Se uma TV estivesse ligada em uma sala de espera e alguém desse play em qualquer episódio de ‘The Peripheral’, nova série da Prime Video, qualquer pessoa que passasse por ali ficaria facilmente entretida em poucos segundos. Isso porque estamos falando de uma das produções mais bonitas no ar atualmente, onde cada cena, cenário, figurino e efeito especial tem seu sentido. Tudo isso também está ali para enfeitar o produto, e essa camada estética funciona muito bem como uma cobertura gourmet.
Mas assim que ultrapassamos essa camada, o que resta é uma narrativa que demora a sequer cogitar convencer o telespectador, atuações ‘travadas’ como se quem dá vida aos personagens tivesse ligado um piloto automático e uma adaptação não muito amigável quanto a obra original.
Chloë Grace Moretz é Flynne Fisher, uma garota que trabalha com impressão 3D, mas que também ajuda o irmão (Burton Fisher) com trabalhos avulsos que envolvem participar de partidas de videogame no lugar de outras pessoas. Até o momento em que Burton, interpretado por Jack Reynor, pede para Flynne testar um novo hardware de realidade virtual, e o que parecia apenas mais um dinheiro fácil se extende para uma rede de intrigas, assassinato e conspiração.
Não é aqui que temos uma produção aproveitando a realidade virtual de forma criativa, mas o resultado acaba sendo menos expressivo que os olhos de Jack Reynor. Em momento algum é possível criar qualquer tipo de ligação com a protagonista, Chloe está tão apática que surpreende: A personagem é tão desinteressante que nem seus dramas pessoais pesados (como a relação com a mãe doente) são capazes de criar qualquer vislumbre de empatia. A reação que ela causa é a pior possível pois após alguns episódios as chances de nutrir indiferença vão ficando maiores.
Os coadjuvantes fazem o que podem, e alguns deles conseguem roubar um pouco a cena mesmo com o texto que não ajuda muito. Eli Goree é Conner Penske, um amigo dos irmãos que convence com sua atitude valentona de quem não tem nada a perder. E a presença de T’Nia Miller como Cherise Nuland consegue emanar poder necessário para nos fazer acreditar que estamos lidando com uma figura de autoridade.
É muito difícil não traçar comparações com a controversa Westworld, até porque seus criadores são produtores executivos aqui. O mundo de Lisa Joy e Jonathan Nolan pode ser facilmente visualizado nas cenas da Londres futurista de ‘The Peripheral’, e cada momento é um deslumbre, pois os tons de preto com dourado somado a estéticas futuristas envolvendo androides e aparatos tecnológicos é o que dá beleza à série. Desde a bicicleta usada por Flynne, os carros invisíveis e até as armas daqueles que estão atrás da garota… tudo é visualmente interessante.
O esbanjamento estético vai em contrapartida à decepção narrativa. A série não entrega uma qualidade alta o bastante para torcemos pela protagonista ou causar ansiedade para acontecimentos em episódios futuros. A adaptação do livro de mesmo nome de William Gibson decepciona porque o resultado é uma produção sem graça e opaca, e até chega a causar tristeza pois é possível perceber que houve uma tentativa de criar algo agradável, mas que infelizmente não funciona.