Opinião | Prepare para se aventurar novamente com adaptação de “Wicked” em São Paulo

“Wicked”, uma das produções mais amadas do Brasil, retorna a uma curta temporada completamente repaginada

Existem muitas maneiras de se contar uma história. Existe quem gosta de seguir a risca o que foi contado e reproduzi-la, sem acréscimos, mantendo-se fiel ao material original, e tem aqueles, mais ousados, que pegam a história e a elevam a um novo patamar, exatamente como o Atelier de Cultura fez com Wicked. Eles estudaram a obra na sua versão original e escutaram os conselhos de quem a criou, Stephen Schwartz, trazendo aos palcos do Teatro Santander uma das versões mais originais que podíamos ter desse clássico moderno do teatro mundial.

Para quem não conhece a história, aqui acompanhamos a trajetória de Glinda e Elphaba. Podemos ver como se conheceram e o desenrolar dessa amizade, ainda na adolescência, que culminou nos acontecimentos já contados em O Mágico de Oz. A produção em si é inspirada no livro Wicked, de Gregory Maguire e distribuído pela Editora Leya. Já o musical conta com letras e músicas originais do gênio do teatro Stephen Schwartz. Wicked já ganhou uma montagem no Brasil, em 2016, e fez uma temporada de sucesso. Agora, em 2023, ganha uma nova produção, que mantém a história e as músicas, mas apresenta novos cenários, figurinos e diferentes atores em cena.

Esse texto não vai fazer longas menções à produção de 2016 por um motivo muito simples: aqui , em 2023, temos uma nova produção e uma proposta muito mais original do que as que existiram, tanto no Brasil, quanto no mundo. As únicas coisa mantida são a história e as músicas. O restante é todo novo e reimaginado. Temos cenários novos, figurinos novos, atores novos e muitas coisas a mais. É uma completa nova aventura que está incrível e que vale ser vivida.

Um dos principais pontos altos dessa produção é, sem dúvidas, o retorno da Vânia Pajares com a direção musical do espetáculo e também ocupando a posição de maestrina. Ela executa seu papel com uma excelência incrível e empresta todo seu talento à produção, assim como fez na primeira montagem, dando vida e forma ao trabalho igualmente genial dos versionistas Victor Mühlethaler e Mariana Elisabetsky, responsáveis por traduzir as versões da Broadway para a produção Brasileira.

O Ensemble dessa produção conta com nomes como: Bia Castro, Pâmela Rossini, Aline Serra, Verônica Goeldi, Amanda Döring, Mari Rosinski, Éri Correia, Cláudia Rosa, Gisele Alfano, Larissa Grajauskas, Gabi Germano, Mariana Montenegro, Murilo Ohl, Paulo Grossi Renan Rosiq, Robson Kabelo, Marco Azevedo, Bruno Ospedal, Diego Velloso, Danilo Santana, Alicio Zimmermann e Danilo Martho. Todos são muito bem utilizados ao decorrer da história, seja nos momentos da escola ou quando se tem uma multidão de cidadãos de Oz. É lindo observar como cada ator dá vida ao seu personagem. Éri Correia, em diversos momentos, diverte o público fazendo uma crente nos momentos em que Glinda faz os seus pronunciamentos, ou Pamela Rossini que traz uma grávida divertidíssima ou uma professora cheia de caras e bocas, Aline Serra e Murilo Ohl fazem uma dupla de “mean girls” capaz de tirar gargalhadas de qualquer um. Esse ensemble inteiro traz detalhes peculiares. É mágico poder acompanhá-los e é incrível como foram capazes de criar uma história pra cada cidadão falando e mostrando tão pouco.

Um dos personagens principais, depois das protagonistas, é Nessa, que aqui é interpretada brilhantemente por Nayara Venancio, que acaba trazendo mais camadas para essa personagem tão emblemática da história. Além de impressionar com seu canto, ela empresta à personagem todo seu trabalho de dança, tendo um momento seu com uma performance completamente hipnotizante. Nayara deu um show digno de protagonista com sua interpretação da música “A Bruxa Má do Leste”.

Seu par na maioria das cenas é Boq, interpretado pelo talentoso Dante Paccola, que se entrega pro personagem e traz toda comédia e drama necessários. É divertido acompanhar a evolução do Boq nessa produção. No diálogo final que ele tem com Nessa, é de arrepiar ver seu discurso de “oprimido”. O trabalho de canto do ator não deixa a desejar em nenhum momento. Todo esse conjunto faz com que ambos tenham uma boa conexão entre si, mesmo não precisando de uma certa química, eles mostram um bom entrosamento no palco.

Toda a cenografia aqui é inédita, nada parecido foi feito em outras produções de Wicked. Por se tratar de uma Non Replica, a produtora teve toda a liberdade criativa e conseguiu desenvolver uma nova experiência para um dos musicais mais amados do mundo e que eles sabiam que seria um grande desafio. Qualquer coisa que não fizesse sentido iria saltar aos olhos de quem se apaixonou pela história em 2016. Dos figurinos aos cenários tudo mudou e mudou pra melhor. A história ganhou nuances mais modernas e conseguiu se igualar bem à grande produção.

