Logo em sua primeira aparição nos primeiros minutos, o Batman de Robret Pattinson deixa muito claro sob as luzes (poucas, já que essa nova versão usa muito mais do que as outras o escuro como uma artimanha para o medo) que deseja com apenas o uso do Bat-sinal – curiosamente um símbolo de esperança que se faz por uso da luz – que todos aqueles que estão do lado errado da vingança, temam.
A atmosfera em todo o plano inicial é tão bem processada pelo criador para com o telespectador que o coração daqueles mais devotos perante um dos maiores personagens da história. simplesmente ecoa baixinho: apareça. É então que o ser das trevas profere: eu sou a vingança.
Esse é o primeiro passo que “Batman” toma para si alegando que a crueza que veremos nas próximas quase três horas é apenas um vestígio básico para essa roupagem estrondosa que Matt Reeves assume com muito calor pelas ruas frias e sujas de Gotham; que reflete em puro “cinema“. É ainda é preciso dizer que a origem do vigilante noturno vista aqui é a mais veemente densa dentre todas as outras, o que torna tudo ainda mais louvável.
Não é a primeira vez que vemos a repulsiva cidade ou a brutalidade de Bruce e o porquê disso, mas é sim a primeira que vemos tais pontos serem discutidos como o magistral e histórico personagem merece, adequando-se de toda uma frieza e sagacidade necessária para mostrar o lado mais contínuo do mascarado: toda aquela redoma investigativa que ele sempre precisou ganhar.
A narrativa ganha reforços únicos que desmontam os conceitos clichês quando nos referimos à obra de heróis que vão para os cinemas. Quando o longa não se alia da sobriedade e abordagem realista contada pela história de modo único, ele ganha coração pelo tecnicismo nunca visto em uma produção desse tipo. São inúmeros os frames que focam somente nas vestes pretas do incalculável Pattinson, onde o foco é mostrar a sua imponência e ar misterioso. Sem contar ainda com os momentos do uso fabuloso de cores que mesclam o protagonista com o céu alaranjado ou mais azul. É de provocar calafrios.
E é diretamente no ponto mais incisivo que “Batman” marca o score mais alto, na direção. Reeves se mostra imponente com as câmeras e o telespectador entende toda a glória da alma que a produção carrega. Não é a interpretação que o diretor decidiu aplicar sob o homem morcego, mas é na verdade, talvez, a única interpretação possível. Tudo entra e sai de cena com uma naturalidade brutal, adjetivo esse que mais funciona. Brutal.
Quem também cabe nessa definição é Robert Pattinson, que assume as várias carcaças de um Bruce Wayne com opulência e ainda usa com respaldo a ótima construção do personagem como nada além de um ser humano com traumas. Traços esses que acompanhamos com os olhos grudados na tela devido à permeabilidade das escolhas narrativas que emendam o fascinante e gritante Charada do Paul Dano, o amigável Gordon de Jeffrey Wright e a mítica Selina Kyle de Zoë Kravitz.
Vezes ou outra, um clima de terror toma conta (como aquele momento da luta no escuro, ou a da boate, cenas já mostradas no trailers) em um tipo de aura incontrolável, e então, tudo se culmina e explode em um deleite assustador. O uso da trilha sonora estridente de Michael Giacchino é de fazer arrepiar e ficar totalmente imerso nas sequências, seja com as brigas extremamente ambiciosas de acompanhar, ou em todo o momento que o Batman usa o Bátmovel pela primeira vez (essa é um dos planos mais surreais e de prender a respiração em todo o filme, e talvez um dos melhores para algo do cinema recente). Novamente, todos os pontos técnicos da obra são espetaculares.
Se em algum momento parecia que mais uma adaptação para as telas do icônico personagem não era interessante o suficiente (por aqui essa sensação nunca existiu), é só parar e ir assistir “Batman” para fazer com que esse idealismo se substitua pela empolgação em querer mais e mais. O resultado é um longa excitante, potente e que provalmente vai demorar um pouco para dormir nas nossas cabeças; mas quem disse que queremos isso?