Rock In Rio | Green Day: um dos destaques da edição

Green Day entregou um encerramento perfeito para consagrar o dia do emo/pop punk no coração de todos que estiveram presentes

O Green Day ocupa um lugar especial na cronologia do rock. Após quase 40 anos de carreira, Billie Joe Armstrong e Mike Dirnt já não são mais os garotos dos clubes efervescentes da rua Gilman, Califórnia, a quem Tré Cool se juntaria anos depois. Entretanto, isso é quase imperceptível: além de conservar a famosa Stratocaster verde de Billie, o former power trio também mantém ativas a jovialidade e vitalidade da cena punk dos anos 80.

O resultado disso é uma legião de fãs que atravessa gerações, cooptada nos anos 90/00 com a escalada do punk ao mainstream após álbuns como “Dookie”, “American Idiot” e “21st Century Breakdown”. 

Ao longo dos anos, a banda brindou o público brasileiro com três apresentações no país, em 1998, 2010 e 2017. Mas o “quatro” pareceu ser o número da sorte nesse caso: escalado como headliner do quinto dia do Rock In Rio 2022, o Green Day envolveu seus fãs em uma apoteose pop punk, que tem sido considerada uma das melhores apresentações da edição do festival.

À 00:15 do dia 10, as potentes caixas do Palco Mundo envolveram o público em uma catarse coletiva ao sintonizarem “Bohemian Rhapsody”, do Queen, e “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones, anunciando que a entrada do Green Day era iminente. Subitamente, um enorme coelho engravatado, sujo e surrado invade o palco, dançando freneticamente ao som da interpolação de  “I Love Rock ‘n’ Roll”, de Joan Jett & the Blackhearts,  “We Will Rock You”, também do Queen, e “Also sprach Zarathustra”, de Richard Strauss. É a deixa perfeita para que Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool invadam o palco e dinamitem o público com a potente “American Idiot”.

O show do Green Day prova uma máxima já bastante evidente no universo da música e das artes em geral: a de que um grande espetáculo vai muito, mas muito além de talento ou dom natural. Uma grande performance demanda elaboração, planejamento, entrega. Mas não se engane: isso não significa abandonar os improvisos, as espontaneidades e a rebeldia do rock n roll; pelo contrário, esse “processo criativo dos palcos” é o que fez a magia acontecer e que permitiu vários dos momentos mais marcantes deste show, que teve o maior público do Rock in Rio 2022 até então.

Não está convencido disso? Pois veja bem: o script do Green Day vai além da execução impecável do repertório. É claro que, por si só, hits estridentes como “Know Your Enemy”, “Welcome to Paradise” e “St. Jimmy” já levariam o público ao absoluto delírio – principalmente quando incitados pelos comandos de “let’’s get grazy” de Billie Joe. Do mesmo modo, as baladas “21 Guns”  e “Wake Me Up When September Ends” arrancariam lágrimas até do mais apáticos. De fato, tudo isso aconteceu. Mas grandes surpresas nos aguardavam além da música.

Por três vezes, o frontman convidou fãs para se juntarem a ele no palco, estabelecendo uma conexão inquebrável com o público e alimentando o imaginário daqueles que fantasiam ficar cara a cara com estes ícones do rock. Na segunda vez, a mais marcante, o casal  Beatriz Gouvea e Jonas Pagassini, que se conheceu em uma comunidade do Orkut sobre o Green Day, se juntou à banda durante “Boulevard of Broken Dreams” para um pedido de casamento deveras kitsch.

Com uma energia incomparável, Billie Joe, grande estrela da noite, incendiou o público a todo momento. Entre saltos e beijos, o vocalista esbanjou presença de palco e não fez reservas quando o assunto foi se divertir – e garantir que todos festejassem com ele. Com impecável condução do público, o frontman aproveitou um hiato entre as músicas para se cobrir com uma bandeira do Brasil em que se lia “Não ao racismo, não ao fascismo, não ao sexismo”. Convenhamos: não há espaço para surpresas com o posicionamento político de uma das bandas mais críticas do mainstream, desde os anos do governo Bush. Billie ainda aproveitou o momento para alfinetar Bolsonaro, acompanhado por gritos de protesto da plateia.

O destaque do show fica para a performance do combo “King for a Day” e “Shout”, dos The Isley Brothers, que levou Billie ao chão e aumentou a expectativa e a excitação da plateia. 

Ao fim, após a derradeira “Good Riddance (Time of Your Life)”, performada em versão acústica, Billie Joe, Dirnt e Tré Cool se revezaram para lançar do palco baldes de palhetas e baquetas, sob uma chuva de papel. Por um instante, o alvoroço distraiu o público do clima de fim de festa. Um encerramento perfeito para consagrar o dia do emo/pop punk no coração de todos que estiveram lá – e, com sorte, também no da produção do festival.

Rock in Rio, nos vemos em 2024.

Confira o setlist completo do Green Day no Rock In Rio:

  • Bohemian Rhapsody (Queen)
  • “Blitzkrieg Bop” (The Ramones)
  • lntro [interpolação de “I Love Rock ‘n’ Roll” (Joan Jett & the Blackhearts),  “We Will Rock You” (Queen) e “Also sprach Zarathustra” (Richard Strauss)]
  • American Idiot
  • Holiday
  • Know Your Enemy (a primeira fã sobe ao palco)
  • Boulevard of Broken Dreams (o casal sobe ao palco para o pedido de casamento)
  • Longview
  • Welcome to Paradise
  • Hitchin’ a Ride
  • Rock and Roll All Nite (KISS)
  • Brain Stew
  • St. Jimmy
  • When I Come Around
  • Waiting
  • 21 Guns
  • Minority
  • Knowledge (Operation Ivy cover) (a última fã sobe ao palco)
  • Basket Case
  • King for a Day
  • Shout (The Isley Brothers cover)
  • Wake Me Up When September Ends
  • Jesus of Suburbia
  • Good Riddance (Time of Your Life)
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