Thalles é cantor, compositor e ator, atualmente trabalha na divulgação de seu primeiro álbum de estúdio “Utopia“, e em paralelo segue com o projeto musical “12xsingle“. 100% do material é escrito por ele. Além dos projetos músicas, Thalles é o principal idealizador do projeto “Talvez seja agora” no Instagram e se encontra no elenco regular da nova série da Rede Globo “As five”.
Em um bate papo com a redação Thalles contou um pouco mais sobre seus projetos e carreira:
Lucas: Em suas composições, é notória a presença de elementos dramáticos. Quais são suas influências e inspirações na hora de compor?
Thalles: Não sei dizer. Até porque cada música é uma música. Não tem influência que seja unânime e que sirva como influência pra todas elas (risos). Mas sinto que na hora de compor eu recorro a tudo que me remete àquele sentimento que eu quero abordar, seja através de imagens, literatura, filmes e até outras músicas. Mas também nem sempre, às vezes só sai. É muito sem regra. Nem eu entendo muito bem como funciona meu processo, até porque varia muito. O mesmo acontece com o que me inspira. Acho que tudo tem potencial para servir de inspiração. E às vezes algo que me inspirava três semanas atrás, já não me diz muito hoje… Acontece. Um dia eu estava vendo umas obras de um artista visual e uma imagem, em particular, me tocou muito. Aquilo ficou muito forte em mim. Dois dias depois aquele desenho acabou virando uma música.
Lucas: Como sabemos, além de compor, você também dirige e roteiriza seus próprios clipes. Como é seu processo criativo? Escreve a música e depois pensa no clipe ou as ideias surgem simultaneamente?
Thalles: Dependendo da música, é um processo que acontece ao mesmo tempo. Enquanto escrevo, vou criando essas imagens na minha cabeça, que muitas vezes são aproveitadas nos clipes. Algumas são descartadas para o registro visual, pois acabo descobrindo outras depois que considero mais interessantes. You, the Ocean and Me é um bom exemplo disso. Quando escrevi a música, não tinha essas imagens que mais tarde apareceram no clipe. Era mais como uma história, algo mais literal, uma narrativa linear. Só que quando chegou o momento de pensar no roteiro do clipe, eu tinha essa vontade de fugir dessa narrativa linear e literal e queria traduzir em imagens, símbolos e metáforas, todos os sentimentos possíveis para um relacionamento à distância. E aí comecei a trabalhar nisso. Então depende de cada música.
Lucas: Como você se sente em relação à recepção do público ao álbum “Utopia”, tendo em vista que é um estilo musical pouco comum no mercado brasileiro?
Thalles: Quando eu lancei o primeiro single do álbum, Sad Boys Club, eu fiquei realmente surpreso com a repercussão que a música tomou. Eu nem sabia como isso tinha acontecido, na verdade. Com o segundo single, You, the Ocean and Me, o movimento foi ainda mais forte. Algumas pessoas me mandavam páginas do Facebook que usavam quotes da música, tweets de pessoas compartilhando o link da música, vídeos no YouTube com tradução e letra. Foi uma coisa muito bonita e surpreendente pra mim. É lindo quando um trabalho teu começa a ganhar vida própria. Eu percebi ali que as letras tocavam as pessoas da minha geração. Elas se (ou)viam ali.
Lucas: Em “Utopia”, as músicas se conectam umas com as outras, de maneira direta ou indireta, como um único universo. Como foi a concepção dessa atmosfera?
Lucas: Em “Utopia”, as músicas se conectam umas com as outras, de maneira direta ou indireta, como um único universo. Como foi a concepção dessa atmosfera?
Thalles: Não foi intencional, num primeiro momento. Eu não comecei a escrever o álbum pensando nisso “vou escrever um álbum que se conecte”. Claro que em um disco a ideia é que as músicas dialoguem entre si, que façam parte de um mesmo universo musical e conceitual. Mas eu não tinha essa pretensão de contar uma história. Isso eu só fui perceber que tinha acontecido quando eu havia terminado todas as letras. Eu não tinha nem o título do álbum ainda. Eu literalmente coloquei todas as letras uma do lado da outra, numa mesa, e comecei a ler como um enorme poema. E eu percebi que ali tinha uma história. Uma jornada de um personagem. Era quase como se acompanhássemos três dias seguidos e intensos da vida desse personagem. Isso aconteceu inconscientemente. Aprendi que a despretensão tem força também.
Lucas: “I Have No Heart” nos apresenta mais um capítulo dessa história. Podemos esperar mais clipes? No vídeo, tem uma menção à canção “Blessed”, seria ela a próxima a ganhar um clipe?
Thalles: Sim, ainda restam cinco vídeos desse projeto visual. Eu não sei te dizer se Blessed será a próxima a ganhar clipe. Eu tenho o roteiro de todos pronto. Mas escolher o próximo a ser filmado tem muito a ver com a produção do mesmo. E isso reflete no momento em que estamos vivendo. É preciso entender como as coisas funcionarão daqui pra frente e quando será o momento certo de voltar a filmar, da maneira mais segura possível. Até porque os roteiros são um pouco complexos. Cada clipe é quase como um curta.
Lucas: Tem algum artista que você tem muita vontade de fazer parceria, tanto na música quanto no teatro/TV/cinema?
