Na véspera do Dia do Nordestino, comemorado neste 8 de outubro, o cantor pernambucano João Gomes fez história ao ser a primeira atração do formato Tiny Desk brasileiro. O programa consagrado internacionalmente teve a honra de se “naturalizar” por aqui com um pernambucano que representa parte da múltipla cultura do Nordeste do Brasil. A escolha de um artista fora do eixo São Paulo — Rio de Janeiro foi certeira. Afinal, ao importar o formato, o Tiny Desk Brasil visa reforçar e realçar a produção de um país de dimensões continentais.
João Gomes é um ótimo exemplar de música brasileira, inclusive como a atração responsável por dar o pontapé inicial do projeto. Com o piseiro pernambucano, o artista de Serrita fala sobre o gênero de suas canções: “Acho que a principal característica do piseiro ter dado certo é que a galera consegue dançar e sofrer ao mesmo tempo. Então, a gente trouxe uma sofrência aí”.
O som do Brasil
A setlist começou com “Dengo”, colocando um pé leve porta adentro, como quem pede licença para chegar. Em seguida vieram “Deusa de Itamaracá”, “Meu Cafofo” e “Pra Que Fui Me Apaixonar”. A quinta faixa da ordem era “Meu Pedaço de Pecado”, e ainda não era a última. As performances do Tiny Desk não costumam ser tão extensas – geralmente se bastam em três ou quatro faixas. Talvez por ser o “episódio piloto” da versão nacional deste formato de apresentações, a setlist mais longa seja uma estratégia para manter o espectador por mais tempo no vídeo e, consequentemente, familiarizar o olhar para o cenário e a estrutura dos programas.
Se for por causa do talento de João Gomes, também serve. O artista finalizou seu show com três de suas composições mais famosas: “Reencontro”, “Aquelas Coisas” e “Eu Tenho a Senha”. Gomes esteve acompanhado de uma banda montada especialmente para a ocasião: Jeovanny Sanfoneiro (sanfona), Michael Pipoquinha (baixo), Kainã do Jêje (bateria), Gilú Amaral (percussão), Chibatinha (guitarra), Pedro Porto (violão) e Nilson Sax (flauta e sax).
“Ele descreve o grupo com entusiasmo: ‘Só tem menino bom’, e acrescenta: ‘Fui chamando músicos que eu gosto e tinha vontade de tocar junto’. Para enriquecer o som, ele propôs ao saxofonista Nilson que tocasse flauta também. ‘Vai ser uma loucura o que a gente vai fazer. Pode errar? Pode. Mas vai ser tudo de verdade’, relata, empolgado. O repertório inclui duas músicas que, em suas palavras, ‘mereciam uma segunda chance, um novo coração’: ‘Reencontro’ e ‘Deusa de Itamaracá'”, informou a equipe do Tiny Desk Brasil.
Como onda, em um balanço
Diferente dos colegas brasileiros que já se apresentaram na versão original do Tiny Desk — como Milton Nascimento, Seu Jorge, Liniker, Rodrigo Amarante, Bebel Gilberto, Luedji Luna e Luiza Brina — João Gomes leva ao programa um novo símbolo da nossa latinidade: o til. Essa ondinha, ausente nos nomes anteriores, marca a chegada de um som e de um sotaque que faltavam no repertório do estúdio em Washington. João, um nome tão brasileiro e tão comum, representou a cultura nacional em um amplo contexto, mesmo sendo o piseiro um gênero musical nichado.
Quanto às apresentações internacionais que rolaram por lá, João menciona Aminé e Mac Miller como seus artistas favoritos. “Fiquei pensando se um dia poderia chegar nesse lugar. Estar aqui é um momento único pra mim.”, conta o artista.
Estão confirmadas duas temporadas com cinco episódios cada, lançados semanalmente às terças-feiras, sempre no canal oficial. O programa é baseado no “Tiny Desk Concerts” criado por NPR, e tem produção de Anonymous Content Brazil. O show de João Gomes é apresentada por Volkswagen Tera.
Sobre o Tiny Desk
Criado pela NPR, o Tiny Desk é uma série de shows intimistas em que artistas se apresentam em um pequeno estúdio decorado com objetos pessoais e uma pegada maximalista. O diferencial está na simplicidade: nada de luxos ou superprodução. Sem retorno de palco, com som cru e uma plateia separada apenas por uma mesa de escritório, o formato ganhou o coração do público por aproximar o artista de quem assiste.
Além dos Estados Unidos, apenas Japão e Coreia do Sul têm versões oficiais do programa. O Brasil é o terceiro país do mundo a fazer parte desse projeto — e não por acaso: somos o segundo país que mais assiste ao Tiny Desk no YouTube.