Journey faz show lastimável ao insistir em concretizar a nostalgia | Rock In Rio

Problemas técnicos e pouco entusiasmo foram os ingredientes para a receita morna da apresentação da banda sexagenária Journey

Uma performance tão desastrosa a ponto de não sair da memória ou um show tão insosso que será facilmente esquecido? Seja qual for a resposta (se é que há), assim foi o show da banda Journey, que se apresentou no dia 15 de setembro, no palco Mundo, na edição de 40 anos do Rock in Rio.

Mas afinal, o que deu errado? Podemos começar falando sobre o desempenho vocal do frontman da banda, Arnel Pineda: o vocalista não entregou a performance esperada, uma vez que teve dificuldades em atingir as notas mais altas e dispunha de uma aparente falta de energia. O próprio Pineda reconheceu que não deu o seu melhor. Além disso, a sombra de Steve Perry, o vocalista original do Journey, paira sobre a banda há anos. A comparação entre os dois é inevitável, e muitos fãs sentem falta da potência vocal e da presença de palco do antigo frontman.

Somado à monotonicidade da apresentação, era como se o público sentisse uma espécie de pena da banda. A atmosfera durante o show foi desconfortável, com muitos espectadores se sentindo constrangidos com a apresentação. O embaraço foi reforçado fora dos palcos, após uma publicação do vocalista, Pineda, com uma espécie de “plebiscito”. Em seu perfil no Instagram, Arnel admitiu estar sofrendo mental e emocionalmente após a apresentação e prometeu que sairia do grupo se um milhão de comentários pedissem sua retirada. No entanto, dias após a postagem, o cantor se desculpou com os fãs pelo comportamento nos últimos dias e agradeceu pela presença e pelo apoio. 

Crédito: Rock In Rio 2024

Fiasco geral

Embora a apresentação tenha sido enfadonha, ela não foi tão ruim a ponto de ser lembrada como tal. Na verdade, talvez tamanho tédio seja o motivo para que a performance não seja tão comentada ou sequer lembrada. Se Arnel Pineda ficou com receio de que a performance tenha decepcionado os fãs, o cantor deveria tirar um pouco o peso das suas costas. Sua entrega, de fato, não foi das melhores e, justamente por isso, será facilmente esquecida da memória da plateia.

Outro integrante do Journey resolveu se manifestar sobre o show no Rock in Rio 2024: o guitarrista Neal Schon publicou em seu Facebook (is it still a thing?) que a apresentação foi notadamente afetada por problemas técnicos. No início, um som tão baixo que o vocalista perguntou ao público, mais de uma vez, se conseguia ouvir os instrumentos da banda. Do meio para o fim, decibéis altíssimos que estouraram o som da apresentação. Na legenda do post, o único membro da formação inicial da banda, fundada em 1973, declarou que o grupo teve sua performance afetada por restrições técnicas aplicadas pelo Avenged Sevenfold, headliner do domingo.

Crédito: Rock In Rio 2024

“Este vídeo é do Rio, embora tenhamos descoberto muito depois que ficamos extremamente limitados pelo Avenged Sevenfold — o que significa que quase nenhum som consegue sair do PA (sistema de caixas de som) para o público. É uma jogada de merda. Dê uma olhada no público. Eles adoraram. O resto é porcaria fabricada.”, disse Schon em sua publicação.

Ainda que com uma performance lastimável, o show do Journey faz questionar sobre a autenticidade em uma apresentação ao vivo, o papel das redes sociais na construção da reputação de um artista e a pressão em busca de bons resultados e manutenção de reputação em um evento como o Rock in Rio, o maior festival do planeta. Mas vamos lá: será que essas questões sequer passarão pela mente de um público leigo, que não tem tanto contato com a banda ou que não está por dentro de todos os fatores trazidos assima? Provavelmente não.

O comeback da nostalgia

O caso do Journey é um indicativo de que a nostalgia é um sentimento forte, arraigado e cada vez mais em voga (se é que pode-se assim dizer, levando em consideração o comeback de bandas como Oasis, RBD e a brasileira Restart) – mas essa lembrança nem sempre precisa ser concretizada. Journey continua em atividade, porém, com tantas trocas de membros da banda, a sonoridade e até mesmo a essência do grupo foram modificadas com o tempo. Não é justo cobrar do Journey que ele seja o mesmo grupo que era quando a banda foi formada. Compreender isso alivia um pouco o fiasco que foi o show, mesmo que essa compreensão parta de uma análise e não seja tão nítida perante a estranheza inicial.

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