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A caracterização é um dos pontos altos dessa produção, especialmente o Dr. Dillamond, interpretado por Cleto Baccic e da enfermeira que dá a luz a Elphaba no começo do primeiro ato. Ambos estão usando próteses que fazem referências animalescas de bode. A maquiagem está impecável. Cleto traz um Dr. Dillamond especialmente interessante e a todo momento conseguimos sentir o medo do personagem, principalmente em momentos de falha da fala.

O antagonismo dessa história fica por conta da Madame Morrible, interpretada pela Diva Menner. A atriz empresta todo seu talento e executa com excelência tudo que é pedido pela personagem. O Mágico de Oz, interpretado pelo ator convidado Marcelo Médici, conhecido por seus trabalhos na Rede Globo, aqui dá vida a uma das figuras mais importantes da história. Médici demonstra completo controle na sua atuação, principalmente nos momentos cômicos, e conquista o público com poucas falas.

A cenografia do musical tá um espetáculo. Desde o primeiro momento até o final do segundo ato sempre surpreende, seja pelo conjunto de elementos ou pelo fator surpresa, para todo lado que você olha dá pra ver detalhes sendo sempre muito bem utilizados. Nessa montagem temos o cenário indo de ponta a ponta do palco do Teatro Santander, fazendo-se aproveitar de cada milímetro. Quando chegamos na cena da escola, preenchemos os olhos com toda a beleza, tanto das projeções do telão, quanto dos elementos em cena, e o mesmo acontece quando vamos para a Cidade das Esmeraldas, todo o número musical da chegada é divertido e cativante de assistir.

As protagonistas desta produção são as mesmas da montagem de 2016, porém é importante destacar que Myra Ruiz e Fabi Bang apresentam uma clara evolução em suas performances. Em 2023, ambas demonstram uma maturidade e talento ainda mais evidentes. Myra, que recentemente brilhou no musical Evita, comprova seu inegável talento, enquanto Fabi encerrou com sucesso uma temporada de A Pequena Sereia. A química entre as duas é impressionante, especialmente nas músicas “Ódio” e “Popular”. Agora, Bang e Ruiz conseguem se superar a cada apresentação, desde o primeiro ensaio com plateia até o último, era gritante a evolução da dupla. Todas as trocas que elas têm em palco é lindo de se assistir e acompanhar essa amizade de Oz já vale todo o ingresso.

Um dos momentos mais marcantes do musical é definitivamente o voo da Elphaba durante a música “Desafiando a Gravidade” e aqui temos algo pouquíssimo visto em produções semelhantes. É algo realmente mágico de se assistir e cumpriu com toda e qualquer expectativa de fã sobre essa cena tão clássica do teatro.

O desempenho de Tiago Barbosa como Fiyero é um dos pontos altos de Wicked, completando o trio de protagonistas com um conflito amoroso envolvente. Tiago é um dos nomes mais famosos do teatro musical brasileiro, tendo atuado em produções de destaque como O Rei Leão, aqui no Brasil e em Madri, e Kinky Boots também na Espanha. Como Fiyero, ele traz uma interpretação divertidíssima e imprevisível, dando ainda mais vida ao personagem. Seu talento cênico é indiscutível e contribuiu significativamente para o sucesso desta montagem de Wicked.

Hoje Wicked pode ser considerada uma das obras mais clássicas do teatro musical moderno e é inegável o sucesso de sua história, que não fica presa no amor romântico de uma mulher para seu/sua parceiro/a. Nesta obra acompanhamos o surgimento de uma amizade de duas mulheres fortes e corajosas, dispostas a lutar a fundo pela amizade uma da outra. Talvez seja por isso que essa produção é uma das mais populares, porque foge do padrão de “amor” que costumamos assistir por aí.

A produção de Wicked é uma coprodução entre o Atelier de Cultura e o Instituto Artium de Cultura, com a realização da Secretaria Especial de Cultura e Ministério do Turismo. A equipe técnica da peça conta com grandes nomes da indústria, como Stephen Schwartz nas letras e músicas, Winnie Holzman no texto e Gregory Maguire como base do romance. A produção original na Broadway foi realizada por Marc Platt, David Stone e Universal Stage Productions, com direção de Joe Mantello e orquestração de William David Brohn. Além disso, a peça conta com a direção geral de John Stefaniuk, direção musical de Vânia Pajares, cenário e figurino de Morgan Large, coreografia de Floriano Nogueira, design de maquiagem de Joe Dulude II, design de perucas de Feliciano San Roman, design de luz de Ben Cracknell e design de som de Gastón Briski. O Instituto Artium de Cultura é responsável pela realização da peça e conta com uma vasta experiência em produções teatrais de grande porte.

“Wicked: A História não contada das bruxas de Oz” estreia no dia 09 de março de 2023, de quinta a domingo no Teatro Santander em São Paulo, ingressos já estão disponivel a vendo pelo site da b ou nas bilheterias oficiais do Teatro, para mais informações acesse as redes oficial ou o site da produção.  

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