Crítica | 10 anos do “Loud” da Rihanna

Em 10 anos de Loud, Rihanna mostra como fazer um disco atemporal que funciona graças a sua habilidade de camaleoa na música.

É muito difícil encontrar um disco que não contenha pelo menos uma faixa em que seus ouvintes digam que não seria necessário tê-la na tracklist. O tão discutido ‘filler’, é termo bem famoso entre fãs de anime, e serve para definir episódios que são apenas um enchimento na história, que não a fazem andar e sua existência não fazer diferença alguma. Algumas vezes é possível ver essa discussão sobre trabalhos musicais, mas raro são os momentos em que a maioria concordo que possam existir aqueles que simplesmente não tem ‘fillers’, onde todas as músicas que fazem parte são importantes e nenhuma soa fora de contexto. O álbum da cantora Rihanna que mais se adequa nessa definição é sem sombra de dúvida aquele que faz dez anos em 2020. Loud.

Chega a ser engraçado olhar sua lista e até imaginar que aquilo poderia ser facilmente um ‘Greatest Hits’, já que seu lançamento foi em uma (das muitas) eras em que Rihanna era uma das maiores hitmakers do momento. Começando já pelo seu primeiro single, ‘Only Girl (In The World)’ foi uma das grandes justificativas de que a cantora pode passear entre vários gêneros sem parecer perdida onde canta. Do pop ao r&b, cruzando o eletrônico, ela prova que sua voz é uma das melhores no que diz respeito a tomar um estilo para si e dominá-lo completamente. A prova do sucesso desta música foi ganhar o Grammy de melhor gravação eletrônica (em um ano onde a disputa era muito acirrada) e incontáveis #1 através das paradas ao redor do mundo.

A facilidade que Rihanna tem para passear entre gêneros é culpa de sua personalidade, que sabe ser aplicada tão bem em qualquer som que se propõe em fazer.

A pegada energética foi um dos grandes fatores que o fizeram se tornar tão memorável, mas a artista também presentou os fãs com ‘What’s My Name’, ‘Raining Men’, a balada ‘California King Bed’ e a parte dois da atemporal ‘Love The Way You Lie’. Com exceção daquela que canta sobre um tipo de cama, temos as três participações de muito peso no álbum. Drake, Nicki Minaj e Eminem são artistas tão grandes quanto a protagonista e com tanta personalidade quanto, o que só deu mais força a essas três canções.

É com uma balada que Rihanna demonstra um dos melhores momentos entre quase quarenta e sete minutos de Loud. ‘Skin’ é uma das faixas não single favoritas do público e também aquela que sempre está presente em playlists com teor sexual. Sexo é um tópico recorrente, já que em ‘S&M’ temos literalmente uma música que fala sobre a prática do BDSM. Outro destaque interessante fica a cargo de ‘Cheers (Drink To That)’, que trouxe um sample de ‘I’m With You’ de Avril Lavigne de forma que parece até estranha a princípio, mas que depois transforma seu refrão em um dos mais viciantes.

Um dos maiores pontos é a presença de produtores Ester Dean e Stargate, dois produtores que tem uma sonoridade completamente diferente, mas que se tornam tão interessantes de ver em um mesmo álbum, culpa de Rihanna, pelo motivo dito um pouco acima sobre sua capacidade de camaleoa e funcionar tão bem fluindo entre diferentes sonoridades.

Loud pode ser previsível, mas por um bom motivo: pelo fato de ser um disco com tantas músicas marcantes.

O que torna Loud um álbum tão necessário na discografia de Rihanna é provar que suas habilidades como hitmaker transcendem todo e qualquer gênero que ela se proponha a fazer. Agora é muito mais fácil olhar para a personalidade (já que é impossível chamá-la apenas de cantora hoje em dia) e enxergar alguém que sabe colocar tudo de si em qualquer coisa que se proponha a fazer, não só na música. Após dez anos do seu lançamento ainda é possível ouvir este disco e parecer que ele foi lançado duas semanas atrás. Apesar das características bem marcantes sobre a época que ele saiu, ele é um dos poucos que conseguiu não ficar datado e ser um daqueles que mesmo se uma música for tocada em uma festa agora, as pessoas reconhecem… mesmo que sejam aqueles que eram tão novos em 2010.

Após a sequência entre Rated R e este não tem como não dizer que estamos ouvindo e lidando com alguém sem limites, Rihanna tem uma inteligência musical e profissional o suficiente para se fazer um ícone como que vai permear na lembrança mesmo quando não existir mais.

Nota do autor: 76/100

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