No auge de seus 63 anos Madonna esbanja vitalidade para alongar seu legado. São mais de 14 álbuns de estúdio, soundtracks, remixes e coletâneas, além de carregar o título de artista feminina que mais lucrou com suas turnês. Segundo o livro dos recordes, Madonna vendeu cerca de 300 milhões de discos em todo o mundo.
É nítido que com uma carreira tão ampla e longa seja difícil classificar com justiça todos os álbuns, por isso é importante destacar que mesmo aqueles que não entraram na lista são obras pop de grande impacto e valor. Menção especial para o disco American Life, o trabalho mais político de Madonna que gerou polêmicas mas também se mostrou uma obra de vanguarda ao questionar o governo e o estilo de vida dos norte-americanos.
Leia a parte 1 da nossa seleção “10 discos essenciais para conhecer Madonna“
Abaixo você confere a parte 2 da nossa seleção dos 10 melhores e essenciais álbuns para conhecer Madonna e como a rainha do pop construiu um império no mundo da música.
5. Music, 2000
Precedido pelo sucesso de Ray of Light, Music nasce com a promessa de superar seu antecessor. O oitavo disco de Madonna é um dos seus sucessos incontestáveis, com grande destaque de vendas e crítica. O álbum abre a década de 2000 com a artista mergulhando mais a fundo na música eletrônica e diferentes caminhos do pop.
As principais influências do disco são o pop e o eletrônico que mesclam entre elementos country, folk e rock. Madonna testemunhava o nascimento de uma geração de novas cantoras como Britney Spears e Christina Aguilera, logo buscou compreender o que o mercado consumia e como poderia se adaptar para repetir o sucesso de seu trabalho anterior. A princípio a artista manteria a produção semelhante a de Ray of Light, no entanto a cantora foi apresentada ao DJ francês Mirwais Ahmadzaï e se animou com a forma de trabalho dele, descartou boa parte do material já produzido e decidiu incluí-lo ao time de colaboradores do álbum.
Em 21 de agosto de 2000 Madonna pede ao DJ para que toque uma música, e é com o single “Music” que a artista inicia sua nova era. Com visuais country e sonoridade derivada do electro-funk e disco music, a faixa se tornou um grandioso sucesso, liderando as paradas de mais de 20 países e se consagrando como o 12° Top 1 de Madonna na Hot 100.
Além da faixa título, outras canções chamam atenção neste que é um dos melhores álbuns da década de 2000. A aguçada “Nobody’s Perfect” chama atenção pelos efeitos vocais marcantes. A faixa single “Don’t Tell Me” mostra uma mulher de atitude e rendeu a Madonna ótimas críticas para a performance vocal e o videoclipe despojado. Além destas, uma faixa que merece o devido destaque é “Impressive Instant“. Recheada de sintetizadores, efeitos vocais robotizados e uma atmosfera futurista, a música é uma das melhores faixas do álbum, extremamente elogiada pela crítica e definida como uma das canções mais extravagantes e cativantes de Madonna.
Em destaque a faixa “Gone”
Em meio ao agito do compilado de faixas eletrônicas Madonna acaba também por inserir baladas e músicas mais lentas em seu majestoso trabalho. “Gone” é uma das faixas mais introspectivas e pessoais de todo o álbum, ao lado dela também encontram-se as melancólicas “I Deserved It” e “Paradise (Not For Me)”.
Em “Gone” Madonna utiliza da letra para mostrar como se sente naquele momento em específico, demonstrando sua vulnerabilidade, nos dizendo como se sente quebrada por não ser da maneira que os outros querem. A produção é um contraste entre elementos de corda e eletrônicos que reforçam um dos melhores vocais já apresentados por Madonna.
4. Confessions On A Dancefloor (2005)
Após o polêmico e ácido “American Life”, Madonna abre as portas da discoteca e mergulha de cabeça em seu décimo álbum lançado em novembro de 2005. Confessions chega para reerguer a imagem da artista após uma era de muitas polêmicas, boicotes e um tom político extremamente forte.
O álbum marca o retorno de Madonna à dance music, com influências diretas da década de 80 as faixas funcionam como uma mixtape de pista de dança, as canções foram produzidas de forma que estejam interligadas sem nenhuma pausa entre elas. Sonoramente o disco mescla elementos da disco music e electro pop que se misturam a samples e interpolações de canções de artistas como ABBA, Donna Summer, Pet Shop Boys, Bee Gees e Depeche Mode.
