Noite de sexta-feira no Autódromo de Interlagos, palco montado para Billie Eilish se apresentar e parece não haver espaço nem para uma formiga a mais no meio da platéia. Foi assim que o que parecia inacreditável aconteceu: finalmente um show de uma das maiores revelações da música recente começa no Brasil.
Um cancelamento por conta da pandemia foi uma das causas que atrasou a vinda da jovem estrela para o país — que chegou a se questionar durante seu show: “porque eu demorei tanto tempo?”. Talvez o atraso tenha sido até positivo, ajudando Billie a maturar sua personalidade e principalmente seu repertório, que agora conta com o excelente “Happier Than Ever” e nos presenteia com músicas que elevam e muito o nível do show. Mas ainda assim, toda aclamação para Billie ainda é pouca.
O palco é gigantesco mas minimalista, ao mesmo tempo. Com uma passarela colocada ali só para a artista e uma rampa de led gigantesca, não conta com grandes pirotecnias ou troca de cenários e figurinos: apenas Billie, seu irmão, Finneas (também aclamado em todos os momentos em que esteve nos holofotes) e um baterista fazem a magia acontecer. Não é atoa: Billie concentrou em suas canções seu maior êxito, e desde que elas sigam sendo o carro-forte, ela não precisa se preocupar com mais nada.
Assim, concentrado principalmente em suas músicas, o show seguiu com mais de 25 faixas apresentadas: passeando pelos dois eps e dois álbuns de estúdio da cantora, que parecia inebriada pela energia da multidão brasileira, e feliz em finalmente estar conosco.
Em momentos mais intimistas, “Billie Bossa Nova”, “Lovely” e “Ocean Eyes” fizeram a plateia iluminar o Autódromo com as luzes de celular, dando a impressão de que o céu estava ali com milhares de estrelas brilhando tanto quanto a cantora. Em momentos mais energéticos, “Oxytocin”, “Bad Guy” e principalmente a faixa título de seu álbum mais recente, “Happier Than Ever”, pareceram levar o público — que pulava, gritava e cantava cada letra na ponta da língua — ao completo delírio. Essa última, que também fechou o show, sendo inclusive um dos maiores momentos de catarse e liberação percebidos nos três dias do festival.
A apresentação deixou os fãs satisfeitos e os céticos de queixo caído: sim, foi impressionante ver a potência, o alcance e a força da artista de apenas 21 anos dominando a maior multidão que o Lollapalooza Brasil já presenciou. Nas quase duas horas de apresentação não houve sequer um momento de queda na energia do público ou da cantora, que parecia se alimentar da empolgação da plateia para devolver com tudo que eles queriam.
Em uma edição marcada por cancelamentos, Billie foi a única headliner original a cumprir sua apresentação e mais: não apenas parecendo estar aqui por obrigação. Agradecendo as inspirações do país, o amor do público e seu primeiro fã clube do mundo, que veio daqui, brincou ainda com o primeiro comentário que recebeu de alguém que não era de sua família ou amigos em sua primeira rede social: “Come to Brazil”. Ela veio, e realmente entregando tudo, deixou o palco e a plateia como promete o título de seu álbum: mais feliz que nunca.