Uma das músicas mais ouvidas em 2020 foi “death bed”, do artista Powfu. A faixa, que ganhou popularidade por causa de seu grande número de compartilhamentos nas redes sociais, é na verdade um remix de “Coffee”, canção composta por Beatrice Laus em 2017, que usa seu nome artístico beabadoobee para seus trabalhos musicais.
A jovem anglo-filipina é uma das queridinhas da Dirty Hit – gravadora britânica de nomes como The 1975, Pale Waves e Rina Sawayama – e começou sua carreira musical com canções compostas em seu quarto, à la bedroom pop, há quatro anos. Seu primeiro EP, “Patched Up”, contém sete músicas do estilo voz & violão. As melodias são simples, lentas e melancólicas, e as letras ingênuas contam momentos do cotidiano de Bea. Ao ver todo o caminho que a artista percorreu até 2020, fica difícil de imaginar que, mesmo com um EP tão simples como o “Patched Up”, beabadoobee conseguiria se tornar um dos nomes mais promissores do emo rock.
“Loveworm” é o segundo EP da jovem, e nele é possível perceber alguns indícios do caminho que Bea percorreria em seus trabalhos futuros. Lançado em 2019 e com sete faixas, “Loveworm” mantém as letras comuns de “Patched Up”, enquanto a melodia começa a passar por mudanças. Algumas faixas, como é o caso de “1999” e “Ceilings”, seguem a linha do bedroom pop explorada no EP de estreia de beabadoobee. Enquanto isso, “Angel” e “Disappear”, completamente envoltas em melancolia, contam com guitarras (até então não vistas no trabalho da artista), bem como baterias e baixos. As distorções e as palhetadas características do emo rock, em voga no início dos anos 2000, passam a colocar o trabalho da artista no mesmo patamar de seu estilo pessoal: um tanto quanto emo.
Em 2020 nasce, enfim, o primeiro álbum de beabadoobee: “Fake It Flowers”. O lançamento de seu primeiro disco de estúdio se deu em meio à explosão da já mencionada faixa “death bed”, que sampleia a primeira canção composta pela musicista. Mesmo com todo o sucesso de reproduções e compartilhamentos on-line, beabadoobee não conseguiu captar novos ouvintes. Esse fato não se deu por qualquer tipo de erro ou incompetência da equipe de Bea, muito menos da própria artista, mas sim porque “Fake It Flowers” é um álbum de rock – extremamente diferente de seus EPs anteriores, e principalmente da música que “lançou” seu nome no universo cibernético.
“Fake It Flowers” é um exímio exemplar do rock emergente da década de 2000 em pleno início da década de 2020. Situa-se bem distante do momento temporal em que deveria ter sido lançado, mesmo que fosse o ano de nascimento da artista (sim, Bea nasceu no novo milênio). Mesmo assim, é um disco esperançoso para a volta do emo rock.
As doze faixas do disco contam com guitarras ainda mais guitarrudas, baterias cada vez mais rompantes e com a voz aveludada, aguda e doce de toda a sua carreira. O choque entre o doce e o azedo, o macio e o pontiagudo, fazem com que “Fake It Flowers” seja um representante perfeito da chamada teen angst (em tradução literal, angústia adolescente). Agora, as letras não contam histórias banais e rasas, e passam a explorar questões psicológicas profundas e, é claro, relacionamentos humanos. Todo o talento de beabadoobee pode ser contemplado, em todas as suas vertentes, na canção “Sorry”, que se situa em uma tênue linha entre o bedroom pop e o (novo) emo rock, além de ter letras que cavam fundo nos sentimentos, seja da artista ou do ouvinte. O estilo pessoal de Bea contribui para que a artista contemple a moda e os costumes dos anos 2000 por completo, fazendo com que todo o seu trabalho se feche em um círculo perfeito e impecavelmente redondo.