Em Agosto de 2020, Scott Pilgrim Contra o Mundo completa 10 anos. A obra dirigida por Edgar Wright é um dos filmes mais aclamados do diretor, que conseguiu o tornar o filme extremamente popular ao longo de uma década.
Talvez um fato que impulsione a popularidade do filme, seja o elenco de atores que durante a década 10 conseguiriam impulsionar suas carreiras e se tornarem queridos pelo público.
Chris Evans e Brie Larson entraram para o time de hérois do gigantesco universo cinematográfico Marvel. Anna Kendrick fez sucesso como uma Pitch Perfect. Mary Elizabeth Winstead participou da saga Cloverfield e agora do divertido Aves de Rapina. Kieran Culkin passou despercebido por bastante tempo mas em 2020 recebeu sua 1ª indicação ao Emmy pela aclamada Succession.
E não podemos nos esquecer de Michael Cera, que depois de estrelar em Arrestment Development também está em um dos filmes de comédia mais lembrados e popular, Superbad, e do filme indie Juno.
Outro ponto do filme que o tornou um marco para a cinematografia da década de 10, foi a edição eletrizante que remete a jogos de video-games. Cortes rápidos, transições perfeitas, movimentos de câmera inteligentes e divertidas formas de metalinguagem, além das cores marcantes, fazem Scott Pilgrim ser uma obra que deixa qualquer um de queixo caído e surpreso. Com o elemento que deixa tudo mais divertido, a música. Canções originais foram gravadas para o filme e que embalam as quase duas horas de história.
Mas nem tudo é o fim daquele jogo que você demorou horas para passar de fase e terminar. Por mais que seja um filme memorável e que traga uma proposta inovadora para o cinema enquanto edição, montagem e direção, Scott Pilgrim possui um roteiro muito escasso de criatividade e demonstra que homens – nesse caso – nerds não entendem como uma mulher deve ser retratada.
A história gira em torno do personagem de Michael Cera em busca da “mulher de seus sonhos”, Ramona Flowers( Mary Elizabeth Winsted), que se tornou o fetiche de diversos homens nerds – aqui considerando a imagem de um que é ficcionado no mundo de cultura pop. Ela, que é uma mulher autêntica, interessante e dona de si, até se interessa por Scott como ele se interessa por ela, mas para eles namorarem é necessário que ele enfrente todos os ex-namoros de sua paixonite e a conquiste como se fosse um troféu.
A partir daí, nós, que deveríamos conhecer Ramona por quem ela é, a conhecemos a partir de seus ex-namorados, e a cada um que aparece, menos a personagem faz sentido. Desde o nerd inseguro, o ator de filmes de ação ao chefão da indústria da música, todos eles são babacas de alguma forma – e talvez muitas mulheres se identifiquem aí – mas eles não refletem quem Ramona é, e sim quem Scott gostaria de ser.
A trama é recheada de falhas de representação das personagens femininas. Todas possuem algum estereótipo revisitado diversas vezes em filmes escritos por homens: a amiga irritada, a irmã fofoqueira, a menina “bruta” que reprime os sentimentos e vê o menino que gosta ter outras namoradas, a namorada mais nova, ingênua e infantil e a mais presente durante a trama, a da ex-namorada louca.
Por isso, Scott Pilgrim é um delírio na mente de homens inseguros que não sabem se relacionar com mulheres. Ramona é o que eles querem que uma mulher seja: bonita, sexy, “diferente das outras” e que precisa de um homem para guiá-la.
Em alguns momentos ele tenta ser representativo e “progressista” por ter a amizade de um homem gay e um homem hétero, Ramona entre seus namoros teve um relacionamento com uma mulher. Mas ele também estereotipa mulheres asiáticas e incentiva a rivalidade feminina, além de não ter nenhum personagem negro com um papel importante.
Por mais que algumas pessoas vejam o filme com o olhar romântico, a partir da perspectiva que para um relacionamento dar certo uma das partes deve provar que ama o parceiro, que deve superar obstáculos, nesse caso, parece um show de como relacionamentos não devem ser, pois nenhuma das relações que aparecem ali são saudáveis.
Por isso, Scott Pilgrim Contra o Mundo depois de 10 anos de seu lançamento pode até ser um filme popular que muitos elogiam, com elementos memoráveis e de extrema qualidade técnica, mas o filme que cresceu durante uma década que passou por mudanças por conta do movimento feminista e do #metoo, mostra que é apenas uma história para que homens brancos e nerds possam realizar fetiches. E apesar de acreditarem que são mente-aberta, não passam de homens ditando o que mulheres devem ou não ser.
ficou afim de rever o filme?
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