Hoje, é essencial dialogar com uma juventude que busca conversas irreais sobre os maiores clichês da vida, já que, de fato, o digital interfere na experiência de sentir algo ao vivo. Como essa mensagem chegará ao jovem (e, às vezes, ao adulto), o formato acaba não sendo tão relevante. No entanto, há uma chance muito maior de isso atingir seu público quando embalado pela música. Olivia Rodrigo exemplifica isso perfeitamente.
Seja mediante uma banda ou um único artista, o jeito de conversar com uma comunidade que busca por conforto dentro de músicas que especifiquem exatamente como essa tribo sente-se mudou. Ou busca-se representação em pessoas que já foram jovens efervescentes e que colocaram em suas obras toda a paixão disso ou abraca-se as tentativas mais novas que bebem dessas fontes. E lá em 2021, com um boom repentino que nunca foi embora desde então, Olivia Rodrigo mostrava o quanto isso era possível: homenagear seus ídolos e traçar como são as dores em crescer para um público que precisava ser escutado.
O que ela faz após o lançamento do primeiro single do debut álbum, SOUR, é de verdade, primoroso. É muito de “deja vu” que concentra a faceta dolorosa, estilosa e fofa do amor para qualquer idade que a artista coloca em prova e celebra a força que Olivia é para seu público. E diga-se, essa é certamente a sua melhor música.
Vários outros fragmentos do seu primeiro álbum colocam em ênfase um radical soft completamente fresco e extremamente bem feito: “good 4 u”, “jealousy, jealousy” e a pacífica “favorite crime” soam exatamente como uma artista que quer esbravejar seus contos e desventuras amorosas exigem soar.
O mais interessante é reparar em como essas canções hoje tem gosto e som de nostalgia, mesmo sendo tão recentes. Quando observamos o ainda mais recente, mesmo que isso seja notável bem nas partes internas, GUTS (de 2023), o ciclo em entregar faixas bem produzidas e uma costura rígida nas dores que ela exprime como ninguém, atualmente é justamente tão bom quanto tudo que ela entregara antes disso.
Claro, se houve uma digestão diferente quando comparamos com o debut, mas ainda há o singelo coração de Olivia em canções puras como “all-american bitch” ou “pretty isn’t pretty”. O maior acerto vem quando ela decide soltar o acústico por completo e adicioná-lo numa camada mais eletrônica para refletir, em contrapartida, com seu projeto anterior.
Definitivamente o sentimento de pertencimento a quem Olivia Rodrigo destina suas músicas não têm idade, mas não dá para negar que há uma esfera muito particular que se espelha em suas traduções de amor e, dentro da arte, talvez não haja coisa mais bonita. É simplesmente imensurável escutar ou ver uma obra e se sentir minimamente representado; o sentimento em saber que alguém como Olivia passa por situações que envolvem autoestima, amizades e amor soa sensível, mas antes de tudo, real, independente da forma que isso ganhe forma.
O mais importante é saber que essas faixas e todo o trabalho da artista alcança um tipo de gama que acha que aquela dor mais aguda nunca pode ir embora. Não sabemos até onde essas músicas chegam, mas sem dúvida elas fazem algumas pessoas terem força.
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Olivia Rodrigo estreia sua sonoridade no Brasil com um show inédito no Lollapalooza 2025, no dia 28 de março (sexta-feira). Ela será uma das atrações principais, dividindo o palco como headliner com Rüfüs Du Sol.