Destaca-se sobre as demais o lead single Hung Up, balançando a crítica e público. A faixa que conta com o sample de “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)” do grupo ABBA se tornou um dos maiores hits de 2005, conquistando o topo das paradas em 45 países ao redor do mundo, o que rendeu a Madonna o recorde de canção que mais ficou em primeiro lugar na história.
O single foi amplamente elogiado pela crítica, os elementos de produção como o looping infinito de “Gimme!” e o tic tac do relógio chamou atenção dos especialistas, a composição e produção são definidas por muitos como “uma das obras mais inteligentes da artista” e é dito como um dos maiores acertos da carreira de Madonna.
Além de dominar as paradas mundiais Confessions garantiu a Madonna o topo na lista de turnês femininas mais lucrativas de todos os tempos até então. A “Confessions Tour” se tornou uma das favoritas dos fãs, sua grandiosidade levou a artista a faturar mais de 200 milhões de dólares e um público de mais de 1 milhão de pessoas. Destaca-se aqui as performances de “Future Lovers/I Feel Love” que abre o show com Madonna descendo de uma discoball, e também a polêmica performance de “Live To Tell” onde a cantora aparece em uma cruz com uma coroa de espinhos e ao fundo um contador exibe a quantidade de crianças que morreram de AIDS na áfrica no ano de 2005.
Em destaque a faixa “Forbidden Love”
Escrita e produzida por Madonna em parceria com Stuart Price, Forbidden Love é uma das composições mais bonitas da coletânea. A sétima faixa do álbum contém uma atmosfera de amor impossível, em sua letra a artista se debruça sobre diversos recursos românticos e declara ao seu amado “Apenas um sorriso em seu rosto/ Foi o suficiente para mudar minha fortuna”.
A canção causou diversas polêmicas por conta de sua apresentação durante a Confessions Tour, onde após cantar Live To Tell em uma cruz Madonna se direciona a dois dançarinos que contém pintado e seus corpos a “Estrela de Davi” e a “Lua Crescente” que simbolizam os povos judeus e mulçumanos,respectivamente. As críticas surgiram entre grupos religiosos que acusavam a cantora de blasfêmia, no entanto a mensagem principal que Madonna desejava passar era a união entre os dois povos.
3. Erotica (1992)
O quinto álbum de Madonna é carregado de significados e polêmicas. Erotica é o ponto em que o reinado da artista entrou em questão: poderia uma mulher ser tão ousada? Sob o alter-ego de Rita Parlo, Erotica é um álbum que se situa na mistura entre elementos dance-pop, disco, modern house e techno, e suas letras são uma mescla entre metáforas sexuais, romance e um lado extremamente pessoal de Madonna.
Repleto de duplos sentidos e insinuações, o álbum surge juntamente com o livro “Sex“, uma coletânea de fotos eróticas e sensuais da rainha do pop. A crítica e o público receberam de maneira extremamente negativa, diversos veículos diziam que Madonna tinha ido longe demais e que sua carreira estava em declínio. Para muitos a década de 90 seria a última que a artista teria sucesso considerável antes de cair no esquecimento. Com polêmica ou não, Sex foi um dos livros mais vendidos segundo o The New York Times, mais de 150 mil cópias da edição foram comercializadas em seu dia de lançamento.
Para a crítica, Erotica era o trabalho mais controverso de Madonna, muitos acreditavam que o disco seguia um caminho extremo e exagerado. No entanto, diversos críticos elogiaram a performance da artista ao entregar um álbum tão provocante em uma época em que a AIDS e o sexo eram tratados como tabus extremos. A revista Rolling Stone revistou o álbum em uma recente review e atribuiu ⅘ estrelas.
“Erotica é tudo o que Madonna tem sido denunciada por ser – meticulosa, calculada, dominadora e artificial. Ele aceita essas acusações e respostas com um histórico brilhante para prova-los.”
Rolling Stone
Apesar de todas as críticas, polêmicas e revoltas que causou, Erotica envelheceu com o título de álbum revolucionário na indústria musical. Madonna demonstrou que desejos e fantasias sexuais não precisam ser tabus, muito menos quando se é mulher. A artista ainda trouxe mais uma vez para os holofotes a questão da AIDS, levando ao mainstream uma das questões mais fortes da década de 90.
