Após 3 anos de espera, o Arctic Monkeys volta a instalar sua pista de dança no Brasil. A escalação dos meninos de Sheffield como headliners do primeiro dia do Primavera Sound São Paulo (dia 05/11, sábado) estava alinhada com a proposta de inovação do festival: apesar de ser um grupo para lá de consolidado, o AM acaba de lançar seu sétimo álbum, “The Car”, que revela uma fase mais madura da banda, no auge de seus 20 anos de carreira.
O quarteto foi alocado no palco Becks, que teve o layout bastante questionado por quem passou pelo festival. Ladeado por diversas fileiras de árvores, o palanque não possuía vista lateral, o que forçava a plateia a se amontoar no longo corredor perpendicular ao palco.
O cronograma das atrações também favoreceu a superlotação no show dos britânicos. A apresentação do Arctic, marcada para às 22h, não coincidia com as de Björk, Interpol, Mistki ou Beach House, outros artistas disputados do lineup. Assim, os fãs compareceram em peso, ansiosos para cantar a plenos pulmões hits sobre garotas com mentalidade dos anos 70, telefonemas bêbados às 3 da manhã e, claro, parecer bem na pista de dança.
Com discretos 10 minutos de atraso, o Arctic Monkeys abriu o show com a estreante “Sculptures of Anything Goes”, uma das faixas mais potentes de seu novo disco. Uma escolha estratégica, que representou as nuances arrojadas que “The Car” traz para a sonoridade do grupo: afinal, quem já havia ouvido Alex Turner, um dos frontmen mais descolados de sua era, performar tantos falsetes?
Neste novo trabalho, a pista de dança se transforma em uma espécie de baile de salão, com referências aos anos 70, à percussão constante típica do jazz e à memória dos globos espelhados retrô. A estética vintage estava replicada até nos telões do palco Becks – montados na tentativa de contornar a barreira visual formada pelas árvores: as imagens do show foram intencionalmente granuladas e dessaturadas, simulando os efeitos de um filme fotográfico.
Ao longo de 1:25h, o AM performou diversos de seus maiores sucessos, honrando os todos os seus sete álbuns. Do novo disco, constaram também no setlist a debutante “The Car” e as enigmáticas “There’d Better Be a Mirrorball” e “Body Paint”, que ainda estão caindo no gosto do público e, talvez por isso, tenham sido as menos entoadas.
Na sequência de “Sculptures”, a banda inflamou a plateia com os hits “Brianstorm”, “Snap Out of It”, “Crying Lightning” e “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair” – única faixa resgatada do álbum “Suck It And See”.
A alternância entre canções energéticas e baladas marcou pontos para o setlist: essa dinâmica envolveu ainda mais o público e permitiu que o grupo revelasse grande presença e entrega na execução das músicas – com destaque para a performance caprichada do baterista Matthew Helders.
Tratar da postura blasé e pouco sociável que Alex Turner assume nos palcos já é repetitivo: o frontman é conhecido por se portar de forma apática durante os shows, interagindo pouco com a plateia. Desta vez, porém, Turner se mostrou relativamente simpático, agradecendo por diversas vezes a performance dos fãs no festival. No auge de seus 36 anos, o vocalista está confortável em sua persona de rockstar sedutor e cool, ostentando roupas sociais e os habituais óculos escuros.
Essa figura funciona especialmente bem na performance de faixas mais arrebatadas, como “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, “Arabella”, “505” e “Do I Wanna Know?” – uma das mais acompanhadas pelo público. No bis, uma injeção final de energia: após a melódica “There’d Better Be a Mirrorball”, “I Bet You Look Good on the Dancefloor” e “R U Mine?” colocaram a voz e os “dancing shoes” dos fãs à prova. Com essa tríade, o Arctic Monkeys encerrou com punch uma apresentação envolvente, que entra para a história da primeira edição brasileira do Primavera Sound.