O maior feito da carreira de Taylor Swift não é um single de sucesso nem um disco que a tornou a maior popstar da música atual, e sim o que ela fez nos palcos entre 2023 e 2025: a The Eras Tour. Nada é melhor para um artista do que ter sua performance no palco como a melhor referência de seu trabalho e tudo se explica quando a cantora anunciou que The Life of a Showgirl, seu décimo segundo álbum de estúdio, seria um reflexo do que viveu durante os anos em que viajou o mundo com seu espetáculo.
Vivendo seu melhor momento, tanto profissional quanto pessoal, Taylor Swift fez deste trabalho um compilado de narrativas sobre o que é viver sob os holofotes e a pressão pública. Mesmo tendo tomado decisões muito inteligentes no passado, como se privar de comentários em postagens nas redes sociais e evitar entrevistas, a cantora agora sente que a melhor forma de tomar a narrativa para si é guiar o que as pessoas verão e dirão.
Taylor tem algumas personas dentro de si enquanto trabalha, e uma delas é a romântica. Quando Lover foi anunciado, a tracklist já dava indícios de que aquele seria um trabalho no qual ela deixaria claro que estava feliz e apaixonada. Mesmo que o relacionamento daquela época não tenha dado certo, os sentimentos eram genuínos. Quem conhece a cantora um pouco mais a fundo sabe que, dentro dela, sempre existiu alguém que mantinha a esperança de que, em algum momento, seria o seu tempo de ser plenamente feliz.
Em seu disco anterior (que acabou se tornando uma experiência difícil para alguns devido à sua duração) havia momentos específicos que falavam exatamente sobre isso. O que foi escrito em “The Prophecy” hoje é realidade, mas fica perceptível o quanto seus momentos de dor sempre acabam gerando um conteúdo lírico mais rico.
Desde sempre houveram músicas que focavam mais no entretenimento do público do que em algo mais profundo. “Shake It Off”, “We Are Never Ever Getting Back Together” e “Karma” são o que são, e apesar das críticas na época de seus lançamentos, hoje são vistas como momentos em que uma música pop já era o suficiente. Em The Life of a Showgirl, isso, infelizmente, não acontece. As doze faixas do projeto têm ótimas inspirações, mas, para quem sabe do que Taylor é capaz, o resultado aqui é um pouco decepcionante.
Ironicamente, logo em sua faixa de abertura ela conseguiu criar algo que tem tudo para se tornar um dos singles mais marcantes da carreira. “The Fate of Ophelia” se inspira em uma história triste e subverte seu fim, em uma sacada semelhante à de “Love Story“, o divisor de águas da carreira da cantora. O refrão é marcante, o título da música, antes visto como uma escolha incomum para algo pop, casa perfeitamente com a melodia e o resultado é a combinação ideal de tudo o que Taylor sabe fazer de melhor.
O novo projeto não é um desperdício, pois a inspiração por trás do disco é uma das mais interessantes que Taylor já teve até hoje. Muito se questionava sobre o que se passava na cabeça da cantora enquanto cada show de sua turnê acontecia. Como ela conseguiu criar algo tão grandioso e bem-sucedido, resultando no que se tornaria a maior turnê de todos os tempos? Mesmo que um documentário pudesse explorar melhor essa questão e oferecer um resultado mais envolvente, a decisão por um álbum inteiro é compreensível, já que a artista sempre preferiu se comunicar por meio de composições.
Ainda assim, The Life of a Showgirl não consegue se destacar de forma memorável dentro da longa discografia da cantora. As brincadeiras divertidas em relação ao tema das canções estão presentes em “Wood” e “CANCELLED!”. O drama sobre possíveis relacionamentos conturbados com pessoas da indústria aparece em “Actually Romantic”; “Honey” é mais uma adição ao catálogo de canções doces — mas, apesar de tudo isso, o lirismo falha. As produções de Max Martin e Shellback são contidas, surpreendendo quem esperava um pop marcante, e, além da faixa principal, apenas “Elizabeth Taylor” e “Opalite” soam realmente potentes.
Quem já conhece Taylor Swift não se surpreende com o que é apresentado aqui, pois seus momentos mais românticos nunca foram responsáveis por seus melhores álbuns… E, ao fim do dia, os fãs da pessoa física têm tudo para aproveitar muito mais do que aqueles que preferem a artista. Como acontecimento na carreira, The Life of a Showgirl é algo certeiro e bem pensado, mas, fora desse contexto, acaba sendo apenas mais uma adição comum ao catálogo.