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Crítica | Måneskin, “Rush!”

Måneskin segue o descompromisso de se divertir em meio a riffs poderosos e a voz estridente de seu vocalista; novo álbum dos italianos estende o principado de quem sempre foi azarão

Eles existem há quase oito anos, mas assim como vários outros improváveis da história da indústria fonográfica, permaneceram em quase total anonimato até 2021, quando venceram o Eurovision, maior programa de talentos da Europa. É verdade, o Måneskin já era um ponto brilhante no radar italiano desde o lançamento do disco de estreia Il ballo della vita, em 2018, mas foi apenas três anos depois que eles alcançaram o estrelato mundial.

Muito além de ‘Beggin’‘, I Wanna Be Your Slave e virais no TikTok, o grupo começou a chamar atenção pelas excelentes canções a la ícones do hard rock e glam metal dos anos 80, mas foi com as apresentações ao vivo que eles provaram ter aquele borogodó que os rockeiros esperançosos tem procurado. Cheios de energia, sem paradigmas sociais ou sexuais, a mensagem é direta: eles estão apenas se divertindo. Isso fica claro quando o público vive a experiência do show da banda, como o brasileiro pôde acompanhar em setembro de 2022, em apresentações no Rock In Rio e em São Paulo.

Damiano David, Ethan Torchio, Vic DeAngelis e Thomas Raggi nasceram entre os anos de 1999 e 2001 (sim, eles são mais novos que muitos de seus fãs). A rebeldia jovial que transforma as canções do grupo em caos toda vez que sobem em cima do palco é o combustível que parecia faltar na indústria do rock: a verdade é que eles não estão nem aí. E por serem descompromissados enquanto aproveitam a “sorte” de terem se tornado um fenômeno mundial, ganham espaço não apenas através do carisma, mas também da postura.

Roupas de couro sintético ou borracha estão presentes no visual dos integrantes, que garantem se sentir muito livres com seus corpos. Eles não se limitam a gêneros e nem dizem quem deve ou não curtir suas faixas, expandido o leque de uma audiência majoritariamente jovem. Na última semana, inclusive, os quatro se casaram em comemoração ao lançamento do novo trabalho de estúdio. É sério, com altar e tudo! 

Influenciados por Iggy Pop, referências do hard rock e até os punks setentistas, ainda afirmam que por mais que todo mundo pense que estão querendo dar uma nova roupagem ao lema “sexo, drogas e rock n roll”, eles tem completa ciência dos problemas das substâncias tóxicas em seus corpos e que estão bem distantes da vivência além dos palcos de nomes como Keith Richards ou Tommy Lee. 

RUSH!, novo disco da banda, mostra por quais motivos eles chegaram para ficar. Composto por 16 faixas, incluindo o super single ‘SUPERMODEL‘, o terceiro trabalho de estúdio dos italianos é frenético como um carro desgovernado, que antes de capotar retoma o controle do volante e consegue seguir viagem como se nada tivesse acontecido. Fluido, massudo, catártico. A produção de Max Martin é pontual, engrandecendo o resultado final através das muitas camadas criadas. Mixagem também merece menção.

David, DeAngelis, Ethan e Thomas permanecem contando histórias sobre relações conturbadas, expressando suas perspectivas – ainda que de forma indireta – sobre a ensolarada mas também sombria Los Angeles sob o olhar do estrelato. Se na abordagem não apresentam tanta novidade, tecnicamente o quarteto nunca soou tão versátil.

Nesse disco o ouvinte encontrará canções características do grupo, com vocais raspy e riffs marcantes, vistos em ‘MAMMAMIA‘, ‘DON’T WANNA SLEEP‘, ‘BABY SAID‘ e ‘FEEL‘. Vic e Ethan também merecem destaque nas ótimas ‘GASOLINE‘ e a punk based ‘KOOL KIDS‘.

Damiano e sua trupe cresceram com Led Zeppelin, Gentle Giant, Stones e Nirvana, mas também são apaixonados por nomes como Bruno Mars, Coldplay e Harry Styles. É através do experimento de soar como uma banda de hard rock clássica e energética, pronta para passar pela Sunset Strip incendiando todas as casas de show, mas totalmente ciente da sociedade que os cerca, que eles vem conquistando fãs em todas as partes do globo. 

Longe de ser apenas um produto midiático, o grupo italiano é claramente um grito de liberdade e diversão de quatros jovens músicos que cresceram e se formaram como seres humanos na geração millennial. 

Dizem que o rock precisa de um salvador. O papo sobre o gênero estar morto existe há algumas décadas, principalmente por conta da queda dos números de vendas e do pouco apelo do público geral. Talvez seja a hora dos fãs mais árduos das bandas clássicas terem um pouco mais de boa vontade para descobrir talentos como o de David, DeAngelis, Torchio e Raggi, afinal, eles dão conta do recado. Aos quadrados que não se interessarem, que fique o arrependimento. Ano após ano o Måneskin prova que não existe salvação para o que não precisa ser salvo.

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