Crítica | Rua do Medo apresenta trilogia slasher criando ótimas raízes através de clássicos

Usando como base outros filmes, a trilogia consegue divertir ao renovar o gênero slasher e expandi-lo com um mundo justificado.

Beber de certas fontes para dar vida a obras autorais é hoje, inevitável. Há sim os casos de filmes que se inspiram em clássicos e que acertam no preenchimento de lacunas necessários para dar vida a projetos com base em outras obras. Mas há também os que não vão por vias seguras por simplesmente não serem interessante o suficiente. E em “Rua do Medo“, aposta em trilogia da Netflix com cada filme ganhando um filme por semana, a embriaguez gerada por outros projetos dá certo o suficiente para condensar elementos divertidos de se assistir.

A proposta é simples: 3 filmes, um lançado a cada semana na plataforma, contando uma história que percorre quase 4 décadas. Para começar, nos encontramos na cidade Shadyside, em 1994.

“Rua do Medo: 1994 – Parte 1”

O primeiro passo da trilogia é bruscamente entediante em praticamente toda a sua caminhada. Sendo lá para depois da metade interessante de se prestigiar. Não há altos e baixos aqui, mas há uma constância divertida de se acompanhar. Nada atiça o telespectador o suficiente, ainda mais em uma trama já muito conhecida que traz adolescentes fugindo de assassinos. Esse fio condutor é lá no fundo, instigante quando o projeto se abre para dar espaço ao porquê, elevando-se intuitivamente e automaticamente com o seu próprio conceito e estética que se monta por outros filmes, como o clássico “Halloween”, de John Carpenter.

Na trama, Deena precisa fazer com que Samantha pare de ser o alvo da bruxa Sarah Fier, que vem atormentando a cidade amaldiçoada há anos. A história segue o trajeto mais simples de fazer com que os personagens fujam pela cidadee liguem pontos para descobrir o que está causanto todo o problema. Os jovens que circundam o casal (Simon, Kate e Josh) possuem naturalmente, algo que cativa, para nos fazer almejar que eles fiquem seguros, diferente infelizmente do par.

O fato da história se movimentar com um casal queer, o gênero slasher renovado para fincar suas próprias raízes na conjuntura, e o plot que torna-se agradável e ergue a curiosidade de um momento para o outro, acabam gerando uma boa dose de diversão, mas não marcante o suficiente.

“Rua do Medo: 1978 – Parte 2”

Diferente do primeiro, esse aqui é o banho sangrento ideal. A ideia em retornar para buscar entender a origem funciona bastante devido ao desenrolar ágil e que não perde tempo com bobeiras, que provavelmente em um longa contando a história de um assassino a solta em um acampamento de verão seriam extremamente chatas.

Girando em torno das irmãs Cindy e Ziggy, a mitologia decide ser fortalecer por uma história ótima que não se amarra nos clichês básicos do primeiro. O elenco adolescente se sai bem, Sadie Sink como a irmã fora da linha fortalece uma ótima personagem e entrega uma alá Max de “Stranger Things”.

A resolução do enredo soa um pouco vaga e desleixada, mas quando se soma ao que mostrou em toda a trajetória, deixa um enorme gosto de provocação. Que é muito bem destacado pelo capítulo final.

“Rua do Medo: 1666 – Parte 3”

Na conclusão, tudo se torna um grande conglomerado inquietante. A decisão de usar o elenco original para ilustrar o começo de tudo possa ter sido um erro, e é notório pensar que seria ainda melhor se tivéssemos um novo casting. Mas dá para deixar isso de lado considerando o enredo que amarra as pontas através de uma história “nova” contada por mais de uma hora e que claramente se inspira em absolutamente todos os seus blocos, em “A Bruxa”.

A ideia de que o amor entre duas mulheres deve ser expurgado, se conecta com todo o ódio de um vilarejo ignorante, e com bruxaria. Ponto extremamente alto para a trilogia aqui, que perpetua uma história deliciosa de se acompanhar, ainda que seja dura de se ver.

A origem vista em 1666 responde como todo o problema visto lá em 1994 deve se resolver. A partir daí, vemos em pouco mais de 40 minutos, uma resolução, que em todas as suas vias, não é totalmente caprichada, mas satisfatória o suficiente. É como se dentro desse universo, não houvesse uma resposta melhor.

Rua do Medo?

Divulgação: Netflix (2021)

É curioso em como todos os três filmes possuem tropeços, mas parece que nem a própria obra está preocupada com isso. Fazendo com que foi transmitido, soe divertido o suficiente para querer mais. O elenco, a narrativa que não é usual e os seus contornos e investidas resultam em um conteúdo muito bom, e mesmo que pareça básica, nos faz deixar certos questionamentos de lado e apenas entender que o que estamos vendo, é uma junção de ótimas referências á clássicos que diverte. Isso coloca a trilogia num pico a se valorizar.

O filme três se encerra com uma cena pós-crédito que obviamente evidencia mais histórias, não se sabe o quem a seguir, mas enquanto isso, dá sim para aproveitar o que “Rua do Medo” oferece, a trilogia só deveria ter outro nome.

Assista a trilogia “Rua do Medo” na Netflix

Nota do autor: 70/100

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