PUBLICIDADE

Heartstopper amadurece sem deixar de encantar em 3ª temporada

Heartstopper apresenta na sutileza dos rabiscos seu maior trunfo emocional

Adaptando (em grande parte) o volume 4 e o volume extra ‘Este Inverno’ das graphic novels criadas por Alice Oseman, a 3ª temporada de Heartstopper chegou a Netflix mantendo sua qualidade, suas notas altas na crítica e o principal, sua maneira encantadora de explorar os ônus e bônus da adolescência.

Em uma temporada mais emocional e intensa, mas sem perder a magia, a série amadurece sua narrativa explorando transtornos e trazendo para a mesa a primeira experiência sexual de seus personagens. Com um primeiro episódio que começa com Charlie (Joe Locke) explorando o dilema de dizer “eu te amo” para Nick (Kit Connor) pela primeira vez, a produção já nos coloca na cabeça do personagem, apresentando sua ansiedade e insegurança de forma sutil, mas representativa.

Durantes seus 8 episódios, a adaptação desenrola não só os sentimentos de Charlie, mas abre espaço para que seus coadjuvantes possam brilhar e expressar seus mais distintos sentimentos no processo de amadurecimento pessoal.

Temos Nick lidando com a própria forma que se doa às pessoas e como isso trás uma dependência do namorado; Tori (Jenny Walser) em conflito com sua preocupação com o irmão e ao mesmo tempo sua fata de amigos; Isaac (Tobie Donovan) se aprofundando no seu entendimento sobre a assexualidade; Elle (Yasmin Finney) se firmando ainda mais em sua identidade de gênero e confrontando os desafios desta vivência, entre outros.

Heartstopper entrega uma temporada muito bem elaborada, que encanta na medida que emociona e aquece o coração. Ela não se preocupa em gastar tempo discutindo dores que vão para além do individuo, mas sim, se debruça em explorar as dores e anseios individuais de Charlie, Nick, seus amigos e familiares.

Heartstopper apresenta na sutileza dos rabiscos seu maior trunfo emocional

A série está entre as adaptações mais fiéis feitas de uma obra em quadrinhos para as telas. Podemos confirmar esse pensamento, não só pela fidelidade visual, – cada detalhe, cor, objeto desenhado na graphic novel está presente na tela – mas também pela fidelidade sentimental.

Heartstopper traduz o emocional de seus personagens de forma única, bebendo do recurso visual que a criou, os rabiscos e desenhos de intensão presentes em quadrinhos. Cada mini desenho é utilizado de forma muito inteligente para dar mais dimensão aos sentimentos em cena.

As pequenas folhas, raios e corações para demonstrar a eletricidade do amor e do desejo, os emaranhados escuros e rabiscos para abordar a ansiedade, o pânico ou a insegurança causada por um sentimento ruim ou transtorno mental. Unindo esse recurso aos diálogos, o show cria quase que um guia que nos leva a ter uma maior compreensão sobre determinadas vivências e sensações. O transtorno alimentar de Charlie é um deles.

É importante dizer, que diferente de muitas abordagens, em Heartstopper, o transtorno alimentar não é abordado pela ótica do peso ou da necessidade de atender padrões corporais, mas sim, por questões que envolve a necessidade de controle e o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).

Desde o início a série nos leva com detalhes e de forma muito educativa, a percorrer as nuances desse transtorno. Vale a menção aos episódios 4 (Journey) e 5 (Winter) que são brilhantes (e extremamente desidratadores) em evocar as implicações desse tipo de distúrbio, em quem o possui e em seus entes queridos.

Uma sugestão seria a troca do nome da série de Heartstopper para ‘Crynonstopper‘, já que é quase impossível não sentir os olhos arderem a cada episódio. Mais do que desenhos em tela, os recursos visuais são um trufo por provocarem sensações quase que reais no espectador.

Nem tudo são flores, mas são folhinhas coloridas

Não é segredo para ninguém que há na adaptação um caráter leve demais e uma certa resolução simples de alguns problemas. A série tem em diversos momentos um ar quase que utópico, principalmente se falando no universo LGBTQIAP+.

Por mais que em sua 1ª e 2ª temporada os conflitos que permeiam a descoberta da sexualidade estivessem presentes – o medo, a homofobia e o bullying – a adaptação sempre esteve em um lugar não comum a este público. O lugar de segurança. Nela, há um grupo grande de pessoas e uma rede de apoio muito bem estabelecida de pessoas LGBTQIAP+, que são compreensivas a tudo o tempo todo. Isso faz com que as demonstrações públicas de afeto em cidades diferentes ou mesmo na escola sejam algo simples e nem um pouco intimidador para os jovens.

Por mais que isso não reflita a realidade, é bonito ver a série tirar um pouco o peso e a pressão do momento de entendimento da sexualidade, pois ela o faz não com o objetivo de contar uma mentira, mas de tornar esse processo individual menos doloroso para quem o vive. Afinal, anteceder sofrimento, também é causar mais dele.

Heartstopper é mesmo de parar o coração

A série segue sendo um grande sucesso e tem como pontos fortes não só a leveza, fofura e a fidelidade a obra original de Oseman, mas o fato de não ser pretensiosa. Ela não deseja ser mais do que é ou criar mais do que já foi criado por sua autora original.

O resultado disso é um produto de sucesso, com cenas que conquistam diversos públicos, uma trilha sonora que parece feita sob medida para cada cena – com músicas em que as letras parecem ter sido compostas junto aos diálogos escritos –  e uma narrativa que se entrelaça com todos esses elementos gerando um audiovisual que desde seu surgimento não teve uma nota inferior a 95% de aprovação dos espectadores e da crítica.

Heartstopper é o que foi feita para ser, uma série leve, absurdamente fofa e que sabe como envolver seu público mesmo que ele seja de faixas etárias diferentes. Enquanto os adultos têm o coração aquecido e o desejo afetuoso de ter vivido algo tão lindo e calmo em sua adolescência; A nova geração, explora o sentimento de ter mais segurança em ser quem é em idade ainda jovem e compreende seus conflitos de forma mais sútil, porém muito eficaz.

98/100

Total
0
Share