O funk nunca esteve tão democrático quanto ultimamente, perdendo um pouco do preconceito que o permeava pela sociedade. Kondzilla, o maior produtor de conteúdo do gênero, já acostumado com videoclipes, decidiu arriscar e produzir uma série que tivesse o funk como um dos assuntos principais, saindo um pouco da sua zona de conforto, apresentando algo bem novo, se comparado às outras produções que abordam a vida de jovens na periferia.
Sintonia é a história de três jovens que foram criados juntos desde a infância, cada um com sua personalidade, idades e sonhos. Rita, Doni e Nando são da periferia de São Paulo e vivem nessa realidade e, mesmo com suas diferentes visões de mundo e de vida, são grandes amigos.
Doni é um garoto um tanto privilegiado, pois estuda em escola particular e tem o sonho de se tornar cantor de funk; Rita é uma garota independente, que vive sem os seus pais e vende coisas para se manter na vida, o que a leva ao caminho da igreja evangélica; Já Nando está na vida do tráfico de drogas e do crime. Cada um com um núcleo próprio no meio da trama, que vai se desenrolando ao decorrer dos episódios.
“É muito bom, mas poderia ser melhor”
Apesar dos núcleos bastante diversos, explorando diferentes partes, proveniente da amizade de Doni, Rita e Nando, Sintonia possui apenas seis episódios de quarenta minutos, o que impossibilita uma maior exploração dos personagens, principalmente dos protagonistas, tornando a experiência um pouco mais profunda.
A série começa muito bem, mas, ao decorrer dos episódios, as tramas vão se resolvendo muito rapidamente e de uma forma um tanto superficial, diminuindo o impacto que teria caso acontecesse o contrário.
Alguns diálogos são capazes de fazer você se esquecer de que está assistindo uma série.
Infelizmente, a produção nacional, se não global, não tem uma credibilidade muito boa perante o público, porém, Sintonia oferece o contrário, principalmente por contar com rostos novos no meio do audiovisual brasileiro. A interpretação dos atores principais convence, transmitindo bastante verdade e naturalidade.
Grande parte dessa veracidade nos diálogos se dá pelas gírias e sotaques usados, muito característicos da comunidade periférica e da capital paulista. Quem é de São Paulo ou já esteve junto de um paulista, com certeza identifica gírias e sotaque na série. Infelizmente, esse ponto forte também se torna um pouco falho, pois ocorrem alguns exageros em alguns momentos, sendo um pouco forçado, por se prender muito ao estereótipo, principalmente por conta de alguns atores coadjuvantes.
Fotografia, trilha sonora e músicas originais se destacam na trama.
Algo ao que não se pode discutir é o capricho que tiveram com a fotografia de Sintonia, que está impecável. Ela ajuda a aproximar os núcleos dos protagonistas com quem assiste, além de ser algo belo de se ver, chegando até a surpreender.
Com o arco do protagonista Doni, somos apresentados à indústria da música e seu bastidores, assim como pode ser a carreira de um cantor que veio lá de baixo. Esse arco também dá origem à musicais originais da série que podem ser facilmente ouvidas em outros lugares, por conta da sua naturalidade quanto ao gênero.
Por ter como uma das bases o funk, a trilha sonora da série também é recheada de hits, conhecidos até por quem não tem o costume de ouvir o gênero, tornando-se uma experiência ainda mais próxima. Também há a participação de cantores já famosos no meio, como MC Kekel e Dani Russo.
A fuga do estereótipo é o prato principal de Sintonia.
Sintonia se sustenta na jornada de três jovens sonhadores, seja na música, na igreja ou no tráfico de drogas, caracterizando os personagens quanto ao cenário, sempre buscando fugir do estereótipo, nos apresentando uma nova roupagem para os personagens, os tornando pessoas reais, que poderiam estar em qualquer comunidade por aí.
Ainda sem segunda temporada confirmada pela Netflix, a série termina com ganchos para uma segunda temporada, uma oportunidade para se explorar ainda mais a realidade dos protagonistas, aumentando ainda mais a qualidade da série.
Uma série um tanto ousada, que entretém e diverte tanto aqueles que gostam do funk quanto aos que não gostam, pois ainda apresentam um conteúdo que podemos ver em outras séries, dado aos três núcleos diferentes dos protagonistas. É bastante promissora.
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