O que significa a dança de Bella Baxter em ‘Pobres Criaturas’?

Pobres Criaturas já está disponível no catálogo o Star+ e a coreografa latino-americana Constanza Macras conta detalhes sobre a icônica sequência de dança do longa.

Após sua exibição nos cinemas no começo deste ano e da conquista quatro Oscars®, incluindo de Melhor Atriz para Emma StonePobres Criaturas já se encontra disponível no Star+ para apresentar a novos públicos o fascinante mundo de Bella Baxter (Stone). No filme do director Yorgos Lanthimos (A LAGOSTA, A FAVORITA), Bella é uma jovem que volta à vida graças a um experimento do cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe). Com grande desejo de aprender e conhecer mais sobre o mundo, a jovem inexperiente deixa sua casa em Londres para viajar para diferentes cidades, vivenciando tudo isso ao lado de Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado astuto e debochado.

Desde sua estreia nos cinemas, Pobres Criaturas tem registrado inúmeras cenas extraordinárias no olhar do público, entre as quais se destaca o jantar em Lisboa, em que Bella e Duncan protagonizam uma sequência de dança única criada pela conceituada coreógrafa argentina Constanza Macras.

Diretamente de Berlin, onde mora e dirige sua companhia de dança e teatro DorkyPark, Constanza Macras revela detalhes pouco conhecidos do processo de criação da dança de Bella e Duncan.

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Quem é Bella Baxter?

Após colaborar com Lanthimos em seu filme de 2018 A FAVORITA, Macras foi convocada novamente pelo diretor para dar vida à dança de Bella e Duncan. A sequência se passa em Lisboa, a primeira parada na jornada de descoberta da protagonista, que ainda se sente estranha no corpo feminino que lhe foi dado por meio do experimento de Godwin.

Macras diz que Lanthimos compartilhou todo o roteiro do filme com ela, o que a permitiu entender de onde Bella vinha e para onde estava indo, e suas implicações do ponto de vista da dança e do movimento. “Pensei em uma menina que não controla seu corpo, em alguém que tem um cérebro que não é o seu, e que por isso se move de maneira descoordenada”, diz a coreógrafa, acrescentando: “Por outro lado, a dança acontece em um momento em que Bella começa a querer se libertar de Duncan. Ela foi com ele para Lisboa, começou a experimentar o mundo e agora se sente no controle. Ela deixa de ser obcecada por ele. A dança marca essa ruptura”.

O resultado é uma poderosa coreografia que evidencia o primeiro conflito entre os personagens, com influências que vão do tango e do folclore português até o twerking, mas ao mesmo tempo – fiel ao estilo de Yorgos – não se parece com nada disso.

A complexidade de uma cena

A cena da dança, incluindo a luta que vem em seguida também coreografada por Macras, apresentou alguns desafios durante as filmagens. “Nós filmamos em Budapeste em plena pandemia do Covid-19, então os figurantes envolvidos na dança mudavam constantemente porque ficavam doentes e precisavam ser substituídos. Isso significava começar do zero várias vezes”, conta, acrescentando que cada um deles recebeu orientações em húngaro pelo ponto auricular para facilitar o trabalho durante as 15 horas de filmagens necessárias para a sequência. No total, Macras criou três coreografias para os extras, que não eram dançarinos profissionais.

Emma Stone e Mark Ruffalo

A altura dos atores, as características dos personagens, o momento em que a dança acontece dentro da história e o estilo de Lanthimos foram alguns dos fatores levados em conta na montagem da dança de Stone e Ruffalo.

Macras e sua equipe ensaiaram com a atriz e o ator durante duas semanas, o que foi um processo enriquecedor e gratificante para todos. Os artistas contribuíram com suas visões dos personagens e colocaram sua marca na cena. No caso de Stone, sua experiência anterior com dança do filme LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES facilitou ainda mais o processo. Juntos, os artistas trabalharam intensamente para concretizar a visão que Macras e Lanthimos tinham para este momento do filme.

Trabalho com Yorgos Lanthimos

Macras garante que trabalhar com Lanthimos é uma experiência extremamente enriquecedora. Ao contrário das obras teatrais que ela dirige, nas quais tem total controle criativo, o processo cinematográfico a coloca em um lugar diferente. “Aqui, eu sou um instrumento para uma parte de um roteiro que é a visão de outra pessoa. Trata-se de se colocar na engrenagem que é um filme, com muitas partes trabalhando simultaneamente”, diz Macras.

Segundo a coreógrafa, a beleza do trabalho de Lanthimos está no uso do movimento em suas histórias. “A maneira como ele usa a dança não é decorativa. Ela é profunda, graciosa e dramática ao mesmo tempo. Ela tem várias funções dramatúrgicas que acrescentam muito ao enredo no momento em que acontecem. Ele também a usa para marcar reviravoltas nos relacionamentos dos personagens”, explica Macras, e conclui: “Gosto de trabalhar com ele porque ele não tem uma maneira simplista de usar o movimento, muito pelo contrário”.

Da América Latina para o mundo

Ao analisar seu trabalho em Pobres Criaturas e no restante de suas obras, Macras não hesita em dizer que suas origens latino-americanas permeiam tudo o que ela faz. Ela diz que suas criações estão repletas de referências a textos, músicas e outras formas de arte argentinas e sul-americanas, mas acredita que a marca que deixa vai além. Nesse sentido, ela conclui com orgulho: “A maneira como me movo e a maneira como penso sobre o movimento tem a ver com a minha origem. Embora eu viva na Europa há mais de trinta anos, minhas origens estão em tudo o que faço”.

Pobres Criaturas já se encontra disponível no Star+. 

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