Dentro de uma redoma pura de estranheza visceral, Love, Death + Robots cativa o telespectador acima de tudo por sua potência visual, que atravessa uma linha de maneira nítida e com cabeça erguida para mostrar com muito carinho toda a sua falta de ordienaridade. O exílio em ser diferente é o que mais coloca o programa original da Netflix em uma ótima classificação no meio do leque de produções com o selo da plataforma.
O primeiro volume? É insano! Poder presenciar tudo o que a série tem para mostrar já com 18 capítulos foi algo abismal de divertido. O segundo? Já muda bruscamente e cai num balaio um pouco triste. Havia episódios com narrativas tão encantadoras visualmente que era possível deixar muito da história de lado, até um certo ponto, pois a leva de episódios fora bastante oca, apoiando-se apenas no que pode mostrar ao telespectador de forma visual, não sentimental, prisma esse, principal da série.
Pós essa maresia, o que viria a seguir poderia definir as linhas internas do show como algo a se considerar um barco sem rumo, porém, não de maneira negativa, já que toda a originalidade e execução não permitem isso. No entanto, o volume três chega para atribuir um novo e interessante caminho.
As novas jornadas vistas aqui abraçam o que a série abraçou desde o dia zero: história. Mas de fato, histórias boas. “Viagem ruim” (Bad Travelling), o segundo episódio, é de longe algo para entrar no hall de melhores respostas que a série poderia oferecer. Colocar um monstro marinho, um oceano alienígena, moral e a direção absurda de David Fincher em um único lugar de uma vez, só poderia trazer frutos positivos.
“Enxame“ (Swarm), de Tim Miller, decide deixar o seu final em aberto, mas tudo o que constrói antes de terminar é extremamente rico. Se for possível abordar uma continuação mais a frente e ver mais dos segredos de uma entidade maligna sendo estudada por dois cientistas, o público vai gostar.
Dirigido por Jerome Chen, “Sepultados na Caverna” (In Vaulted Halls Entombed) mistura ficção científica com monstros, apocalipse e mitologia antiga de uma forma estranha e igualmente gostosa. Um prato cheio para quem acompanha esse tipo de conteúdo, que aqui, deixa o final aberto para diversas interpretações.
“Fazendeiro” (Jibaro), que fecha o volume, é também um primor; além de ser de longe o ponto alto aqui por erguer uma criatividade absurda em torno de uma narrativa envolvendo um cavaleiro surdo e uma sereia mitológica, tornando o episódio extremamente visceral. O ansioso e claustrofóbico capítulo dirigido por Alberto Mielgo ainda exerce um poder de imersão surreal sob quem assiste, ideal esse que o programa sabe desde sempre como arquitetar.
As engrenagens voltaram a rodar sem criar muitas faíscas em Love, Death + Robots, uma vez que ela infelizmente perdeu um pouco do seu fôlego. Mesmo com alguns fillers, o Volume 3 ainda consegue se destacar dentre os dois anteriores por adicionar partes interessantes. Voltar com novas histórias que assumem riscos corajosos para com quem assiste e para com o que é colocado em prática é um retorno rico e que, felizmente, não se apoia totalmente em seu maior forte (o visual) sem razão para tal aplicação.