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Crítica | X-Men: Fênix Negra aposta em suas personagens femininas com tiro no escuro

“É só isso, não tem mais jeito. Acabou, boa sorte!”.
Fênix Negra
Fênix Negra

Essa review contém spoilers

“É só isso, não tem mais jeito. Acabou, boa sorte!”. Esse é o pensamento na saída de X-Men: Fênix Negra. Um pouco mais de um mês após a conclusão épica do arco de uma década da Marvel Studios, o último filme dos Mutantes pelas mãos da Fox, aquela que deu pontapé inicial para a leva de filmes de super heróis em 2000, se despede em um clima de “o último que sair, fecha a porta”.

Após uma missão espacial ao lado dos X-Men, Jean Grey (Sophie Turner) acaba absorvendo uma energia cósmica incontrolável e com fome de poder. Ao fugir em busca de respostas do seu passado, Jean perde o controle de seus poderes em meio ao descontrole mental e raiva, o que a colocará contra os seus amigos e o seu mentor Charles Xavier (James McAvoy). Enquanto isso, outras pessoas estão de olho nos poderes de Jean e podem ter objetivos mais grandiosos e maléficos para eles.

Fênix Negra, 20th Century Fox
Fênix Negra, 20th Century Fox

Dirigido e roteirizado por Simon Kimberg -o mesmo que já havia adaptado essa história em X-Men: o Confronto Final (2006) – Fênix Negra abre com um flashback bem introdutório sobre o passado de Jean e deixando evidente desde o princípio o descontrole mental da protagonista em relação aos seus poderes. A partir daí, o filme pula para o presente, direto para a sequência da missão especial, que é o melhor momento do filme.

É o primeiro momento em muito tempo que vemos aquele clima de X-Men, saindo do momento da escola para uma missão super heroica e posteriormente vendo os personagens agindo como jovens e interagindo de maneira mundana. A montagem da  sequência espacial, conduzida pela trilha bombástica do Han Zimmer e uma mixagem de som reverberante, dão o clima e a ação mais bem conduzida do longa, com os personagens usando seus poderes para melhor executar o salvamento necessário.

Toda a construção do primeiro ato é coerente e bem apresentada.

A partir do momento em que é estabelecido a ameaça e o descontrole da protagonista, o filme fica estagnado e entra em uma onda de repetições e desperdícios de vários potenciais e o grande problema está no roteiro de Kimberg, que acaba por tornar o ritmo do resto da projeção totalmente desbalanceado e o público apático ao que acontece, até mesmo com os personagens e um elenco já elogiado em filmes anteriores.

Fênix Negra, 20th Century Fox
Fênix Negra, 20th Century Fox

A Sophie Turner não consegue se destacar como a protagonista que deveria ser, mas ela consegue entregar o máximo que o roteiro oferece à ela; a personagem da Jéssica Chastain foi escondida durante toda a divulgação do filme, porém apesar de entender onde a personagem se encaixa, na prática sua presença e ameaça é patética e piora ter uma grande atriz aqui sem ter o que fazer; Michael Fassbender já interpreta Magneto no piloto automático, mas ele entende o personagem como poucos; Jennifer Lawrence já deixou há muito tempo de ser fiel ao que a personagem Mística é e não perdem tempo em tirar de uma vez a maquiagem do seu rosto para que a atriz se destaque.

Mesmo assim, no pouco tempo de tela, a atriz entrega o suficiente; os outros personagens como Ciclope, Noturno e Tempestade continuam coadjuvantes e o grande destaque fica por conta de James McAvoy, dando uma camada mais sombria e arrogante para Charles Xavier e entrega bem os conflitos desse personagem, entre o ego e o arrependimento.

É frustrante pensar que Kimberg teve novamente a chance de contar a história da Fênix Negra e conseguiu errar mais uma vez e agora tendo a Fênix como plot principal. O filme tem vários conceitos muito interessantes, entre esses a ideia de tratar esse poder incontrolável da Jean como um surto de personalidade e doença mental, mas nunca eles partem para aprofundar essa ideia e tornar ainda mais engajante e dramático o que está acontecendo com a protagonista, que vira apenas um plot device para mover os outros personagens.

A questão do conflito da Mística com o Xavier ter conseguido o que sempre quis, a paz dos Mutantes com o resto da humanidade, com os X-Men sendo tratados como super heróis para o resto do mundo, mas que na verdade apenas mostrava como Xavier não hesitava em colocar seus pupilos em situações de risco desde que fosse para manter esse status quo que ele havia conseguido, o que gera o conflito do filme, também é só uma vírgula na trama.

A ideia é interessante, mas é outro ponto paralelo e não explorado e que só funciona pela atuação de McAvoy e dentro desse conflito das atitudes do Xavier, com o descontrole da Fênix,  vive um dos elementos mais problemáticos do filme.

Fênix Negra, 20th Century Fox
Fênix Negra, 20th Century Fox

Personagens femininas

X-Men: Fênix Negra enfatiza suas personagens femininas. Desde Jean Grey como a protagonista, a personagem da Jéssica Chastain e a Mística, são as figuras que movem a trama e os conflitos. A própria Mística tem uma fala no filme de que as mulheres sempre estão salvando os homens da equipe – “deviam mudar o nome para X-Women” – e nos tempos de hoje é importante carregar uma mensagem feminista em um filme de alcance mundial. Entretanto o filme entra em certos caminhos, claramente com o intuito de criticar a ideia do patriarcado e que acaba não só sendo nada sutil, como dentro do desenvolvimento do filme ela dá a volta e vira o problema central.

Há um conflito de Jean com o seu pai e também com Xavier, que é a sua figura paterna e que por suas atitudes, inibe e manipula a garota de alcançar o seu verdadeiro potencial. Então chega uma mulher que diz para Jean que ela não deve ouvir esses homens e sim mostrar quem ela realmente é. Novamente, no papel funciona, na prática é a vilã manipulando a protagonista com um discurso feminista, o que torna a imagem da causa totalmente negativa e piora depois quando a conclusão disso é na verdade relevante para o arco do Xavier.

Como um filme de ação, Fênix Negra também não se sai muito bem. Com exceção da cena inicial no espaço, as outras sequências de ação, principalmente as do terceiro ato são muito aquém. A direção de Kimberg é muito confusa ao não conseguir estabelecer a mise en scène em cenários externos ou na sequência envolvendo um trem, que é mal coreografada e os personagens parecem estar todos em um tempo diferente que os outros dentro da lógica da ação. Os efeitos visuais não são ruins, mas também não surpreendem e o clímax é dentro de toda a narrativa desinteressante, é apenas anticlimático.

Fênix Negra, 20th Century Fox
Fênix Negra, 20th Century Fox

Afinal, Fênix Negra entrega um bom filme da saga?

X-Men: Fênix Negra não é um filme desastroso como aparentava ser. Depois de tantas notícias de refilmagens e adiamentos, mais a compra da Fox pela Disney, as expectativas pelo filme eram bem desinteressante. Bom, como já aconteceu nos filmes anteriores, é mais um filme dos X-Men com um grande potencial desperdiçado, principalmente porque essa franquia não soube se adaptar nessa trajetória em que a linguagem e o tom dos filmes de super heróis mudaram tanto, o que é uma ironia cruel para a franquia pioneira do gênero. Que a Marvel Studios a partir de agora nos proporcione experiências mais interessante e que estão no nível que os X-Men merecem. Por ora, obrigado pelo seus serviços, Fox! Eles não são mais necessários!

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