Gosto é gosto – e aí é melhor não discutir. Quando o assunto é Red Hot Chili Peppers, cada fã pode ter um disco preferido diferente. Mesmo com tamanha diversidade de respostas (que pode chegar a onze opções), não deveria haver discussões quanto ao título de obra prima conferido ao disco “Blood Sugar Sex Magik”, lançado em 1991. Será que contra fatos não há argumentos?
Os Chili Peppers já faziam um som pelos Estados Unidos, e por lá eram conhecidos por seu estilo brincalhão e inflamado, que surpreendia e agradava com sua mistura de rock, funk e rap. A banda estava há três anos com o guitarrista John Frusciante, que entrou na banda após a morte de Hillel Slovak, um dos membros fundadores do RHCP. O garoto se mostrava enérgico, contente por realizar tão jovem seu sonho de ser músico. Em 1991, com o lançamento de Blood Sugar Sex Magik, a vida dos Chili Peppers nunca mais seria a mesma – principalmente a de Frusciante.
Rick Rubin é um nome que marca a produção musical estadunidense. Conhecido nos dias de hoje por produzir grandes discos, como é o caso dos álbuns homônimos das bandas System of a Down e Audioslave e, inclusive, de “Californication”, considerado por muitos o melhor disco dos Chili Peppers. Apesar de fazer muito sucesso e ser considerado um dos maiores em sua função, foi com Blood Sugar Sex Magik que Rubin ganhou notoriedade no meio musical. Seus trabalhos anteriores receberam suas devidas notoriedades, mas foi com esse disco do RHCP que Rubin foi grandioso.
Talvez esse seja um adjetivo adequado para Blood Sugar Sex Magik: grande. Foi com esse trabalho que a banda californiana conseguiu emplacar diversos hits nas rádios de todo o planeta – o que fez com que o Red Hot Chili Peppers passasse a receber reconhecimento internacional. Depois disso, os caras partiram em turnê por países até então nunca visitados, a fama veio com tudo (e ficou) e a banda passou por um momento delicado: ao fim da turnê, Frusciante pediu para sair da banda. Muito jovem e diante de tanta fama e dinheiro, o guitarrista do grupo se viu em meio a um vício em drogas e decidiu jogar a toalha. Não houve desculpas ou justificativas, Frusciante apenas saiu. Mas calma: ele retornou ao RHCP em 1999 e no maior estilo. Isso porque logo em seguida foi lançado Californication, disco queridinho de muitos.
Voltemos ao Blood Sugar Sex Magik: além de ser um marco quanto à projeção internacional da banda, o disco foi um divisor de águas na sonoridade do grupo. Conhecido por seu som funkado, os Chili Peppers não abriram mão dessa característica. O funk e o rap passaram a coexistir com o rock, cortesia das guitarras de Frusciante, que ficaram um pouco mais pesadas. Já dava para sentir um pouquinho desse gosto em “Mother’s Milk”, disco anterior ao Blood Sugar Sex Magik, porém sua presença não era tão forte. A banda já era roqueira, e o disco só contribuiu para a consolidação dessa imagem. A sonoridade viria a mudar alguns anos depois, quando, imagina! Frusciante viria a sair novamente do grupo.
Além do disco em si, os Chili Peppers lançaram “Funky Monks”, um documentário que mostra o processo de concepção do Blood Sugar Sex Magik – seu nome é uma referência a uma faixa homônima do disco. É possível conferir na peça audiovisual a grande casa que os quatro integrantes alugaram em Los Angeles para passar alguns meses até a finalização do disco. Segundo o vocalista do RHCP, Anthony Kiedis, em sua biografia, “Scar Tissue”, Frusciante ficava praticamente todo o tempo em seu quarto, mesmo com uma mansão com diversos quartos e atrativos, como piscina e salão de jogos, à sua disposição. O guitarrista se fechou em sua própria imaginação, o que pode ter sido um catalisador de seu vício posterior. Flea, o baixista do RHCP, aproveitou a gigantesca casa para brincar com sua filha, Clara, que o visitava em alguns intervalos da banda.
Um dos pontos mais fantásticos do documentário é a composição da bateria de Chad Smith na canção “Breaking the Girl”. Com a ajuda de Kiedis e Flea, Smith criou espontaneamente uma das mais vivas partes da canção. Sentados no chão de um dos cômodos da casa, os três integrantes começaram a bater em objetos aleatórios, o que resultou em uma composição espetacular – seja sua sonoridade ou pela forma com que surgiu. Ademais, Funky Monks conta com entrevistas sobre o processo de criação de Blood Sugar Sex Magik, bem como cenas do photoshoot feito para a divulgação do quinto álbum de estúdio dos Chili Peppers.
Tudo em Blood Sugar Sex Magik é epopeico: seu som, sua estética, sua divulgação, seu alcance. Não há melhor álbum dos Red Hot Chili Peppers do que esse. Gosto não se discute, isso já falamos no começo dessa review. No entanto, não podem haver dúvidas que toda a glória chilipepperiana deve seus maiores agradecimentos a esse disco.
Nota da autora: 100/100
*Após a publicação dessa review, o Red Hot Chili Peppers anunciou em suas redes sociais que partirá em turnê mundial em julho de 2022. Veja o comunicado cômico: