Historicamente, o punk, seja na música ou no estilo de vida, sempre se pautou na falta de encaixe com a sociedade. É até paradoxal e irônico, pois, ao pensar no termo, automaticamente se materializa um estereótipo bem específico em nosso subconsciente sobre o que é ser punk: cabelos extravagantes, roupas pretas e nada minimalistas, discursos ácidos e muitos, mas muitos spikes. Sexo, drogas e rock n’ roll. Tudo potencializado à la Sid Vicious.
Mas, assim como em qualquer gênero musical, ele também é composto de experimentalismo. E, em uma era em que o atestado de óbito do rock já está previamente escrito por precaução, advindo da dúvida saudosista de seus ouvintes, é nesse experimentalismo que o Turnstile grita jovialidade e renovação.
Na tradução literal do inglês, o nome pode ser entendido como “catraca”. Por mais que a origem tenha vindo de uma música da banda Hot Water Music, a explicação baseada na língua faz total sentido, já que estamos presenciando uma banda que funciona como parada obrigatória entre o estilo como o conhecemos e todo o potencial que ele pode alcançar.
Naturais de Baltimore, iniciados em 2010 e totalmente influenciados pela cena hardcore que dominou um Estados Unidos jovem e efervescente, o Turnstile é a perfeita tradução do punk para terras estadunidenses e também o encontro desse gênero com vertentes britânicas do hardcore.
Inicialmente, a banda foi formada por Brendan Yates (vocal principal e teclados), Franz Lyons (baixo e vocal), Daniel Frang (bateria), Brady Ebert (guitarra) e Sean Cullen (guitarra). Quando Cullen deixou a formação, Pat McCrory assumiu as guitarras, cenário parecido com a saída de Ebert, que, após um vácuo no grupo, trouxe Meg Mills e todo o poderio feminino que atualmente conquista o devido espaço no gênero.
O Turnstile nasceu como hardcore, e isso fica muito evidente em seu álbum de estreia, Nonstop Feeling, de 2015. Recheado de riffs pesados e a ponto de ebulição, o registro grita características de uma cena que tinha acabado de passar pelo seu auge. Já seu segundo registro, Time & Space, de 2018, unia ao hardcore elementos do rock clássico, mostrando um agrupamento desnorteado com o enfraquecimento do estilo e buscando encontrar seu som.
Nesse sentido, o Turnstile se mostra o maior representante da Geração Z no gênero. Jovens que viveram a promessa de abundância e prosperidade, e quando chegou sua vez, viram o mundo (e seu gênero) tomado pela incerteza. E isso foi um dos maiores combustíveis que a banda podia ter.
Mas foi com GLOW ON, de 2021, que a banda usou a incerteza a seu favor. Em um disco que vai do rock alternativo a batidas do funk americano, o grupo de Baltimore percebeu que é na imprevisibilidade que eles se encontram. Esse caminho de experimentação possibilitou que eles chegassem a seu mais recente álbum, NEVER ENOUGH, facilmente uma das melhores produções de 2025. Retomando o hardcore que o moldou, a banda se permite muito mais, acenando até para o pop e transformando essa bagunça organizada em uma das melhores experiências fonográficas do gênero – se é que pode ser enquadrada em algum.
O Turnstile é punk? É hardcore? É rock alternativo? É pop? Sinceramente, não faz diferença. O que importa é que a banda é uma das inúmeras respostas para a pergunta “O que é ser punk rock?”, potencializada pelo cinema de heróis em 2025. Para eles, ser punk rock é não se prender aos rótulos que a sociedade e a indústria fonográfica impõem, entender a bagunça que é o ser humano e, acima de tudo, fazer muito barulho, no melhor sentido da palavra.
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A banda é uma das headliners do Lollapalooza Brasil 2026, ao lado de nomes como Sabrina Carpenter, Tyler, The Creator e Chappell Roan, prometendo um dos shows mais enérgicos da edição.