Em destaque a faixa “In This Life”
A canção mais emotiva do disco é uma homenagem de Madonna a um amigo que morreu em decorrência da AIDS, com apenas 23 anos. Martin Burgoyne dividia o quarto com a artista no início dos anos 80 e se tornou um grande amigo. A faixa traz em sua produção um fundo melancólico, instrumentos de corda, teclado e bateria, compondo a atmosfera que se fecha nos vocais secos e marcados da cantora.
Em sua letra Madonna declara “Nessa vida eu te amei mais que tudo/ Pra quê?/ Porque agora você se foi e eu tenho que me perguntar/ Para quê?/ Pelo que?”, e questiona “Quem será o próximo?”.
2. Like A Prayer (1989)
Lançado em 21 de março de 1989, Like A Prayer é o quarto álbum de Madonna e sucede o sucesso arrebatador que foi True Blue. O álbum é descrito como uma obra confessional onde a artista versa sobre suas relações familiares, os laços entre ela e a mãe que morreu quando ainda era criança e a relação com seu pai. As canções têm temáticas relacionadas à infância e adolescência da artista, a importância da família e empoderamento feminino.
Todas as faixas foram escritas e co-produzidas por Madonna em parceria com nomes como Prince, Patrick Leonard e Stephen Bray. Assinado como uma obra puramente pop, a sonoridade do álbum incorpora elementos de dance, funk, gospel e soul. Os caminhos explorados por Madonna no momento de composição da obra remetem a momentos de sua vida, como por exemplo as influências do catolicismo em sua criação e o período conturbado em que ela se encontrava. Durante a composição do disco a artista enfrentava momentos difíceis como a separação de seu parceiro Sean Penn e questionava-se sobre sua fé em Deus.
A religião esteve em destaque para a criação de Like A Prayer, sobretudo na faixa-título. A canção de mesmo nome do álbum abre caminho para as outras faixas. Like A Prayer tem influências pop rock e claramente influências do gênero gospel. A letra da canção, na interpretação de Madonna, soa como se a intérprete fosse “tão apaixonada por Deus que é quase como se ele fosse a figura masculina em sua vida”. As polêmicas em torno do single foram grandiosas. Ao escrever a canção Madonna utilizou diversas palavras e expressões litúrgicas com o intuito de provocar duplas interpretações.
Após seu lançamento como single, Madonna estreou seu polêmico videoclipe. Anteriormente ao seu lançamento a artista revelou o desejo de trazer um clipe que impactasse e elevasse o nível de suas obras. O enredo gira em torno de uma mulher que testemunha um assassinato e vê um homem negro ser preso injustamente, com medo ela corre e se esconde em uma igreja onde reza para o santo que se assemelha ao homem preso injustamente. Em uma sociedade extremamente racista, o vídeo de Madonna chocou, e levou-a a sofrer diversos boicotes. Marcas como a Pepsi desistiram de ter a imagem vinculada com a artista por conta das acusações de blasfêmia firmadas pelo fato de Madonna rezar para um santo negro e unir sexualidade e religião de maneira metafórica.
Apesar de todas as polêmicas em torno do disco e suas canções, a obra foi um sucesso de crítica e público. O lançamento de Like A Prayer coroou Madonna como a artista da década de 80, veículos como Billboard e a própria MTV declararam que sua obra impactou diretamente a indústria fonográfica. O sucesso de Madonna e a qualidade de seu trabalho com Like A Prayer são incontestáveis, conforme declarou a revista Rolling Stone:
“É o mais perto que o pop já chegou da arte.”
Rolling Stone
Em destaque a faixa “Pray For Spanish Eyes”
Emotiva e uma das mais profundas do álbum, Spanish Eyes representa o lamento de Madonna e sua revolta com Deus após a perda de um de seus amigos para a AIDS, assim como a faixa In This Life do disco Erotica.O tom de lamento na música é fortemente captado pelo ouvinte nos primeiros segundos da faixa, a performance vocal dramática de Madonna e o instrumental pesado entra em compasso com a letra: “Quantas vidas eles terão para tomar/ Quanta dor de cabeça/ Quantos sóis eles terão que queimar os olhos espanhóis/ Quando eles aprenderão”.
