Incrível. Poderíamos dizer só isso desse show e encerrar aqui o artigo. Como descrever uma noite tão especial e emocionante de forma que faça jus? Sim, o show do Coldplay foi incrível, mas apenas uma palavra, mesmo que tão positiva, também não chega perto de representar a grandeza do show — por isso, vamos ter que falar mais.
Em uma sexta-feira caótica de muita chuva (com onze pontos de alagamento e a cidade totalmente parada, com engarrafamentos quilométricos), a banda inglesa já se preparava para receber seus incontáveis fãs. Incontáveis mesmo, porque com onze apresentações confirmadas — e esgotadas — no país, o fenômeno é incrível e chocante. Seis shows apenas no Morumbi, o maior estádio de São Paulo, anunciam a grandeza, mas é estando lá perto que se sente a magia.
Com dois shows de abertura de Elana Dara e CHVRCHES — que infelizmente perdemos —, o show principal começou com um atraso proposital para que mais pessoas pudessem entrar a tempo, já que devido ao caos na cidade, filas extensas ainda se formavam do lado de fora a poucos minutos da apresentação. E pouco antes das 21h, os telões que anunciavam projetos ecológicos e sociais da banda, deram lugar a um vídeo que acompanhava o caminho da banda dos bastidores ao palco, com uma música bem “Jornada nas Estrelas” tocando ao fundo. Faz sentido, uma vez que o show também representa uma jornada espacial e parece nos colocar no meio do infinito.
Banda no palco, pulseiras de led no pulso, estádio lotado? É hora de começar. Segundos antes de “Higher Power”, Chris Martin, vocalista da banda, pareceu aquecer a plateia. Quase como um maestro, ele agitou as mãos na direção do público e, num som que parecia vibrar energia, acendeu as pulseiras de mais de 72 mil pessoas. Os gritos e a emoção correram o espaço, e a banda deu assim o pontapé inicial na maratona de shows.
Com fogos de artifícios, papéis ecológicos voando a todo momento e muito carisma, humildade e proximidade com o público, o show seguiu mesclando canções de todos os trabalhos da banda. Com inclusões pensadas no gosto brasileiro, “Aventure of a Lifetime”, “Paradise”, “The Scientist” e “Viva la Vida” foi uma das sequências de tirar o fôlego, indo para parcerias de sucesso como “Hymn for the Weekend” com os vocais de Beyoncé e “Let Somebody Go”, que ao invés de Selena Gomes, contou com a participação da fã Anália, que arrasou nos vocais com Chris.
Ao longo do show percebemos um claro compromisso da banda em transmitir mensagens positivas: desde toda preocupação ecológica com a reciclagem das pulseiras de LED aos vídeos de conscientização que antecederam o show, até o momento em que Chris pediu que o público vibrasse em amor para enviá-lo a quem precisava, como as vítimas da guerra na Ucrânia. Com fogos disparados representando esse “amor” indo para o mundo, o cantor disse que gentileza e generosidade sempre atraem coisas boas, e que para retribuir, eles tinham um presente para o público: A participação excepcional de Seu Jorge, cantando “Amiga da Minha Mulher”. O momento, claro, surpreendeu e emocionou todos os presentes. Seu Jorge ainda tocou flauta enquanto a banda o acompanhou nos instrumentais, garantindo mais um dos muitos momentos inesquecíveis da noite.
A alegria da banda em estar tocando no Brasil era visível a cada segundo. Se Chris Martin, ao entrar no palco e beijá-lo, já demonstrava sua humildade, aquele foi o primeiro de muitos outros atos que comprovariam essa proximidade do cantor com o público — incluindo um momento em “Fix You” em que ele desceu correndo do palco apenas para abraçar uma fã na grade, e voltar para performance. Ou quando ele pediu em “Yellow” que todo o público da pista se virasse para as arquibancadas e cantasse para as pessoas que estavam lá em cima, garantindo outro momento super emocionante. E mesmo no Palco C, um menor localizado entre a pista e a arquibancada, em que a banda ficou ainda mais próxima do público tentando trazer o máximo de pessoas possível para mais perto deles.
A atmosfera imersiva das pulseiras de LED que já são famosas em apresentações do Coldplay ainda garante sua participação, sempre com efeitos primorosos (como quando formaram corações na arquibancada) e com cores de tirar o fôlego quando sincronizadas à iluminação do palco.
Saímos do show extasiados e garantimos: não é preciso ser fã da banda para se impressionar com o que é apresentado. O Coldplay segue se reafirmando, ano após ano, como uma potência na música e principalmente em entreter as pessoas, se certificando de que cada apresentação da banda seja uma experiência inesquecível — o que realmente é. Qualquer apreciador de música, em qualquer lugar do estádio se sente tocado por tanto carisma, pelo esforço em fazer bem feito, pela humildade cativante e pelas mensagens positivas que a banda reafirma diversas vezes.
O show é uma apresentação capaz de restaurar a fé na música, no amor, na gentileza, no coletivo e, como dito várias vezes na apresentação e tema recorrente do álbum mais novo: na humanidade. E assim entende-se melhor o fenômeno com onze shows esgotados, afinal, quem foi quer voltar, e que nunca foi, sempre vai querer ir. E torcemos para que viver isso seja possível para o máximo de pessoas possível: é uma experiência inesquecível e, como dissemos no começo do texto: incrível.