Crítica | Juliette, “Juliette EP”

Dando continuidade a sua ascensão artística meteórica, Juliette vai além dos cantos controversos, mas não trás nada além do esperado em seu EP de estreia.

Uma coisa rara é encontrar alguém que não se identifique com música, ou que chegue até a dizer: ‘’eu não gosto muito de música”. É praticamente impossível tentar entender como qualquer um pode viver sem essa arte, mas o ser humano é tão singular que depois de algum tempo até dá pra compreender tal comportamento. Outro tópico interessante é justamente o oposto, tentar medir como cada pessoa se identifica com música… o ouvinte é único, e a sensação que cada letra ou melodia pode causar é mais ainda.

Então como determinar a importância da música na vida de alguém? E indo além, como imaginar como um se veria sendo artista e fazendo trabalhos autorais? Quando Juliette saiu do Big Brother Brasil ela poderia ser qualquer coisa, naquele exato segundo do anúncio de sua vitória no reality ela tinha uma força tão grande que se dissesse que sumiria para sempre ainda assim haveriam milhares de pessoas que a apoiariam. Mesmo que sumir significasse praticamente morrer socialmente, e consequentemente não ter mais qualquer contato com aqueles que a fizeram milionária.

Imagem: Giovanni Bianco / Fernando Tomaz

Entre várias escolhas na carreira, a mais óbvia delas foi continuar sua força descomunal como uma sensação de influência nas redes sociais. Ela poderia muito bem ter parado aqui, mas não, a (agora oficialmente) cantora foi além das migalhas de afinações controversas que soltava nos tempos de confinamento e fez o que qualquer pessoa esperta faria: surfou no próprio hype. Se por um lado o apoio colossal que teria era algo certeiro, ele também poderia ser seu maior fantasma. Ela está em um patamar de popularidade tão grande que se decidisse ignorar as raízes regionais e apostasse em um trabalho de rap, surgiriam milhares de hashtags em sua defesa com textos gigantescos sobre o quanto ela e o rap são coisas intrínsecas.

Uma coisa é certa: não há crivo crítico algum entre os admiradores mais fervorosos de Juliette, e aproveitar essa brecha seria o suficiente para dar um pontapé apressado em uma carreira musical e fazer algo apenas direcionado a eles. Porém, mesmo tocando essa vertente de forma ligeira dá para sentir um foco a longo prazo, e sua equipe gigantesca sabe muito bem que por mais apoio que ela tenha, é preciso atingir além disso.

Entre noites mal dormidas, capas de revistas e um patrimônio que fica cada vez maior devido a tantas ações publicitárias, seria impossível parar tudo e se dedicar unicamente à produção de um projeto musical. Por esse motivo, já temos uma boa desculpa para a ausência da participação da cantora em algo além de colocar sua voz em um pouco mais de dezessete minutos de material. Uma surpresa agradável é um tom mais regulado, pop, doce e que em alguns momentos se aproxima do infantil, onde a voz de Juliette soa exatamente como ela: sutil, carismática e simples. Não há muito o que esperar justamente porque não há muito para ser oferecido, e nisso ela acerta, em apenas prover o necessário para ditar composições feitas por outros.

Logo na faixa de abertura temos sinais de quem não teve exatamente a vida mais fácil do mundo, ‘Bença’ narra uma grande introdução de como ela chegou até onde está, mas que se perde em um emaranhado de palavras que parecem escolhidas aleatoriamente para que haja uma identificação automática com seus fãs. Quando canta “Agora se foi fácil, foi não. Rapadura é doce mas não é mole não. E o preconceito eu só engulo com farinha” a sensação que fica é de que ouvimos um tweet feito por um de seus ‘adms’. A produção é um forró leve e gostoso que tem o bastante para remeter ao gênero, mas não tanto para seguir uma linha regional extrema. Funciona bastante, e logo aqui fica claro que a maior força deste EP está em sua parte técnica.

Cada música arrisca chegar ao seu limite antes de cair na mesmice da anterior. A todo momento causam um indicativo de que a primeira ouvida tudo é muito semelhante, mas as diferenças sutis ajudam essa impressão a sumir logo após uma segunda ouvida, mesmo que não exista qualquer tipo de ponto muito alto a se destacar. A sequência com ‘Sei Lá’ e ‘Benzin’ é seu melhor momento, e o refrão de ‘Vixe Que Gostoso’ é composto pelos segundos que mais tem chances de ficar na cabeça, mas nada se mostra algo concreto para definir uma grande lembrança. Não há palavra que define melhor este EP do que ‘elementar’, já que o escape é perceber que ele não foi feito para ser algo grandioso. Justamente pela própria personalidade da cantora não ter qualquer pretensão de se mostrar maior do que a simplicidade que emana.

Música é algo muito importante para Juliette, e isso ficou claro logo quando suas cantorias se tornaram virais nas redes sociais. O quanto se identifica, seu significado e como ela se vê agora oficialmente como uma artista musical ninguém será capaz de julgar ou determinar. Mas será possível ter uma impressão muito melhor em projetos futuros que não se foquem apenas na bolha dos ‘cactos’. Aqui também temos uma resposta para quem ainda se perguntava como ela conseguiu ser tão grande em sua influência: justamente por ser uma projeção do que as pessoas tendem a imaginar em uma jovem mulher nordestina. Simplicidade e força.

Não há nada além do esperado neste projeto, e por mais que isso seja o que firme seus pés no chão, é difícil não ter um pouco de dúvida sobre o quanto é realmente necessário para a artista. A grande estreia da celebridade sensação do momento é básica e não se prova forte o suficiente para despertar atenção em uma continuação. Juliette gosta de cantar e quando a oportunidade de transformar isso em uma dedicação profissional apareceu, ela aproveitou. Em nenhum momento isso é um problema, mas fica claro que a sua carreira musical não passa apenas de um grande hobby.

Nota do autor: 60/100

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