O plano de fundo do final da década de 80 e início dos anos 90 representa um dos momentos de maior escuridão da história moderna, a crise da AIDS se tornou uma das maiores pautas da época. Madonna se posicionava de forma concisa diante do assunto, enquanto a comunidade católica condenava os LGBTs afirmando que a doença seria um castigo de Deus, a artista pregava sobre a proteção, informação e acolhimento. Além de canções que representavam a dor de perder um amigo para a doença, Madonna incluiu no encarte do disco uma cartilha de informações sobre a AIDS e como se proteger, para época considerava-se um enorme tabu.
1. Ray of Light (1998)
A jóia mais preciosa da carreira de Madonna é seu sétimo álbum de estúdio, Ray Of Light, um resultado de um período introspectivo da artista marcando o novo auge de sua carreira. Após o polêmico Erotica, a popularidade de Madonna se abalou e a cantora se viu na necessidade de “limpar” sua imagem. Bedtime Stories chega anterior ao Ray Of Lght e dá início ao processo, de forma que o público volte a se interessar por Madonna, mas é no sétimo álbum que ela domina tudo novamente.
Ray Of Light é um disco inspirado no nascimento de sua primeira filha, sua conversão à cabala e seus estudos voltados para a cultura hinduísta e budista. Sonoramente é o primeiro passo de Madonna em direção a música eletrônica, além da carga de dance music, as faixas contam com influências rock, techno, soft rock e música clássica, com elementos orientais de influência indiana e marroquina.
Em sua produção Madonna trabalhou com nomes como Rick Nowels, Patrick Leonard e William Orbit, sendo o último o grande responsável pela maioria das faixas. O álbum é caracterizado como um dos mais afastados do estilo que Madonna trabalhava anteriormente e até então era considerado o disco mais diferente de seu estilo convencional.
O lead single “Frozen” chamou atenção em seu lançamento. A balada eletrônica com diversas camadas versa sobre um homem sem emoções. Para a crítica a faixa representa a nova direção musical de Madonna. Os vocais foram extremamente elogiados por sua delicadeza e o tom de profundidade espiritual que a canção passa, além de destacarem a produção com influências orientais, o que gerou grandes expectativas para o novo trabalho da artista.
Assim como a faixa principal, o disco se tornou um dos mais aclamados da rainha do pop, o sucesso de público e crítica mostraram que a artista soube se renovar e agradar as massas. O lead single alcançou a posição de número 2 na Billboard Hot 100, o segundo single de mesmo nome do álbum atingiu o pico de número 5 na parada, enquanto o álbum estreou na segunda posição da parada de álbuns da Billboard com 371 mil cópias vendidas.
Após 18 dias de lançamento a revista Rolling Stone divulgou que o álbum havia vendido cerca de 3 milhões de cópias mundialmente. A crítica especializada da Slant Magazine declarou que o álbum é “uma das maiores obras-primas pop dos anos 90 e pode ser comparado com a grandiosidade de Like A Prayer”. A Billboard destaca que Ray Of Light é o álbum mais maduro de Madonna e suas canções são meticulosas e exuberantes.
É extremamente válido destacar algumas canções, como por exemplo Shanti/Ashtangi que é baseada em um mantra sânscrito e se posiciona entre elementos cabalísticos, bem como as influências musicais orientais. Os elementos orientais estão em maior presença na faixa Skin, flautas e instrumentos de corda se misturam a uma produção techno eletrônica de tirar o fôlego. Em Power Of Good-bye Madonna entrega uma balada aproximada do lead single Frozen, com uma atmosfera lúcida e pouco melancólica a artista versa sobre como é preciso ser forte para deixar alguém ir.
A grande aclamação e recepção positiva do disco rendeu a Madonna seus primeiros prêmios Grammy, mesmo já tendo 12 anos de carreira. A artista levou para casa quatro troféus, incluindo o de Melhor Álbum Pop e Melhor Gravação de Dance com a faixa título.
Em destaque a faixa “Drowned World/Substitute For Love”
A música de abertura do disco é uma grande amostra de tudo aquilo que a obra aborda. A canção conta com uma produção pop misturada a elementos ambiente e em sua letra discorre sobre uma transformação espiritual para a busca de um amor autêntico e avalia sua carreira e jornada. O single ganhou um clipe que gerou enormes polêmicas. Ao longo do vídeo Madonna foge de paparazzis e críticos apontaram semelhanças ao caso que levou a morte da Princesa Diana, no entanto a mensagem principal do vídeo era a relação conturbada de Madonna com a mídia.
Leia a parte 1 da nossa seleção “10 discos essenciais para conhecer Madonna“