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O poder cultural de Hayao Miyazaki

Inserido no poder suave da cultura MAG (mangá, anime e games) do Japão, o animador teve a legitimação de festivais, o contexto cultural e as habilidades artísticas certeiras para alçar o topo do poder cultural em sua área.

“Hayao Miyazaki é o maior animador de todos os tempos.” É como o define Franthiesco Ballerini em seu novo livro Poder cultural – Mecanismos de consolidação do poder da arte e no entretenimento no século 21 (Summus Editorial, 208 p., R$ 81,80). O animador japonês ganhou, no domingo, 11, seu segundo Oscar de Melhor Animação pelo filme ‘O Menino e a Garça’, que conta a história de Mahito, um garoto de 12 anos que luta para se estabelecer numa nova cidade após a morte da mãe e, com a ajuda de uma garça, entra num novo mundo onde sua mãe ainda está viva.

No livro, fruto de cinco anos de sua pesquisa de doutorado, Ballerini esmiúça de que forma Miyazaki se tornou o maior animador de todos os tempos, um artista único legitimado por festivais, inserido no enorme poder suave da cultura MAG (mangá, anime e games) do Japão e hábil como ninguém em traçados e narrativas que revelam seu enorme apreço artístico e autoral. “Miyazaki soube empoderar personagens femininas em todos os seus filmes, algo absolutamente coerente com o contexto atual e à frente da própria realidade conservadora da cultura japonesa”, analisa o autor.

Recluso e avesso a entrevistas, Hayao Miyazaki soube direcionar toda sua energia para as produções de suas obras. “Isso o tornou um artista 24 horas por dia, ao contrário de Walt Disney e Mauricio de Sousa, que dedicaram suas carreiras, também, como administradores de suas próprias empresas, cujos funcionários deram continuidade às suas obras”, explica Ballerini, que também mergulha nas polêmicas envolvendo os custos do controle absoluto que exige sobre suas obras para os colegas que trabalham com ele no famoso Studio Ghibli. O primeiro Oscar de Miyazaki foi com ‘A Viagem de Chihiro’ (2001), que se tornou a maior bilheteria do Japão e bateu os concorrentes norte-americanos ‘A era do gelo’ e ‘Lilo & Stitch’ na premiação.

Poder cultural – Mecanismos de consolidação do poder da arte e no entretenimento no século 21 é uma pesquisa que procura desvendar as seguintes perguntas: por que alguns artistas criam grandes obras, mas passam a vida sem poder? Por que outros artistas produzem trabalhos pouco originais, mas acumulam grande poder? O pesquisador identificou parâmetros e determinou categorias e pontuações que explicam de que forma o poder cultural é adquirido nos campos do cinema, da música, da telenovela, das séries de TV e das animações.

Ao se apropriar do efeito desse poder individual, porém presente em todos os continentes, surge outro objetivo do estudo que é explorar novos horizontes, extrapolando o que ficou estabelecido até a atualidade, ou seja, a predominância da produção norte-americana, europeia e oriental. Segundo Franthiesco, o campo cultural está abrindo-se a conhecer tantos outros talentos que despontam mundo afora: “O objetivo principal desta obra é dar autonomia, emancipar as vozes periféricas das comunidades do sul global, fora do eixo EUA, Europa e Japão, e também valorizar outros polos inexplorados, onde estão produções com menos recursos financeiros, usando sua criatividade e destacando-se como alternativas, mas tão poderosos quanto os tradicionais mercados culturais.”

Por meio de categorias como tempo, conteúdo, contexto, beleza artística e pessoal, espaço, idioma e fama, Ballerini investiga a vida e a carreira de diversos artistas mundiais, mergulhando, então, numa comparação do poder cultural dos animadores Mauricio de Sousa e Hayao Miyazaki, das cantoras Anitta e Dua Lipa, das atrizes de telenovela Adriana Esteves e Thalía, das cineastas Helena Solberg e Safi Faye e dos atores Brad Pitt e Shah Rukh Khan, desvendando os mecanismos que os consagraram no século 21. “É surpreendente o resultado da medição do poder cultural, de entender porque, por exemplo, Thalía é mais poderosa que Adriana, mesmo tendo feito poucas novelas; e também o apagamento do poder cultural da pioneira do cinema africano, Safi Faye. Mas surpreendi-me, positivamente, em constatar que o astro indiano é muito mais poderoso que Brad Pitt”, comenta Ballerini.

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