Crítica | Stall the Örange, “Colours Are Distorted”

Stall the Örange lança “Colours Are Distorted”, trabalho de estreia envolvente e revelador para o cenário alternativo brasileiro.

O disco “Colours Are Distorted”, trabalho de estreia de Stall the Örange, já está disponível nos serviços de streaming de música. Liderado por Luiz Libardo, artista de Santa Catarina, algumas faixas foram liberadas anteriormente como singles: “Don Drp”, “That’s Nöt Me Anymore”, “Wish” e “Eventually”. O álbum é um trabalho de muita qualidade e que resgata o indie rock do início dos anos 2000 – estilo que está mais em alta do que nunca. Mas o indie rock não para por aí: ao longo das dez faixas, que se ouvidas em looping entregam uma repetição perfeita, é possível perceber toques de pós-punk oitentista, new wave e dream pop. Ou seja: um rock alternativo com gostinho de psicodelia. 

O EP de estreia divulgado há um ano, intitulado “It’s a Chromatic Circle, But, deu as boas-vindas ao grupo no cenário underground catarinense. E o batismo do novo trabalho foi pensado justamente para se conectar com o EP: “It´s a Chromatic Circle, But Colours Are Distorted”, iniciando assim uma narrativa singular. Dualidade de mundos, reflexões existencialistas e impermanência e relações humanas são temas discorridos ao longo das dez faixas gravadas entre 2018 e 2020, no Pistache Estúdio, localizado na cidade de Brusque (SC), e produzido por Luiz junto a Davi Carturani.

“Após passar por um período tomado pela síndrome do pânico, a percepção da realidade tinha sido totalmente distorcida. Ao mesmo tempo em que identificava que estava interpretando o mundo ao seu redor de forma deformada, me encontrava preso a ideias e pensamentos que não existiam. Era uma dualidade que enfrentava diariamente, e que motivou a escrever as músicas do álbum”.

– revela Luiz.

Assinada pela designer catarinense Laura Marchi, a capa respeita a estética pós-punk já estabelecida enquanto identidade visual da banda. Embora esta envolva vários elementos, ela não escapa de uma estética simples, e diante disso é possível considerar a capa do disco simplória. Marchi revela que concebeu a primeira ideia, a partir de rabiscos coloridos, há três anos.

“A tipografia é bem interessante, porque é, na realidade, a caligrafia do Libardo, que também usamos em todos os materiais da banda. A textura do background é uma fotografia que tirei de uma porta de vidro de noite. Para o álbum eu só uni os elementos que já havíamos criado e busquei condizer com toda a construção de identidade desde o primeiro single”.

– como conta Laura.

To Have No Time” é o interlúdio que abre o álbum, a faixa de apenas vinte e um segundos, encaixa como uma peça de quebra-cabeças na última música, podendo formar um looping, se o disco for ouvido em repetição. Já Colours Are Distorted”, faixa homônima ao trabalho de estreia da Stall the Örange, traz melodia e harmonia alegres, contrastando com a temática da canção. A balada do álbum fica com “Eventually”, faixa envolta em muitos elementos que corroboram com o tema da música, encontrados principalmente nas frases de guitarra dramáticas que antecedem o último refrão. Já a canção mais pop do disco fica com o single “Don Drp”, que homenageia o personagem da série Mad Man, cujo nome dá título à canção.

A união de elementos do trap ao indie rock, resulta em uma triste canção dançante na música escolhida para encerrar o disco. Afraid” retrata a limitação humana dentro do tempo, engolidas pela sensação de incapacidade durante a sua existência. Trata-se da faixa mais longa do álbum e seu final emenda perfeitamente com “To Have No Time”, a intro do compilado. Dessa forma, o círculo cromático pode até ter suas cores distorcidas – no entanto, elas são enérgica e surpreendentemente envolventes.

Nota da autora: 90/100

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