Não é de hoje que a Recording Academy, ou Grammy Awards, se envolve em polêmicas – principalmente de cunho racial – que enfraquecem a premiação entre os artistas já consagrados na indústria. Em 2012 Nicki Minaj, que foi indicada a 4 categorias e possuía simultâneamente 7 músicas nas paradas da Billboard. Não ganhou um prêmio sequer na edição. Já em 2017 por exemplo, ao ser declarada vencedora na categoria de ‘Álbum do Ano’, Adele apontou que não poderia aceitar o prêmio, pois ele deveria ter sido dado a Beyoncé pelo trabalho excepcional feito em ‘Lemonade‘.
Este ano, a maior falha da Academia foi deixar de fora das indicações o cantor Abel Makkonen Tesfaye, mais conhecido como The Weeknd. Com seu álbum ‘After Hours‘, o cantor se manteve no ranking da Billboard 200 por nada menos do que 50 semanas e recebeu uma enxurrada de críticas positivas ao seu trabalho, contabilizando notas altíssimas entre as críticas de inúmeros veículos especializados. O disco foi escolhido como um dos melhores do ano por diversos veículos mundiais, e por aqui também.
Diante de tantas polêmicas racistas e também não racistas – em 2019, a até então 1ª presidente mulher da Recording Academy, Deborah Dugan, foi demitida após 5 meses no cargo e acusou a instituição de assédio, corrupção, irregularidades nas votações e na parte financeira, além de sexismo – levantam-se questionamentos sobre a necessidade da premiação e sua força/contribuição para a indústria da música e para os artistas que a compõe.
Nomes consagrados no cenário musical já questionam o trabalho da premiação e seu desserviço para indústria fonográfica com atitudes que são retrógradas, racistas, xenofóbicas, machistas e pelas escolhas que são nitidamente tomadas por membros arbitrários e de mente conservadora. Entre alguns artistas que expressaram seu descontentamento com o prêmio, seja em músicas, tweets ou comentários avulsos estão: Elton John, Zayn, Halsey, Nick Minaj, Lorde, Drake, Tyler The Creator, Fiona Apple, The Weeknd (que inclusive declarou publicamente que não irá mas submeter seus projetos à Academia), Ariana Grande, Beyoncé, Jay-Z, entre outros.
Uma importância que precisa de atualização para sobreviver
Era de se esperar que uma premiação como esta acompanhasse as evoluções do mundo, que valorizasse a música como ferramenta artística de transformação, entretenimento e até mesmo ferramenta política de conscientização. Além disso, que se adequasse aos novos modos de consumo que ditam o sucesso e o reconhecimento da obra por meio daquele que deveria ser principal termômetro para definir o reconhecimento de um artista ou música: o público. Afinal é para quem a música é feita, é quem a consome e gera receita para indústria fonográfica.
A cada dia que passa a divulgação das músicas por meio de streaming dissemina os produtos artísticos por todo o mundo, colocando novos artistas no radar de consumo de milhares de pessoas e tornando muitos extremamente visíveis da noite para o dia. Aliás, a tecnologia, como um todo, tem serviço como uma grande alavanca na indústria da música, aplicativos como o TikTok não só tem o poder de consagrarem músicas e levá-las ao topo dos charts, como também são responsáveis por reavivar o sucesso de canções antigas (e até mesmo já premiadas pelo Grammy).
O Grammy, deveria ser um impulsionador da boa música, reconhecedor e descobridor de grandes artistas. Claro, que em cima de muitas dessas polêmicas, existe o fato da soberania americana e da sua definição indireta como indicador de tendências e ditador do sucesso nas mais variadas frentes artísticas (cinema, tv, música, moda etc.), mas as novas formas de consumir estes produtos dão mais poder ao público, poder este que colocou (as vezes à força) na cara do panteão americano muitas mulheres, negros e asiáticos como produtores musicais de peso.
Com todo esse poder dado pelos streamings, pela movimentação em aplicativos e redes sociais, somado à falta de atualização e até mesmo de respeito da Academia e diante das polêmicas recorrentes, fica o questionamento sobre a força que o Grammy ainda possui e se de fato a premiação ainda é tão importante para o meio musical como um dia já foi.