Crítica | We Are Who We Are destrincha autodescobertas em camadas com beleza visual de cinema

We Are Who We Are tem ritmo próprio, roteiro intenso e beleza poética de cinema para contar sobre as descobertas da adolescência.

We Are Who We Are foi apontada como uma série para os órfãos de Euphoria durante o hiato do produção, mas nem de longe se aproxima da premissa da primeira. Ela também é sobre as descobertas da adolescência, mas tem bem menos insanidade e agitação. Com uma fotografia impecável, a série se desdobra em um ritmo próprio, que para muitos pode parecer lento, mas na verdade é poético e certeiro.

Cada elemento na série importa, cada detalhe contribui para a narrativa dos personagens. Personagens estes que aliás, são um retrato interessante da complexidade humana, tanto na adolescência quanto na vida adulta. Fraser (Jack Dylan Grazer) e Caitlin (Jordan Kristine Seamon) são o duo adolescente principal e estão no ápice da descoberta de suas identidades. Hora muito maduros, hora infantis, eles exploram juntos e também individualmente os caminhos confusos da adolescência. A diversidade é abertamente explorada na série, mas de uma forma tão simples e bem integrada, que as dúvidas sobre questões de sexualidade e gênero não parecem estar ali só por conta de sua contemporaneidade, mas sim, algo que é real e inerente à adolescência.

O núcleo adulto da série também demonstra a sua própria dinâmica conflituosa, por meio dos casais Sarah (Chloë Sevigny) e Maggie (Alice Braga) – mães de Fraser – e Richard (Kid Cudi) e Jenny (Faith Alabi) – os pais de Caitlin.

No caso do casal de lésbicas, a dinâmica familiar se alterna com frequência, as relações entre os três se mostram cheias de camadas e levantam questionamentos, principalmente sobre a relação entre Fraser e a mãe biológica, Sarah, que hora parece abusiva, hora levemente competitiva. Enquanto Maggie, parece um terceiro elemento, que gosta de Fraser, mas não o vê de fato como seu filho, além de não parecer se sentir 100% parte da família de fato.

Já a família de Caitlin – composta por ela, o pai, a mãe e o irmão – embora pareça o retrato de uma família bem integrada, apresenta conflitos tóxicos. O pai se mostra um homem preconceituoso com o casal de vizinhas, a mãe parece infeliz e confusa sobre quem quer ser e o irmão, muitas vezes abusivo, está em constante conflito e sempre com raiva, já que só é meio-irmão da personagem.

We Are Who We Are não tem o objetivo de trazer respostas, mas de mostrar que as perguntas existem e que cada um tem seu tempo e seu modo de interpreta-las e responde-las. Diante de tantas camadas, tantas coisas para explorar e em seu próprio ritmo, a série consegue respirar enquanto envolve o espectador em um roteiro cheio de tensão e sensibilidade.

Um retrato visual sobre os conflitos da vida, feito com uma fotografia lindíssima, que é mérito e característica principal do showrunner Luca Guadagnino (Call Me By Your Name/Suspiria). Vale ressaltar que, por meio de seu visual, a série consegue ser quase sensorial, tem cheiro de verão, gosto de nostalgia e um toque visual poético de filmes independentes que só Guadagnino sabe entregar.

Assista We Are Who We Are na HBO.

Nota do autor: 85/100

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