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Crítica | 5 anos de “Confident” da Demi Lovato

Marcando um novo capítulo em sua história, há 5 anos Demi Lovato mostrava, em “Confident”, diversas facetas de se sentir confiante e nos entregava o resultado de seus experimentos com novas sonoridades

Certamente é impossível não lembrar de Demi Lovato e logo não associar a fatores básicos: sua honestidade, a constante luta com seu próprio passado e, claro, seu vozeirão. Essas são características do conhecimento de qualquer pessoa que acompanha minimamente o cenário da música pop. E seu quinto álbum de estúdio, “Confident” é a prova disso.

Lançado em 16 de outubro de 2015, há 5 anos, a artista nos mostrava o que talvez não representaria um dos “álbuns eternizados” da indústria fonográfica, mas sim um ícone em sua carreira. Com um trabalho polido e bem executado, nos proporcionou hits nostálgicos como ‘Cool for the Summer’ e ‘Stone Cold’, além de marcar um novo capítulo na história de Lovato: se sentir confiante em si mesma e até com seu próprio corpo (o que soa ainda mais genuíno quando lembramos de toda luta da cantora com aceitação e transtornos).

Desde seu álbum anterior, “DEMI” (2013), víamos uma artista extremamente focada em uma coisa: fazer hits! E isso se refletiu mais ainda em “Confident”, onde praticamente se desprendeu de uma vez por todas das amarras de ser uma “ex-Disney”. Aqui ela abre mão da vertente pop rock que a fez conquistar o mundo em canções de filmes e primeiros atos solo. Até mesmo o pop chiclete foi deixado de lado.

Falando de uma forma metafórica, talvez poderíamos associar a obra a um laboratório de química, em que a artista nos entrega vários experimentos com sonoridades que começavam a ser exploradas em seu projeto anterior, mas que agora dariam sinais de novos sons, principalmente das influências urban que Demi viria trazer com força total posteriormente. Neste laboratório temos de tudo um pouco: dance pop, urban, R&B, soul e até algumas “partículas” gospel.

Como resultado destes experimentos, temos um trabalho consistente e maduro, apesar de cair algumas vezes no lugar comum e em outras apelar para canções “mamãe quero hitar” ou até mesmo soar endereçadas ao Grammy por “melhor vocal”. 

E isso não é necessariamente negativo, principalmente nos momentos em que a cantora consegue unir todos esses atributos e deixar com uma cara super autoral, como na faixa-título ‘Confident’. Em um início triunfal que nos remete à uma marcha, é uma canção “poderosa, sexy e perigosa” que facilmente estaria em filmes como “As Panteras” e nos mostra uma faceta nada óbvia da cantora.

Um dos maiores acertos de Lovato com essa música e na obra ao todo, é fugir do que o senso comum esperaria que ela cantasse sobre confiança: baladas no piano como ‘Skyscraper’, falando sobre o quanto é uma guerreira. A grande sacada é tratar os diversos aspectos de se sentir confiante.

É inegável dizer que aqui ela está “nua artisticamente” e demonstra suas fraquezas para provar que de fato é forte. Ou até mesmo em questões mais casuais como a confiança em seu próprio corpo, como canta no primeiro single do disco, ‘Cool for the Summer’. Levando o título de absoluto destaque, tanto do disco, quanto de sua carreira, temos um verdadeiro hino dance pop desde os segundos iniciais de um piano provocativo e uma voz doce. Para logo vir sussurro, gritaria e de tudo um pouco, com um refrão explosivo e muitas variações em sua duração. Considerando ainda uma ótima composição que nos proporcionou frases icônicas como “Shhhh… Não conte para sua mãe”.

‘Old Ways’ tenta acompanhar o ritmo de alguns dos hits da época para a artista falar que tomou o controle de sua vida. Com muita voz e emoção, lembra grandes momentos de seu disco anterior “DEMI”, como fez em canções como ‘Heart Attack’ e ‘Never Been Hurt’, porém peca por uma produção que soa genérica. Já a deslocada ‘For You’ cumpre um papel de filler e nem mesmo uma explosão no refrão convence que ela deveria vir logo em sequência de um trio tão poderoso no começo.

