano, escritas principalmente em russo, atualmente a língua dos dissidentes e refugiados, além de uma faixa em mandarim.

A faixa de abertura, “Sharp Stones”, é inspirada na poesia grega e nas questões sacramentais de “quem afiou suas pedras”. “Dusty AC” aborda a solidão do isolamento, quando a vida de alguém está em um espiral intensa e fria. “Na Trone” (que significa “No trono” em russo) fala sobre morte e tristeza à luz da guerra atual. “Female Soldier” também é dedicada à guerra, mas mais ainda à vontade de lutar contra a injustiça. Já “Black Holes” faz analogias não tão improváveis entre o movimento browniano de uma galáxia e as loucas orientações políticas russas.

“发疯的蝙蝠” (“Morcega Psicopata” em mandarim) é um conto sobre um morcego que tem tendências bipolares e não consegue decidir para onde ir entre Xangai e Kiev. A última faixa, “Stairs”, fecha o álbum com esperança para o futuro, baseada em uma história real sobre cair de uma escada chinesa e não quebrar nenhuma parte do corpo.

Tempo Mutilação é sobre som e poesia. As letras não falam de nós, da nossa vida, familiares e amigos, ou dos pequenos prazeres que o dinheiro traz. Elas vão longe, chegam ao topo do cosmos e se espalham por montanhas e vales para voltarem transformadas em visões espaciais e desejos de imensidade”, explica a banda.

O disco está disponível para audição com exclusividade no Bandcamp.

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