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Crítica | 5 anos de “Blonde” de Frank Ocean

Lançado em agosto de 2016, o segundo álbum de Frank Ocean completa 5 anos e agora soa como esperado: surreal.

As três primeiras canções (“Nikes”, “Ivy” e “Pink + White”) do “Blonde“, segundo disco de estúdio de Frank Ocean (lançado há 5 anos), projetam uma eternilização rara de momentos do artista. A maneira etérea que ele se dirige ao ouvinte para tornar nossa, as suas fragilidades, é voraz. Por beiradas fantasiosas ele recita “Pink + White” inteira como se fosse possível apalpar com os olhos fechados uma memória sua. Os vocais lavam a alma junto de versos como “You showed me love / Glory from above” e “Remeber life / Remember how it was”; que emplacam camadas sonoras de fazer levitar.

Essas sensações de viver o sonho, apenas de maneira musical, nas obras de abertura são mágicas e curiosamente rondam o disco inteiro, que se faz por meio de dualidades um projeto marcante. É como se Ocean ousasse em contar uma profecia por entre as vidas densas e intoxicantes do trabalho; que a todo o momento mostra-se cheio de intrigantes traços que demonstram-se ser mais do que necessários para uma estrela. 

Aqui, acima de tudo, ele apenas remenda fragmentos épicos que se mostram ser um só. Fator esse que vem precedido pela questão do nome do álbum ser “Blonde” e na capa termos “Blond”. Talvez seja para mostrar na narrativa uma dualidade que preza o mutável. “Be Yourself”, interlúdio com a mãe do artista, e “Solo”, funcionam juntas para mostrar isso. São diferentes, mas unidas parecem uma só. A melodia fatídica da canção ganha uma vertente poderosa e rápida em “Solo (Reprise)”, que concentrando os versos de André 3000 a um piano brilhante, soa icônica e espinhosa, mesmo tendo menos de um minuto e vinte segundos. O instrumental? É fabuloso.

O mesmo quesito quanto ao instrumental se programa por “Self Control”. Que eclode por vias baixas para dar espaço a uma balada majestosa de fazer chorar, dependendo em quais pontos ela imerge ao se escutar. “Pretty Sweet” possui uma diagramação quase que com a mesma rota, aquela que coloca vozes no coração e faz você sentir vibrações. A agitação que se move para o final junto do coro toca no âmago.

Quem vem a seguir é “Facebook Story”, que se molda pelo mesmo magnetismo do primeiro interlúdio. Ambas vêm separadamente para mostrar sem preocupação alguma como os ajustes do álbum amarram todas as peças. Surpreendente como um homem falando sobre como seu relacionamento fica prestes a cair devido à rede social é comovente e cheio de apelos internos. “Close To You”, que vem para fazer resgatar os “supercuts” (como diria Lorde) de uma relação é íntima e possui o relato sonoro e lírico mais perspicaz do registro. É super recomendado escutar com atenção e na melhor qualidade possível.

Imagem: Frank Ocean/Wolfgang Tillmans

Good Guy”, que se junta ao compilado de canções de pouco mais de um minuto, traz apenas acordes de órgão instáveis, nada demais. Indo totalmente fora da linha de “Nights”, a música mais marcante do repertório de Ocean e do projeto, que evoca o melhor pelas mudanças tonais repentinas na metade e dão uma cor viva aos tecidos da faixa, que rapidamente se infiltram por todos os lados.

Passado mais de 10 músicas até a citada acima, é possível entender que absolutamente todos os caminhos que Ocean tomou para esculpir o “Blonde” são decisivos e cirúrgicos quanto a fazer com que quem o escute, entenda que o projeto é dele. Há as camuflagens quanto aos convidados, que vem para retratar o objeto como inteiramente seu, pois qualquer obra possui no seu interior as mais das íntimas naturezas do criador.

White Ferrari” começa o processo de finalização. Seja pelo seu tom extremamente melancólico que faz refletir ou pela sua única linha de som que se degrada como uma instrumentação lo-fi, ou ainda pelas melodias cristalinas maravilhosas. “I’m sure we’re taller in another dimension / You say we’re smaller and not worth the mention” dói quando Ocean canta em tons baixos com uma alteração na voz seguida de quase uivos no fundo. É o ponto mais explicitamente preciso quanto à produção e todos e quaisquer artifícios técnicos vistos no álbum.

Seigfried” possui tantas nuances e camadas diferentes onde o melhor de tudo é passar a entender a mixagem impecável e crua do que se escuta em seus quase seis minutos. Tudo se transforma em “Godspeed”, mas mudanças essas que ainda perpetuam a atmosfera mais densa e escura do encerramento. Mesmo que a canção seja sobre deixar ir, abdicar-se do mundo que Ocean criou não deveria ser sequer uma opção.

Para fechar o ciclo, “Futura Free” possui três planos sempre repletos de barulhos, resíduos e um estofamento que a faz parecer de maneira abstrata quase como um memorando sobre tudo que vimos. Curioso pensar nessas várias dualidades, já que ela disseca a carreira do artista em si. “Mikey: How far is a light year? / Unknown: A second” coloca um ponto final no disco que o tempo todo tratou tornar segundos em parcelas de ruidosos sentimentos.

Atenção é um requisito básico para perceber todas as excitações desse projeto, que com alterações bruscas e repletas de ruídos na voz de Ocean fazem os sentimentos ecoarem dentro de um recipiente, onde as melodias, composições e produção exercem a função de chacoalhar o compilado inteiro. E não houve em momento algum medo por parte de Frank Ocean em expor tudo que uma vez ele já sentiu no corpo e alma do “Blonde”, o que acabou resultando em um disco simplório que flutua por qualquer noção de tempo.

Nota do autor: 100/100

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