Um outro grande destaque, ‘Stone Cold’, marca a primeira presença das tão tradicionais baladas com vozeirão de Demi Lovato, e com muita sofrência. O maior acerto nela é a impressão de que foi feita em uma tomada só, trazendo um ar nu e cru. Além de combinar muito com o conceito do álbum, por precisar estar muito confiante para expor seus sentimentos. Se restava alguma dúvida, aqui é incontestável que o alcance vocal da cantora pode ser equiparado com o de grandes “ícones da voz” como Christina Aguilera.

Se antes víamos a artista ainda engessada, agora ela fica mais atenta às tendências de sucesso e reproduz com seu próprio estilo.

A diferença é que, por ser uma veterana e ter adquirido um bom know-how em suas experiências anteriores, Lovato se mostra literalmente muito confiante e mais madura para polir sua obra e deixar tudo muito bem amarrado, porém pesando muito a mão em alguns atos, beirando ao superficial. Prova disso é ‘Kingdom Come’, uma parceria com Iggy Azalea. Junto com ‘Old Ways’ é um dos primeiros sinais de flerte com o urban e que soa como um claro apelo para ter um hit como ‘Black Widow’, da própria rapper. Temos um “repeteco” dessa mesma fórmula em ‘Waitin For You’, também com uma rapper, mas agora a escolhida é Sirah.

Por si só, o disco é claramente dividido em duas partes, onde a partir da romântica ‘Wildfire’ o pedaço “mais comercial” dá espaço para baladas mais intimistas daqui em diante. Junto com ‘Lionheart’, temos então dois momentos fortes, emotivos, com instrumentais interessantes e que o foco são os vocais gigantescos.

A grande, e bem inesperada surpresa, se dá com ‘Yes’. Com um jogo de versos icônicos revezando entre duas pessoas do tempo verbal, é o tipo de música em que toda sua estrutura tem um atrativo. É realmente perspicaz o modo como a cantora utiliza a evolução dos vocais puros e melódicos para uma clímax extremamente carregado.

‘Father’ encerra a versão standard, mesmo que não pareça fazer tanto sentido liricamente. É interessante destacar que a faixa aparentemente encerra uma “tríade”. Quem acompanha a carreira da cantora e ouve seus discos sabe bem como a relação “complicada” com seu pai biológico afeta muita sua vida até hoje. Depois de nos contar sobre os problemas de alcoolismo do pai e brigas da família em ‘For The Love of a Daughter’ no “Unbroken” (2011) e sobre a perturbação de ter a presença dele em ‘Shouldn’t Come Back’ em “DEMI” (2013), aqui é onde ela parece encerrar esse capítulo de sua vida e perdoar seu pai (que havia morrido entre esse e o álbum anterior). É um belo jeito de mostrar que está confiante: perdoando seu passado. Apesar dos vocais grendes e influências gospel, a canção brilha mesmo por ser um dos poucos momentos em que Lovato realmente faz uma canção de um jeito mais intimista. Não é o tipo de música com uma fácil autoidentificação, porém é um dos grandes acertos do trabalho.

“Confident” (2015)

Como todos os seus discos, Demi trouxe um vertente pessoal muito enraizada e com letras muito genuínas. Com certeza um dos fatores que ajudou a trazer sua essência é o fato de que co-escreveu quase todas as músicas. E com o auxílio de escritores/produtores de peso como Max Martin, Ryan Tedder e outros, conseguiu balancear, na maioria de sua duração, uma variada gama de temas, músicas dançantes, baladas emotivas e obviamente todo seu potencial lírico.

O “Confident” não é o tipo de álbum que é um pavio para a explosão de um cultural reset, por exemplo, e provavelmente nem pretendia isso. Mas é justamente o rompimento com os clichês (mesmo em suas letras mais tristes) e a diversificação das temáticas dentro do trabalho, que nos proporcionam um disco conciso, maduro, atraente e interessante.

Quando falamos desta obra, nos referimos a um divisor de águas na carreira de Demi Lovato e que claramente foi o “empurrãozinho” para a artista mergulhar em novas águas e outros ritmos em seus trabalhos posteriores. É um verdadeiro laboratório de experimentos que proporcionou maravilhosos resultados.

Nota do autor: 76/100

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