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“SOUR” e as nuances temperamentais de Olivia Rodrigo

Olivia Rodrigo trouxe para SOUR a catarse de um relacionamento frustrado e as cicatrizes deixadas em seu estado mental

Insegurança, medo, insatisfação e decepções amorosas são sentimentos que, eventualmente, se afloram na mente adolescente. Olivia Rodrigo trouxe para SOUR — seu debut álbum, a catarse de um relacionamento frustrado no momento em que se percebe as cicatrizes deixadas em seu estado mental.

Neste track by track, comentamos como as canções se relacionam com características ou atos que são capazes de afetar sentimentos mais profundos através do jogo melódico de palavras da vencedora do Grammy 2022 de Artista Revelação.

brutal

Nessa entrada, Olivia Rodrigo abre, de fato, as portas mostrando para o que veio. A faixa brutal é realmente a canção que define o conceito de SOUR – as dificuldades de ser adolescente num século onde a necessidade de estar na moda, seguir um padrão e ter a vida perfeita é (ou aparenta ser) essencial.

A canção é um exemplo da ansiedade que é ser uma jovem em evolução, trabalhando numa indústria coberta de holofotes e julgamentos.

traitor

O tom melancólico e o passo arrastado de traitor são intencionais. Eles soam exatamente como alguém que está passando por um cansaço mental. Perceber (as vezes, tarde demais) sobre como um relacionamento pode afetar e gerar paranóias, é o bastante para Olivia se ver esgotada. A agonia causada pelos arrependimentos que vem e vão na cabeça e o esforço para manter alguém se torna uma batalha pessoal, deixando cicatrizes que não passam perto de se curar.

Iniciando em tom calmo e delicado, Olivia torna a canção uma crescente que nunca se estoura por completo. Isso porque relembrar momentos específicos de um amor que não deu certo ainda machucam. Mesmo estando sarada dessa realidade, não externalizar o que restou de amargura, pode ser a gota d’agua. Ainda com muito pesar em reconhecer que estava com alguém que a fez sentir tão traída, o melhor passo para se sentir melhor é buscar uma jornada de aceitação.

drivers license

Viver um algo possui, em muitas circunstâncias, pontos que colocam um sorriso no rosto. Seja por estar feliz com o laço criado ou pelo que pode vir à frente. No explosivo hit que colocou a nova estrela da geração nos topos dos streamings e rádios, e no coração de muitos ouvintes, somos levados nessa jornada por um caminho de levezas, mas aos montes por uma enorme correnteza sobre o vazio que outra pessoa pode provocar.

A ideia de uma boa rotina é colocada logo no primeiro momento, mas as conversas sobre dirigir até a casa de seu amor quando tirar a carteira de motorista cessam e só o que resta agora é a dúvida de como seguir em frente. O fato de estar em uma fase apaixonante e que gera muitas ideias de mundos viscerais é apenas um dos fatores tratados pelas entrelinhas da música, que reverbera medo, desejo e um sentimento enorme de voltar atrás

1 step forward, 3 steps back

Em 1 step forward, 3 steps back, Rodrigo enfim abre seu coração e conta sobre como a insegurança afetou a comunicação em seus relacionamentos. A vulnerabilidade na faixa 4, causada por uma relação instável, é o reflexo de como sentimentos podem ser ainda mais delicados durante a flor da idade.

deja vu

A carga chiclete e serena da produção do single evoca lapsos de boas lembranças e como estar bem com elas devido a um rompimento pesado de carregar. A princípio, essa é, talvez desde sempre, a música mais marcante do projeto, e como reflexo da própria criação técnica (instrumentação e ambientação), as raízes líricas provam-se um ato ímpar dentro. Nesse ínterim, Olivia coloca em plano uma das sensações mais gostosas que podemos sentir: a nostalgia. Aqui, o sentimento que vem carregado de calor no peito é destrinchado por uma incrível narrativa espinhosa envolvendo as semelhanças dela com a da, também, nova garota atriz de seu antigo amor.

