O Nosferatu de Robert Eggers redesenha um dos vampiros mais célebres do cinema

Inspirado na personagem Drácula, Nosferatu ganha a roupagem característica dos trabalhos do diretor sem se distanciar da história original

Os vampiros não são uma obsessão dos anos 2010 — não mesmo. O escritor Bram Stoker, por exemplo, publicou seu romance Drácula (tenho certeza que você já ouviu esse nome por aí) publicado pela primeira vez em 1897. Inspirando-se na obra literária, o alemão Friedrich-Wilhelm Murnau decidiu fazer um filme, em 1922. Contudo, para não ter problemas legais com uma possível realização não autorizada, mudou o nome do vampiro da obra. Assim nasceu Nosferatu, uma personagem tão vampiresca quanto o querido Drácula.

O Nosferatu de Murnau (Nosferatu – Eine Symphonie des Grauens) é um excelente exemplo do expressionismo alemão, movimento artístico que expressava emoções e ideias por meio de formas distorcidas e exageradas, o que contribuia (e bastante) para a construção do horror e do suspense da obra. A película foi a primeira representação de um vampiro no cinema. Anos depois, em 1931, a criação de Bram Stoker também foi para as telonas — dessa vez pelas mãos de Tod Browning e com autorização do autor da obra. Assim, a personagem Drácula foi final e fielmente reproduzida.

Indo adiante dos trabalhos de Murnau e Browning, outros filmes inspirados nos vampirões vanguardistas foram desenvolvidos. O mais recente, com lançamento previsto para janeiro de 2025, tem direção de Robert Eggers e conta a história de Nosferatu. Conhecido por seus trabalhos em A Bruxa (2015) e O Farol (2019), Eggers apresenta uma nova interpretação para o clássico do terror vampírico. Apesar de ser uma nova versão da história, o diretor demonstra respeito pela obra original de Murnau: a história central, sobre um vampiro alto, magro, com cabeça alongada, orelhas pontudas, olhos fundos e grandes presas que assombra uma pequena vila, permanece intacta. A contextualização da trama se passa na Alemanha do século XIX e acompanha Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), uma jovem recém-casada que é perseguida por um antigo vampiro da Transilvânia.

Mas a história não é tão direta assim. Embora as cenas iniciais, somadas ao nome clássico de Nosferatu, já explicitem o que vai acontecer nas próximas 2h15 de filme, há detalhes que enriquecem o roteiro, também escrito pelo diretor. Isso porque, diante de seu casamento recente, o marido de Ellen, Thomas Hutter (Nicholas Hoult), parte em busca de um emprego. Como quem procura acha, o homem cruza caminho com Herr Knock (Simon McBurney), corretor de imóveis que propõe uma espécie de exercício para analisar a contratação de Thomas. A missão consiste em convencer o Conde Orlock (Bill Skarsgård), um homem de gostos peculiares, a assinar um contrato de compra da Mansão Grunewald, uma propriedade antiga e depredada. Contudo, Orlock não mora na pequena vila, e sim em um castelo em um local frio e remoto. Isso te lembra alguma coisa?

Como Thomas precisa viajar para finalizar a proposta imobiliária ao Conde, Ellen fica hospedada na residência de um casal amigo: Anna (Emma Corrin) e Friedrich Harding (Aaron Taylor-Johnson). Juntamente às duas filhas do casal, Ellen passa os dias ansiando pelo retorno de seu marido, sempre com a sensação de que algo ruim está prestes a acontecer. A jovem passa a somatizar essa saudade, o que faz com que tenha pesadelos vívidos e episódios extremos de sonambulismo. As crises de Ellen pioram com o tempo, enquanto Thomas segue firme em seu encontro com o Conde Orlock. 

Como já mostrou em sua filmografia, Eggers é conhecido por exigir fotografias sombrias, atmosféricas. Os visuais primorosamente manipulados criam uma estética gótica que, não fosse pelo momento hodierno em que o filme nasce, poderia ser assimilado ao expressionismo alemão. Não há dúvidas: o diretor bebe desse movimento artístico, mesmo colocando sua própria visão e explorando novos ângulos. 

Dentre palavras complicadas e o idioma inglês que rouba o lugar do alemão que a localização da história demanda, os diálogos da primeira parte do filme são longos e marcados por sotaques toscos. Somadas às cenas de pouca luminosidade, a metade inicial de Nosferatu promove um ambiente propício para o sono, não fossem os momentos esparsos e parcimoniosos de jumpscares. Em contrapartida, a segunda divisão da obra é carregada de ação, e os diálogos diminuem de tamanho. O inglês forçado e rebuscado continua ali, no entanto.

O filme conta com um elenco talentoso, incluindo Bill Skarsgård (o que reforça sua especialidade em interpretar papéis em filmes de terror, adicionando mais uma experiência na segmentação de criaturas monstruosas), e Willem Dafoe — impecável como sempre. Lily-Rose Depp e Aaron Taylor-Johnson desempenham suas tarefas de maneiras satisfatórias, mas não fogem da mediocridade, tampouco interpretam cenas de choro com a mínima qualidade. Nicholas Hoult permanece em seu espaço de conforto: atua bem, porém à sua forma. Não é a entrega completa de Willem Dafoe, mas também não é o blasé de Lily-Rose Depp.

Embora não cative o tanto que imagino que o Robert Eggers gostaria que Nosferatu assim o fizesse, a película pode agradar os fãs de filmes de terror que não sabem o que assistir, ou então de fãs de vampiros — a família Cullen não conta — se deleitar com uma representação fiel de um clássico do cinema. E também para quem tem o estômago forte e consegue aturar cenas repulsivamente nojentas.

68/100

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