Queen Stars Brasil é um sucesso em potencial com Pabllo Vittar e Luísa Sonza

Com surpresas gratas e falhas de iniciante, Queen Stars Brasil garante boas horas de diversão e aponta um futuro delicioso para o formato


O novo reality da HBO, Queen Stars Brasil, já vem rendendo uma série de opiniões. São 8 episódios de aproximadamente 50 minutos disponíveis na plataforma da HBO Max. Caso você não seja assinante, é possível assistir ao primeiro episódio gratuitamente. Nele, 20 drags competem para se consagrarem parte de um trio de vencedoras que leva pra casa 100 mil reais cada e um contrato com a Universal Music, gravadora de grandes artistas do cenário pop.

O programa iniciou seu caminho com uma divulgação pesadíssima, com Luisa Sonza e a maior drag do mundo, Pabllo Vittar, no comando da apresentação. O show angariou os olhares do público que já curte o trabalho das cantoras e conhece a parceria já explorada pelo Multishow e nos sucessos “Garupa” e “Modo Turbo”.  

Imagem: HBO Max/Warner Media (reprodução)

Somado a isso, todo e qualquer reality que se proponha a realizar uma disputa entre drag queens será inevitavelmente comparado e analisado frente ao icônico RuPaul’s Drag Race, o pioneiro desse ramo, gerando curiosidade aos olhos do público que já conhece o último.

Apesar das comparações, Queen Stars propõe algo bem diferente do reality estadunidense. O programa foca mais nas apresentações das queens, avaliando as performances em termo de vocais, coreografia e atuação. Diferente de RuPaul’s, onde também são avaliados os figurinos e a eliminação é determinada pelo clássico LipSync.

Ainda que diante de um potencial gigantesco, percebe-se no Queen Stars uma falha grave em termos de edição. A necessidade de fazer caber um conteúdo extenso em 50 minutos de episódio fez com que a equipe apelasse para cortes grotescos que dificultam a experiência do programa e comprometem a narrativa. Muitas performances e comentários dos jurados acabaram resumidas em pequenos takes que dificultavam o entendimento do público sobre as escolhas dos jurados ao final.

Imagem: HBO Max/Warner Media (reprodução)

Voltando aos comparativos, como uma espectadora de RuPaul, sinto falta de um espaço maior para conhecer as drags que fazem parte do programa, aquele típico momento “chororô” no backstage que vemos em quase todos os episódios do reality estadunidense. Apesar de ser uma experiência divertidíssima de nos deliciar com os hinos pops e o humor LGBTQIA+ brasileiros, ao final do programa senti falta de conhecer melhor quem eram minhas favoritas. Afinal, o trabalho de uma drag queen permeia lugares muito mais vastos que apenas o da performance. Todas aquelas artistas trilharam caminhos de luta e enfrentaram preconceitos pra que hoje pudessem estar se apresentando em um palco com brincadeiras divertidas e supostamente despretensiosas. Por trás desse humor drag marcado tem histórias inspiradoras dignas de tempo de tela.

Fica o convite, inclusive, para quem quiser conhecer melhor o trabalho das drags participantes: @aimeelumiere, @arquiza_, @ash.extrava, @dacotamonteiro, @di_egomartins, @divannamontez, @fabiochiamenti, @ivana.conda, @kathamaathai, @leyllahdiva, @egualuka, @luwibloom, @mercedezvulcao, @najawhite, @ohanaazalee, @ravelloficial, @reddyallor, @sarahvikaqueen, @sashazimmer e @wesdrag.

Nesse sentido, dou destaque a um dos momentos mais potentes dessa primeira temporada: a apresentação da queen Leyllah Diva Black no 6° episódio da canção “Flutua” do Johnny Hooker, que emocionou os jurados e trouxe pro palco a força da arte drag nas palavras inclusive, da apresentadora Pabllo Vittar. Nesse momento, o programa escancara uma potência inexplorada no outro reality de referência, esse lugar implicado e sensível da apresentação e dos jurados.

Imagem: HBO Max/Warner Media (reprodução)

A escolha dos jurados, tanto os convidados quanto os fixos, é super pertinente e traz um viés mais técnico as apresentações. Vanessa da Mata, Tiago Abravanel e Diego Timbó são três artistas que além de dominar o universo performático se relacionam positivamente, de diferentes formas, com o universo LGBTQIA+. O mesmo vale para os convidados, Duda Beat, Liniker, Preta Gil, Hugo Gloss, dentre outros, que são responsáveis por agraciar o programa com suas personalidades marcantes e domínio técnico.

A apresentação de Pabllo e Luisa é uma boa aposta, porém, ao meu ver, ainda pouco explorada. Quem já conhece o carisma das apresentadoras pelas redes sociais e demais participações em programas, sente falta dessa presença aparecer mais nos palcos do Queen Stars, o que talvez seja uma questão de tempo para que as cantoras se soltem mais diante das câmeras. Pabllo parecia mais a vontade e arrancou boas risadas com seu jeito irreverente, já Luisa soou inibida e se escondeu um pouco sobre o protagonismo da drag.

Por outro lado, o programa acerta ao trazer bordões e frases prontas que trazem identidade ao programa, tal qual o consagrado “Shantay you stay”. É inevitável dizer como a utilização desses jargões e expressões LGBTQIA+ brasileiras, como o “virar purpurina” ou “gongar”, aproxima o reality do seu público alvo. Assistindo RuPaul’s, muitas vezes algumas piadas acabam sendo perdidas pela tradução ou mesmo por pertencerem ao humor estadunidense. Um show brasileiro, portanto, possibilita uma divulgação e até mesmo a consolidadação de uma identidade que já é nossa.

Imagem: HBO Max/Warner Media (reprodução)

Dentre erros e acertos, o reality escancara a potência da arte drag, que apesar de estar ganhando espaço no Brasil na figura da própria Pabllo, além de Glooria Groove, Lia Clark entre outras, ainda encontra suas principais referências no exterior. Esse vazio de representação se dá especialmente na esfera audiovisual e, portanto, nada melhor que um reality show capaz de unir as facetas cômicas, dramáticas e artísticas do mundo drag para trazer a tona a força dessas manifestações artísticas, retira-las de um lugar muitas vezes demonizado e incompreendido e acima de tudo, divertir e emocionar.

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