Revisitando Logan | Como a despedida ressignifica o último suspiro?

Tendo feito 5 anos em março desse ano, “Logan” é e deve ser considerado um marco histórico quando o assunto são filmes de heróis

Não há remédio para o fim ou como evitá-lo, tudo que começa, precisa terminar. Isso é sim e não um processo a se destrinchar, mas é mais um ciclo a ser colocado em prática da melhor maneira possível. Essa característica da humanidade fica fatídica em certo ponto na busca por uma resolução; às vezes estagnamos de tanto procurar e tentar, que paramos de viver.

Essa ode ao parar e buscar um propósito ou o de parar de buscar por ele, é mostrado com uma potência cortante em “Logan”, terceiro e último filme da franquia focada em Wolverine – que teve início em 2009 com “X-Men Origens: Wolverine” e se seguiu em “Wolverine: Imortal”. É mostrando o lado mais íntimo do personagem em uma versão puramente humanizada que esse longa não é apenas o fator x na definição da melhor representação para o Jimmy nas telas, como é também a melhor adaptação cinematográfica baseada em quadrinhos.

Inspirado no arco “Velho Logan”, de Mark Millar e Steve McNiven, o centro da história mostra a sociedade onde a maioria dos mutantes foram eliminados. Contudo, uma parcela mínima está escondida, entre eles, Logan, o cérebro mais perigo da história agora com Alzheimer, o Professor Xavier, e Caliban. James, abatido, encontra-se em seu mártir de vida, o adamantium fundido em seus ossos agora é como veneno, tornando o fator de cura ineficiente, a partir daí, cada vez mais que torna-se grisalho, mais fraco fica.

É bem instintivo como a direção de James Mangold busca não complementar o cansaço do personagem junto da narrativa melancólica (que fica ainda maior na fenomenal versão preta e branca), mas sim explanar, ao lado de olhares espetaculares de Hugh Jackman em seu maior papel, com todos os ângulos possíveis que ele está em um estado tão ferozmente taciturno, que os demasiados frames o mostrando deitado (literalmente o primeiro segundo do longa o traz assim) são como um espinho na coluna para quem assiste.

Ele precisa urgentemente de um fim de linha agora que é mortal, e em certo ponto, passa a entender em margens que o confronto com a verdadeira e atual face do seu corpo precisa parar, e é muito com a chegada da X-23 em sua jornada que isso fica se proclama.

A personagem vivida pela fofa estreante Dafne Keen ganha o papel de pupila quase que pelas brechas, o protagonista entra em recusa com a desventura que ela traz a tona. Mas passa aos poucos a aceitar o rascunho de uma história final para sua amarga resistência. E que toque forte esse núcleo que é uma das vidas do filme entrega. Ao lado do Xavier, os três resplandecem juntos momentos de encher o coração; há uma sequência de um jantar que faz parecer que tudo está bem, Charles inclusive, menciona em uma cena que aquele foi o dia mais feliz que teve nos últimos anos e ainda acata o protagonista dizendo: “É assim que a vida se parece. Pessoas que amam umas as outras. Um lar. Você deveria fazer uma pausa. Sinta. Você ainda tem tempo.“.

O significado de tempo, e também a sua nova projeção, aqui é trabalhado para viabilizar que não devemos ter medo de morrer, mas sim de não aproveitar o que vem antes. Da mesma forma que o passar dos dias cura e leva uma parte de situações que queremos deixar ser levadas, todo esse percurso também cria dúvidas sobre o que é de fato viver e abraçar limites com força total por algo novo que possa motivar. Toda essa discussão é posta em uma execução brilhante de roteiro (que por sinal foi indicado ao Oscar), onde Logan acolhe, com destreza, a sua velhice, entendendo que a definição da sustância dela vem às vezes de alimentos que estão longe do nosso alcance de compreensão. Assim como ele, devemos começar a nos adaptar ao ciclo sobrenatural que é crescer a todo o momento, mesmo quando se desiste.

Por uma apresentação final fenonemal de Jackman como o personagem, o ator serve como uma carcaça para o protagonista visto de forma avassaladora, e uma construção vilanesca robótica demais que é provalvemente o único ponto negativo de toda a obra, “Logan” busca e consegue ampliar os conceitos do último suspiro de um homem usando uma energia poderosa e na risca, como uma poesia.

Nota: 95/100

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