Ela coloca o garoto na parede, e da mesma forma que o single parece ser recitado em tom baixo somente para que o que é descrito ali, pareça apenas como uma fonte inesgotável de boas memórias. A entonação também soa como um grito que ecoa em dor e raiva, mas também, superação. De muitos modos, a faixa coloca em primeiro plano uma das partes mais duras de um processo de seguir em frente, recordar é viver, mas Olivia passa a conformar-se com o que aconteceu através deste honesto jogo de palavras, e automaticamente, nos faz sentir o mesmo.

good 4 u

Em uma das faixas mais amadas (e polêmicas do álbum), Rodrigo faz um excelente uso do pop rock nostálgico que embalou boa parte da década de 2000 em uma música poderosa – e raivosa. Assumindo a coragem de escrever uma música que transparece tanta vulnerabilidade, Olivia encara o fato de que sim, talvez ela seja emocional demais, mas que tem seus bons motivos para isso.  Boa parte das críticas que a cantora recebeu apontavam uma “imaturidade” sobre sentimentos apresentados no álbum, como se os adultos a julgar nunca tivessem enfrentado uma relação adolescente que aflorou os sentimentos e bagunçou um pouco a sanidade.

Além disso, foram apontadas semelhanças entre “good 4 u” e “Misery Business”, do Paramore. Coincidência ou não, tal semelhança levou que Olivia direcionasse royalties da música para a banda. Eventualmente, a paz foi selada para uma das melhores canções lançadas no ano passado. O hit que bombou ao redor do mundo é, definitivamente, um dos pontos mais altos (e honestos) do álbum. 

enough for you

Acima de tudo, um pensamento contínuo de Olivia durante todo o disco é: “Será que sou suficiente?”. Essa pergunta costuma ser feita para quem ela escreve suas canções, mas em alguns momentos percebe-se que ela também se olhou no espelho ao dizer essas palavras. Sua honestidade para falar sobre satisfação pessoal e o quanto acha que deve ser o bastante para alguém é crua. Só para exemplificar, enough for you abre uma pauta sobre esse tema tão recorrente entre adolescentes e jovens adultos. 

Essa confissão necessita apenas de um violão e poucas notas, porque está em sua voz angustiante toda a força necessária para fazer algo simples, mas que não é fácil: desabafar.

happier

Assim como good 4 u retrata os sentimentos de um término, happier, em contrapartida, traz uma visão mais madura e de aceitação. Mesmo assim, Rodrigo não nega seus sentimentos negativos e admite não querer o melhor ao seu ex, mostrando que nem sempre precisamos ser racionais e podemos sim ser errantes.

jealousy, jealousy

Uma guitarra sutil e vocais mais graves iniciam aqui uma das faixas que, inegavelmente, se tornam muito importantes para o desenvolvimento do álbum. É em jealousy, jealousy que Olivia libera toda a raiva, frustração e rancor que sentimos quando nos percebemos vítimas das comparações, dos problemas com a autoimagem, com todos os efeitos colaterais da geração Instagram – onde aparentemente todos são perfeitos, mas ninguém é feliz offline.

“Tudo que eu vejo é o que eu deveria ser: mais feliz, mais bonita, estou com inveja, com inveja!”. São sentimentos difíceis e que ninguém gosta de admitir que sente. Nessa faixa, Olivia os deixa extremamente relacionáveis enquanto os grita para nós. 

favorite crime

Na penúltima faixa de SOUR, Olivia abraça uma energia acústica, que se soma à harmonias arrojadas em uma balada arrebatadora sobre uma frustração sentimental. Comparando essa relação com um crime, aqui ela canta sobre todas as coisas que ela fez só para que pudesse caber nessa utopia. Percebendo como isso não apenas ultrapassou limites saudáveis, ainda a faz torcer para que ela seja o crime favorito cometido por seu parceiro amoroso. 

Mais uma vez a escrita de Olivia nos dá uma letra coesa e extremamente relacionável. Uma vez que grande parte das pessoas já teve um relacionamento tóxico e se colocou nas mãos de outra que não soube lidar com aquilo.

hope ur ok

Desse modo, encerrando a trajetória que reflete seu coração partido, Rodrigo consagra sua maturidade com a honestidade de hope ur ok. Ao abrir seu coração, a melodia que um dia foi triste, hoje se torna leve e segue um caminho ainda mais tranquilo.

Apesar da relação conturbada, a dona do Best New Artist assume ser grata pela existência de seu antigo parceiro. Isto é, gratidão à qual lhe trouxe aprendizado, sem deixar espaço para a sensação de desafago.

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