Uma coisa que nunca mudou no mundo da música é a famosa pressão sobre o segundo álbum da carreira, principalmente quando se vêm de um primeiro tão bem sucedido. Gravadoras lidam com aquele medo gigante de um próximo trabalho não ter uma boa aceitação quanto o primeiro, enquanto o artista luta para conseguir provar que seu acerto anterior não foi questão de sorte, e que uma continuação pode ser a forma de mostrar que veio para ficar.
Outra coisa que parece não ter sumido é a pressão nessas pessoas com pouca idade; por um lado existe a discussão de que um trabalho tão explorador e desgastante como o de performer no mundo da música possa matar anos de quem deveria estar simplesmente curtindo a vida, enquanto do outro temos o ponto de vista de quem quer tanto ser artista que se a chance disso acontecer minar qualquer tipo de vivência adolescente normal, então que seja o preço a ser pago.
Em 2000 uma das maiores cantoras pop de todos os tempos tinha apenas dezenove anos, já lidando com uma fama tão avassaladora que seria impossível não ter medo de como seu segundo disco se sairia. Mas ao contrário do que poderia estar sentindo, era no sorriso e jeito de menina saída do sul dos Estados Unidos que a confiança de que um bom trabalho viria era constatada. A música pop daquela época tinha uma forma muito mais básica do que agora, a sua aceitação era muito mais natural, então não era necessário um grande feito musical para chamar atenção ou convidar ouvintes para discografias bem executadas. Mas se tem uma coisa que o país mais poderoso no mundo adora é uma imagem do que seria sua (contestável) perfeição. Se há alguns anos Taylor Swift era vista como a garota americana modelo, ela não foi a primeira a ser apresentada como tal.
Britney Spears foi o primeiro ato moderno do que era a personificação visual perfeita de como os EUA viam algo como um produto de exportação cultural, e em maio daquele ano era hora de mostrar que o mundo não estava lidando com alguém passageiro… e sim uma futura potência pop que persiste até hoje.
‘Oops!… I Did It Again‘ mostra a força que uma faixa-título pode ter para carregar um disco inteiro.
Oops!… I Did It Again foi lançado em 16 de maio de 2000 com uma expectativa gigantesca, que facilmente foi atingida, atestando tal qual era o poder que a cantora tinha no mundo da música, e essa potência era afirmada logo na faixa homônima de abertura: ‘Oops’, como é carinhosamente lembrada, é um dos maiores exemplos de como criar uma canção pop sem defeitos. Se nos dias atuais essa denominação é lembrada com Bad Romance ou Teenage Dream é necessário entender um pouco como cada música funciona em sua época. Ter uma faixa que é dita como perfeita no seu gênero não significa apenas que ela é uma boa canção, seu impacto e como a sonoridade foi apresentada na época têm pesos a serem levados em conta. Mas a maior prova é algo impossível de acontecer durante seu lançamento, é perceber o quanto dura sua longevidade nos tempos que viriam. Vinte anos após seu nascimento ainda é possível ouvir ‘Oops’ como se tivesse chegado ontem, devido seu frescor como música pop a transformar em algo tão importante até hoje. Não existe uma coisa que seja fora de sintonia ou exagerada, desde os vocais e firulas da cantora, passando pelo icônico vídeo e a produção das mãos de ouro de Max Martin.
O disco continua levemente repetitivo durante suas doze faixas, mas os toques semelhantes em produções e temas recorrentes nas letras soam como uma grande extensão do que o gênero teen pop limitadamente oferecia. Até no cover de ‘(I Can’t Get No) Satisfaction’ é possível perceber que o intuito foi colocar um emaranhado de canções feitas por produtores diferentes em uma única caixa. Se isso funcionaria hoje em dia é difícil prever, provavelmente sim… visto que outras cantoras tendem a fazer algo semelhante e ainda sim se saírem muito bem. A dualidade entre ser uma garota buscando empoderamento ou demonstrar fragilidade são o combustível de praticamente todas as músicas. Se em ‘Lucky’ ela mostra que já tem noção de um lado obscuro pessoal causado justamente pela carreira, em ‘Stronger’ ela vai contra a próprio letra do seu single de estreia dizendo ‘minha solidão não está mais me matando’. Se naquele momento os fãs achavam que tudo não passava de liberdade poética, foi com o tempo que descobriram que infelizmente era apenas um presságio de uma carreira que lidaria com tantos altos e baixos em relação a música e principalmente vida pessoal.
Além de seus singles também existem momentos que fazem no mínimo o ouvinte balançar um pouco a cabeça. Como em ‘Don’t Go Knockin’ On My Door’ e ‘What U See (Is What U Get)’ que caem exatamente no conceito de semelhança com as outras faixas. ‘Don’t Let Me Be The Last To Know’ apresenta outra coisa que a cantora sempre se deu bem, baladas que o que tem de bregas também tem de bonitinhas e viciantes.
Mesmo com uma pressão interna e externa em relação ao segundo disco, Britney Spears consegue fazer um trabalho decente.
Analisando o disco no passado e presente é perceber que ele ainda sai com resultados positivos em ambos os tempos. Para a sua época foi um projeto sólido e que serviu para mostrar que o público estava lidando com uma titã da música, e ouvir agora é perceber que mesmo não sendo um dos trabalhos mais fortes da cantora ainda é algo necessário para ela ter se tornado o nome de hoje. Oops!… I Did It Again foi esperto em escolher as melhores canções como músicas de trabalho, essa força fez com que algumas mediocridades fossem esquecidas das outras faixas, balanceando de forma justa. Britney Spears ainda teria muito a dizer e traria algumas inovações no seu trabalho, mas além da sua contribuição para a música é necessário aclamar o quanto sua personalidade a levou tão longe.
Em um momento em que praticamente nenhum artista vive sem uma dose de ódio, a cantora segue sendo uma das personalidade mais simpáticas, mesmo passando por tantos problemas. Se tem algo que seus fãs nunca podem reclamar é o fato dela sempre seguir de cabeça erguida mesmo em momentos difíceis, sendo notável que é da música que ela tira tanta força para continuar.