Crítica | Willow, “lately I feel EVERYTHING”

WILLOW não se atém inteiramente ao pop punk esperado em “lately I feel EVERYTHING”, mas não falha em apresentar um disco inteiramente feroz.

“lately I feel EVERYTHING”, novo álbum de Willow Smith – ou melhor, WILLOW -, contou com altas expectativas para seu lançamento. O primeiro single do álbum a ser lançado, “t r a n s p a r e n t s o u l”, com grafia nesse jeito mesmo, levou os internautas à loucura com um lado de WILLOW que ainda não tinha sido visto.

Com a participação de Travis Barker em diversas composições, eterno baterista da banda californiana Blink-182, a jovem artista aposta em uma tendência certeira: trazer o pop punk de volta às paradas musicais. WILLOW é uma personalidade com estilo próprio, seja em sua vida pública ou pessoal, e por isso “lately I feel EVERYTHING” não poderia ser um disco sem estética impecável ou irreverente.

Irreverente, inclusive, é um dos atributos do pop punk, porém esse adjetivo não caracteriza o último álbum de WILLOW como um todo pelo gênero musical. A artista se atreve a compor canções no ritmo que está voltando ao gosto dos melófilos, mas o álbum em si não conta com uma constância pop-punkiana. Na verdade, “lately I feel EVERYTHING” não apresenta constância. Apesar de serem composições à la WILLOW – ou seja, com uma plasticidade sonora própria à artista -, a organização das faixas do álbum torna “lately I feel EVERYTHING” uma produção confusa por suas canções díspares. No entanto, esse desconforto causado pode ser atribuído mais à parte punk do que à pop. É como se WILLOW não se importasse com eventuais incômodos.

A cantora traz toda a sua harmonia plástica para o disco, que conta com visual audacioso na capa do álbum, bem como nos clipes lançados até o momento e no photoshoot realizado para divulgar “lately I feel EVERYTHING”. Deixando a estética de lado, a harmonia sonora, assim como em todo o álbum, mais uma vez, não deixa de escancarar a personalidade de WILLOW.

Esse é um excelente ponto para construir discografias: afinal, é o estilo do artista que é impresso em seus trabalhos. No entanto, todo o lirismo de WILLOW destoa do ritmo mais pesado que é o pop punk. Mesmo assim, a voz heterogênea da cantora consegue se sobrepor às guitarras e, mais importante, à bateria de Travis Barker que, em seus últimos trabalhos com artistas, como Machine Gun Kelly, foi a grande protagonista das composições. 

Um ponto forte de “lately I feel EVERYTHING” são as parcerias com grandes nomes, como é o caso dos artistas Travis Barker, Ayla Tesler-Mabe, Avril Lavigne e Tierra Whack, e com a banda Cherry Glazerr. As colaborações com nomes consagrados do pop punk agregam o ar revolto e incompreendido do gênero às letras extremamente emotivas de WILLOW, como de praxe. O nome de Tierra Whack, em compensação, não se trata de um exemplar do gênero em questão, porém surpreende enormemente por trazer elementos do rap a uma composição com elementos roquistas.

WILLOW é punk – seja nos palcos ou fora dele, não se resumindo apenas à sua carreira enquanto musicista. Um exemplo dessa afirmação é quando, após uma performance de uma versão punk de “Whip My Hair”, primeiro lançamento de sua carreira, WILLOW teve seu cabelo raspado enquanto ainda estava no palco, tocando sua guitarra “feminista”*. “lately I feel EVERYTHING”, apesar de inconstante, é consistente e maciço. Todo o estranhamento que pode causar à primeira escuta é proposital e até mesmo bárdico. Afinal, não seria essa a natureza punk? O universo musical urge por mais exemplares de WILLOW: mulheres fortes, ousadas, versáteis e punk.

*O uso de aspas na palavra “feminista” não é um atributo diminutivo, apenas uma formatação para se referir ao adesivo colado à guitarra de WILLOW, que simboliza a luta feminista.

Nota da autora: 71/100

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