Percevejo adiciona humor e crítica ao rock em “Infestação de Percevejo é Coisa Seríssima”

Percevejo experimenta com sonoridade do pop rock no primeiro álbum e resultado vai do despretensioso ao romântico.

Infestação de Percevejo é Coisa Seríssima é o primeiro álbum da banda fluminense Percevejo, que desembarcou nas bibliotecas virtuais em 28 de novembro. Formado em 2023 por Bruno Falque (baixo), Iuri Chicharo (bateria) e Yuri Neri (guitarra e vocais), o trio transforma o caos cotidiano do Rio em um pop rock carinhosamente crítico e bem-humorado, que ri dos próprios perrengues e, ao mesmo tempo, encontra beleza no improvável.

O disco foi gravado entre 2023 e 2025, em sessões feitas nos finais de semana ou depois dos expedientes, enquanto os integrantes tentavam conciliar suas rotinas de trabalho e estudo com a agenda de Sidney Sohn Jr., responsável pela produção, mixagem e masterização. Com exceção da faixa “Três”, todas as músicas foram compostas em 2023 — ano em que os integrantes se conheceram — e começaram a ser registradas no mesmo período.

Por isso, o álbum conserva o ímpeto criativo e a energia inaugural daquela amizade que ainda estava nascendo. “Antes mesmo de ensaiar de verdade, a gente já estava gravando. Queríamos capturar aquele primeiro impacto de compor e tocar juntos”, diz Bruno.

Bruno é de Campo Grande, Iuri é de Nova Friburgo e Yuri é de São Gonçalo, três origens que desenham um triângulo de experiências dentro do estado e dão origem ao Guanabara Rock, termo criado pelo trio para definir a identidade sonora de quem é fluminense, mas está longe dos cartões postais da Cidade Maravilhosa.


Essa ideia já aparece na faixa de abertura, também chamada Guanabara Rock, que funciona como um mission statement: versos como “‘nóis é’ surf rock, mas o Hawai é a Baía de Guanabara” deixam claro que o Rio retratado aqui não é o mesmo de “Garota de Ipanema” ou “Samba do Avião”. “Toda música, algumas mais diretamente, outras menos, fala sobre o subúrbio de alguma forma”, afirma Yuri. Essa relação faz com que o cenário suburbano seja protagonista até mesmo em faixas mais despretensiosas e românticas, como “Espaço-tempo” e “Dengue”, que vêm logo depois de “Guanabara Rock”.

Na sequência, músicas mais contemplativas — “O Lado Escuro da Rua”, “Cidade-satélite” e “Nós” — aprofundam o conceito do disco, criando metáforas que aproximam o dia a dia metropolitano de referências cósmicas. Nesse pequeno exercício de realismo fantástico, falhas no asfalto viram crateras no lado escuro da lua e cidades que por muito tempo foram chamadas de “cidades-satélites” passam a orbitar como satélites de verdade.

“Incendiário” e “Três” intensificam as guitarras e dão voz às dores por paixões mal sucedidas. As duas se tornaram as queridinhas do público no primeiro show da banda, realizado em setembro, na Audio Rebel, tanto que acabaram sendo repetidas. “Não tinha nem bis planejado, mas a galera animou e a gente tocou de novo”, lembra Iuri.

A trindade final — “Fome de Feijão”, “Bardobiu” e “Jet Skis” — reúne canções etilicamente inspiradas, fechando o disco como um brinde às pequenas epopeias urbanas que nascem entre bares baratos, ruas alagadas e histórias que só fazem sentido depois do segundo copo.

E foi justamente em um desses ambientes que surgiu o nome do álbum. Em 2024, um tuíte sobre uma infestação real de percevejos em cadeiras de madeira no Centro do Rio viralizou rapidamente. Apesar da seriedade do assunto, o tom da publicação era involuntariamente cômico — uma comicidade meio trágica, que combina com o espírito do disco. “Roubamos a frase”, resume a banda.

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