Thalles: Claro. Em todas essas áreas. Mas acredito que o teatro seja o lugar em que mais tenho vontades. Adoraria trabalhar com o Gabriel Villela, Bete Coelho, Nelson Baskerville, Enrique Diaz, Grace Passô, Denise Weinberg, Clara Carvalho e a lista segue…
Lucas: Sobre o projeto “Talvez seja agora”: o que motivou a fazê-lo e como tem sido a recepção e o engajamento das pessoas?
Thalles: Tudo começou no Instagram. Há um tempo eu venho brincando com aquela ferramenta dos stories, onde você faz uma pergunta numa caixinha e as pessoas respondem. E eu ficava encantado com o fato de que a pergunta era a mesma pra todos e cada um interpretava de uma maneira, diversas respostas completamente diferentes. Cada pessoa é um universo. Então fiquei com isso na cabeça. E aí veio a pandemia. O isolamento. E conversando com amigos, senti que todo mundo estava nesse momento de reavaliar as coisas, a caminhada até aqui, as relações… Foi num post da Silvia Gomez, dramaturga, que me deparei com essa frase “queria te dizer isso agora porque se há um momento para dizer, talvez seja agora”. Aquilo conectou todas essas ideias que estavam suspensas até então. Foi aí que o projeto surgiu. E a recepção tem sido linda. Eu me emociono com algumas mensagens. Lendo todo o material recebido, a única coisa que não sai da minha cabeça é que somos do mesmo material. Ao mesmo tempo que somos tão diferentes, somos muito parecidos.
Lucas: O “12xsingle” é seu projeto paralelo ao álbum “Utopia”, como ele surgiu? Como você concilia a produção dos dois materiais?
Thalles: O 12 X single surgiu no ano passado. Eu tinha essa música que eu cantava nos shows e que até então não tinha nome. Minha primeira composição bilíngue (inglês e português). Mas eu não tinha a pretensão de lançar uma versão de estúdio, até porque eu achava que ela nem tava pronta. Aí as pessoas começaram a pedir pra tocar nos shows mais vezes… E na internet comecei a receber pedidos para gravá-la oficialmente. Em paralelo a isso, eu já tinha vontade de lançar uma versão alternativa de You, the Ocean and Me – que acabou virando uma versão bilíngue também (inglês e francês) com a Ana Larousse. E foi aí que criei esse projeto. Gravei a tal da música dos shows que não tinha nome, que ganhou o título de O Rio que Amava o Mar (The Fall), gravei essa versão alternativa de You, the Ocean and Me e decidi que gravaria outras músicas que não entraram no Utopia e outras descartadas para o segundo álbum. E a dinâmica foi essa: uma música a cada mês. Foi uma aventura boa. Aprendi muito sobre composição e produção nesses últimos meses. E em simultâneo sigo com a produção do Utopia visual. No ano passado, quando estava filmando I Have no Heart, a agenda era uma loucura. De manhã, produção do single daquele mês, pausa pro almoço e depois reunião do clipe.
Lucas: Vimos que série “As five” será transmitida pela Rede Globo. Seu último trabalho na TV aberta foi na novela “Amor à vida” em 2013, certo? Qual é a sensação de voltar à TV aberta depois de tanto tempo? Existe alguma informação sobre seu personagem que possa compartilhar conosco?
Thalles: Foi bom estar de volta. Nesse intervalo de 2013 pra cá, vivi muita coisa, amadureci como artista, fiz muito cinema, teatro… Foi muito bom voltar, sinto que trouxe um outro olhar para as coisas. Sem tanta afobação. Na novela foi o meu primeiro trabalho na TV, na maior emissora do país, numa novela das nove – que mais tem audiência, com aquele elenco de peso, pensa… Era tudo muito grande. E era muito novo. Entrar naqueles estúdios me deixava nervoso. Voltar pra lá depois desses anos foi a melhor coisa. Me diverti e me senti muito à vontade. O meu personagem na série se chama Nem e ele começa a se relacionar com a Benê, personagem da Daphne Bozaski. O que eu posso dizer é que ele é muito peculiar. A primeira vez que li todos os capítulos foi no quarto de hotel, prestes a começar a preparação da série. Eu não fazia ideia do que era o personagem. E eu lembro que eu tinha combinado de descer pra jantar com a Gi Grigio tal horário (ela também estava lendo no quarto ao lado). E a gente simplesmente não conseguia parar de ler. O personagem me surpreendia a todo momento. E tem uma sequência específica, que eu não posso dizer porque é um baita spoiler, que foi o auge. Quando eu fui encontrar a Gi, ela abriu a porta do quarto rindo alto. Ela tinha lido a mesma cena. Enfim, acho que isso já diz um pouco sobre o personagem (risos) e do que ele pode causar.
Lucas: Para finalizar, a nossa redação quer saber: quais são os artistas ou músicas que não saem dos seus ouvidos nos últimos dias? Está acompanhando alguma série que gostaria de indicar?
Thalles: Isso varia muito e a todo instante (risos). Não tenho escutado nenhum álbum específico. Nesses últimos dias ando ouvindo a nova da Billie Eilish, “My Future”, “Fade into You” de Mazzy Star, as duas novas do James Blake, “You’re Too Precious” e “Are You Even Real?”, “Your Love is Killing Me” da Sharon Van Etten. Esses dias revisitei o álbum Grace do Jeff Buckley, que eu amo. E por aí vai, fico indo e voltando no tempo. E bem, sobre série… A última série foda que eu vi foi I May Destroy You [a gente falou dela por aqui!], da HBO. Baita série (!!!) e super pertinente.