No próximo final de semana, São Paulo será palco de mais uma edição do festival Transforma Música. Nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, o Centro Cultural Olido abre suas portas para uma programação vibrante que homenageia a diversidade da música queer brasileira.
O evento reúne artistas renomados como Karina Buhr, Jup do Bairro, Getúlio Abelha, L’homme Statue e Filipe Catto. Além dos shows gratuitos, o festival também contará com debates, performances e uma mostra de videoclipes voltada à cultura LGBTQIAPN+. Sob a curadoria de Ali Prando e León Franz, o Transforma Música se consolida como um espaço de subversão artística e celebração das expressões dissidentes que desafiam o convencional.
Em conversa com o escutai, o curador Ali Prando comentou as principais diferenças entre a edição inaugural do Transforma Música, que ocorreu em junho de 2023, e a edição de 2024. Segundo ele, o festival está mais punk, incisivo e mais provocativo, onde a música é abordada em duas linguagens disputantes: eletrônica de pista e vanguarda e rock post-punk.
“Esse não é um festival onde eu busco uma pedagogia da música, muito pelo contrário, queremos meter o pé na porta e acabar com o clima de pasmaceira geral em que a música brasileira se encontra. Acredito que os shows e artistas que participam dessa edição são mais radicais. Ao mesmo tempo, nos talks, dialogamos sobre temas mais urgentes, como o uso das IAs nas artes visuais e música e o possível hackeamento de plataformas de streaming para artistas queer.”
Ali conta que suas pesquisas sobre gênero e sexualidade na música começaram na época em que estudava Filosofia e que nunca parou de analisar o contexto social do Brasil e sua relação com o cenário musical, fator essencial para a curadoria e a escolha dos artistas e palestrantes do festival.
“O festival representa para mim a possibilidade de devolver para São Paulo, a cidade que me acolheu e acolhe as crises, alegrias, desejos, disforias, euforias e angústias das pessoas queer que escolheram esse lugar para viver, e também re-pensar o que significa produzir música brasileira nos tempos em que vivemos pós-bolsonaro, as crises de festivais e plataformas de streaming, os direitos da comunidade queer e transgênero cotidianamente ameaçados e artistas que não estão exatamente preocupados com a criação da sensibilização dos sentidos. Como diria Liana Padilha, a grande homenageada desta edição, “às vezes, meu tropicalismo é punk e quer sair quebrando tudo”, sabe?”
Quando questionado sobre quais mudanças e reflexões o Transforma Música pretende provocar, o artista não hesita, afinal, as possibilidades de uma evolução no cenário musical queer brasileiro são infinitas:
“Enquanto artistas queer, é um erro pensar que podemos competir e ocupar os “mesmos lugares” da mesma maneira que os artistas que têm apoios de grandes big techs, conglomerados midiáticos, marcas e agências de publicidade – que muitas vezes inclusive fazem uma espécie de ativismo performativo, cooptando essas identidades apenas para vender mais e esvaziar pautas sociais.”. Dilemas sobre números e arte, uso de IA em produções e desafios para uma maior circulação dos projetos são alguns dos temas propostos pelo festival, que pretende abrir uma janela para que essa conversa ressoe em eventos futuros.
O curador também manifestou sua satisfação pelo apoio da Secretaria de Cultura de São Paulo na realização deste projeto gratuito, ressaltando que, sem esse suporte, a realização de um evento gratuito não seria viável. “É hora de rasgar o verniz da docilidade e reerguer a música queer como um ato de resistência feroz.” finaliza Ali.
Para conferir a programação completa e mais informações sobre o festival, acesse transformamusica.com ou siga a página @transformamusica no Instagram. Não é necessária a retirada de ingressos para o evento.