“Sticky Fingers” é um álbum marcante para os Rolling Stones. Seja por sua marca de disco mais vendido da banda, sua inserção na lista dos 200 álbuns definitivos do Rock and Roll Hall of Fame ou pela 63º posição que ocupa entre os 500 melhores álbuns de todos os tempos segundo a revista Rolling Stone, “Sticky Fingers” é um álbum completo. Há quem diga que esse não é o divisor de águas da banda britânica, tampouco o melhor disco do grupo – mas não há contestação de que esse é um disco singular, inclusive fora do âmbito musical.
Antes de adentrarmos o universo sonoro do disco, é preciso falar dos recursos visuais de “Sticky Fingers”. A logomarca icônica (tanto no sentido imagético, quanto no de originalidade) da língua Rolling Stoniana, criada pelo artista visual John Pasche, vem ao mundo para figurar, pela primeira vez, em um trabalho dos Stones. O gesto que até bebês conseguem reproduzir passou a ser a identidade visual da banda. Mal sabia o grupo o quão notável aquela língua seria para a sua própria história.
Ademais, a capa do álbum é um tanto esdrúxula: a fotografia da pélvis de um homem, visivelmente excitado, foi tirada pelo prestigioso pintor Andy Warhol. Os vinis de “Sticky Fingers” contavam com um zíper em suas capas – o que viria a ser questionado pelos ouvintes da banda, que diziam que o fecho estragava os discos. Tamanha excentricidade viria a ser uma inspiração para o trabalho de estreia da banda Mötley Crüe, “Too Fast For Love”, lançado em 1981, e do disco “Like a Prayer”, da célebre Madonna, lançado em 1989. Além disso, em 2003, a rede de televisão VH1 reconheceu a arte do décimo primeiro álbum dos Rolling Stones como a melhor capa de disco de todos os tempos.
A capa foi censurada em alguns países – como foi o caso da Espanha, que viveu sob a ditadura do general Francisco Franco até quatro anos após o lançamento do disco. O novo visual foi criado pelo artista Phil Jude. Censuras à parte, embora a nova capa não fosse tão memorável quanto à concebida por Warhol, os dedos melados faziam mais jus aos “Sticky Fingers” (dedos melados).
Musicalmente falando, “Sticky Fingers” segue caminhos diferentes de seus antecessores. O som da banda perde um pouco de seu rock característico, e começa a fazer uma curta viagem ao blues. Esse passeio fica claro na faixa “I Got The Blues”: uma composição arrastada e igualmente envolvente. As faixas, em si, apresentam uma distribuição equilibrada, de modo com que o disco não contém uma grande amplitude sonora – isto é, as faixas dançantes não são colocadas logo após as recolhidas. Mesmo assim, o disco consegue abranger diferentes emoções em todas as dez composições.
A temática do disco aborda a efemeridade dos relacionamentos românticos, como é visível em “Wild Horses”, mas também não deixa de passear pela tríade “sexo, drogas e rock n’ roll” – “Brown Sugar” e “Sister Morphine” são excelentes exemplares do estilo de vida dos Rolling Stones na época em que “Sticky Fingers” foi concebido. Na verdade, o disco passou por um período de dois anos até que ficasse pronto. Foi durante a turnê do disco anterior, “Let It Bleed”, que Keith Richards, o guitarrista dos Stones, começou a fabular as próximas composições do grupo. Dois anos depois, “Sticky Fingers” é lançado pela Rolling Stones Records, sendo esse o primeiro lançamento da gravadora da própria banda. Sendo um disco de muitos “primeiros”, o álbum conta, pela primeira vez, com o nome de Mick Jagger, líder da banda, creditado como guitarrista, bem como com a presença de Mick Taylor, integrante que passou a fazer parte dos Stones após a morte do músico Brian Jones, em 1969.
Mesmo que “Sticky Fingers” não seja reconhecido no âmbito geral como o melhor álbum dos Rolling Stones, esse é, com toda certeza, um excelente exemplar musical para a banda e para a história do rock n’ roll.