Mesmo com milhares de subgêneros que existem atualmente, é praticamente impossível categorizar black midi em apenas um deles. A sonoridade da banda é tão peculiar e única que quando se pensa em algo que soa como algum tipo específico de rock, logo esse pensamento desaparece, pois nos próximos segundos a música que serviu como base para essa discussão já se tornou algo completamente diferente. A sensação que fica é que estamos ouvindo algo que nunca segue em uma linha reta, que se cansa do comum e de ir apenas do ponto A ao ponto B por um caminho fácil e básico.
A banda formada atualmente por Geordie Greep, Cameron Picton e Morgan Simpson é frenética, teatral, barulhenta e nada fácil de acompanhar. Desde o seu surgimento em 2017, a essência segue muito parecida, mas a evolução na música que o trio já comanda há seis anos vem se remodelando, abrindo espaço para algum tipo de barulho novo entrar e ficar ali por apenas uma música, ou por mais, ou para sempre (se ainda houver lugar).
Desde o lançamento do primeiro disco, “Schlagenheim” em 2018, a banda já vinha chamando a atenção, principalmente da crítica, pela sua imprevisibilidade. Comentários aclamando o trabalho dos instrumentos eram comuns, principalmente em relação ao trabalho de Morgan Simpson na bateria. Mas desde o começo era notável o quanto o black midi não é uma banda para qualquer um.
Um dos registros mais famosos foi gravado no mesmo mês de lançamento do primeiro trabalho. A apresentação de quase trinta minutos lançada pela famosa rádio KEXP tem os membros vestindo desde um capacete de proteção até roupas sociais enquanto tocam sem parar com uma mistura de gritos e declamações. O som se faz difícil, mas não de uma forma arrogante… é como se a banda não se contentasse em apenas tocar, é necessário ir além.
“Hellfire”, o registro mais recente lançado em 2022, soa como se a banda tivesse se cansado da mesma coisa de sempre e decidido experimentar um pouco fora da própria casinha. O disco como um todo se revela uma experiência que às vezes remete a um musical maluco, e em alguns pontos a banda parece estar mais próxima de uma adaptação de “Sweeney Todd” do que de si mesma. Mas esse distanciamento não é um ponto negativo; ele faz parte de um ampliamento da bolha sonora enorme que a banda já vive.
Há muitos elementos de jazz e música falada, e essas adições são inseridas como se fossem jogadas em um liquidificador em movimento. O barulho de sempre continua, em momentos mais organizado e em outros um pouco derrapante, mas essa evolução é agradável para quem tem planos de ver black midi ao vivo, já que todo o trabalho (incluindo o segundo disco, “Cavalcade”) parece ter sido feito para os palcos. Há um aspecto bastante grandioso em como a banda enxerga o próprio trabalho, e nenhum estúdio seria capaz de condensar tudo o que eles podem fazer com as pessoas assistindo.
A sonoridade peculiar da black midi faz muito barulho e ainda agrada muita gente com sua personalidade única. Para quem aprecia atos como Black Country, New Road ou Dry Cleaning, a sonoridade aqui não é tão surpreendente. No entanto, para quem busca adentrar um pouco mais na cena relativamente recente de artistas ingleses, a banda pode ser uma parada essencial.
Mesmo após uma maratona na discografia do trio, a dúvida sobre em qual categoria colocá-los pode persistir. Alguns podem descrevê-los como experimental, post-punk ou avant-garde, mas a realidade é que apresentá-los como uma banda de rock, seguindo o conceito mais simples possível, pode ser a melhor escolha. Afinal, atitude de estrelas do gênero é o que não falta.
***
black midi toca no sábado, 02 de dezembro. Mesmo dia dos headliners The Killers e Pet Shop Boys.