Crítica | Lady Gaga, “Dawn of Chromatica”

Lady Gaga dá total liberdade para visões únicas fazerem a melhor apresentação de seus sons em Dawn of Chromatica.

Qualquer lançamento que Lady Gaga anunciar vai gerar frustrações, já que seus fãs estão no mais alto patamar de exigências dentro de qualquer grupo de admiradores de artistas musicais. Mesmo que ela comece trazendo mais propostas de conceito do que realmente uma música que deixe as pessoas animadas, ainda assim vai haver uma grande quantidade de pessoas esperando o grande arrebatamento em forma de disco. Mas Gaga não parece nem um pouco disposta a fazer com que um trabalho de sua discografia seja apresentado quase que de forma sufocante por toda a terra, e ela já vem vivendo nesse modo há alguns álbuns.

A cantora se tornou o tipo de artista que simplesmente deixa a música falar por si só, apesar de sua carreira estar cada vez mais abrangente sempre sobra algum tempo para focar naquilo que a fez ser tão gigante quanto é, a música. Mesmo que ainda haja esperança para alguns que um dia ela irá esquecer tudo e trabalhar milhares de singles, filmar vários videoclipes e prover o que sempre fez de mais característico: apresentações onde o telespectador não consegue piscar, looks que se tornam icônicos do dia para a noite e hits grudentos. Isso pode não ser mais tão recorrente, mas é preciso lembrar que essa artista ainda existe.

É exatamente por deixar a música falar por si só que Dawn of Chromatica, a coletânea de remixes de seu último álbum, se tornou uma das coisas mais divertidas do ano. Reunir artistas que costumam compartilhar de causas similares, mas que divergem em suas sonoridades poderia resultar em uma bagunça tão grande que seria quase impossível definir onde cada coisa funciona… mas essa ‘bagunça’ acaba dando a volta e se organiza de uma forma que chega a surpreender. Cada escolha de DJ, produtor acompanhante e cantore trás uma pitada única para cada música escolhida, chegando até a transformar muitas que não chamavam atenção na obra original em faixas empolgantes.

Como um todo, do começo ao fim temos uma sequência bem coesa e que explora loops e sons nada comuns que definem cada autor e seu remix escolhido. LSDXOXO e COUCOU CHLOE brilham abrindo o disco com versões que são a mixagem perfeita de suas personalidades com duas das mais pop da tracklist; ‘Alice‘ e ‘Stupid Love‘. As catorze faixas compõem várias ‘duplas’ de exemplos do que podemos citar aqui, porque se por um lado DJs mostram um bom serviço, de outro temos pequenas decepções com nomes grandes. Arca traz uma ‘Rain On Me’ bizarra que mais parece um caldeirão de experimentação que vai do nada a lugar algum, e Shygirl tenta, mas também não consegue salvar a já sofrida Sour Candy‘, que conseguiu descer mais fundo ainda na qualidade que já era duvidosa.

Dorian Electra e Rina Swayama (acompanhada do sempre maravilhoso Clarence Clarity) fazem um trabalho bom, mas ainda dentro de suas respectivas ‘safe zones’. Em ‘911‘, Charli XCX e A.G. Cook brincam e acertam, mas seria muito difícil qualquer remix conseguir chamar mais atenção do que essa que é uma das melhores do disco original. As surpresas estão em duas vozes que elevam duas faixas que não tinham tanto carisma e que conseguem destaque sem esforço algum:

‘Plastic Doll’ e ‘Fun Tonight’ são os pontos de pico aqui e as únicas que soam como homenagens ao mesmo tempo em que poderiam facilmente andar sozinhas. A sonoridade bem brasileira destoa de forma espetacular com Pabllo Vittar, e o que não é surpresa para nós acaba sendo a melhor arma da artista como apresentação para o resto do mundo. Já Ashnikko domina completamente com seu flow carismático e consegue a proeza de se consolidar como a dona dos melhores minutos do projeto.

Lady Gaga pode não ser a pessoa mais ativa sobre seus próprios lançamentos como era antes, mas isso não tira o mérito de que ela é uma potência na música, e ter um nome carimbado como convidado em um obra de remixes sua é algo muito grande. Independente da artista estar ou não antenada sobre uma de suas vertentes de carreira, é notável que Dawn of Chromatica só é forte justamente pois veio de algo que já tinha uma força notável.

O apelo estético, a forma como dá total liberdade para visões únicas de suas músicas, o apoio marcado a comunidade LGBTQIA+ através das participações escolhidas(…). Mesmo não sendo um conjunto de inéditas, este é um dos trabalhos que mais simbolizam a presença de Gaga na arte, e um dos que mais pode definir toda sua trajetória até aqui; livre e sem limites.

Nota: 77/100

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