Bruno Leo lança “Vestígios”, álbum sobre marcas deixadas pelo caminho

Quinto disco do artista carioca radicado na Finlândia transforma objetos esquecidos, espaços abandonados e memórias fragmentadas em oito faixas de rock alternativo introspectivo.

Após explorar o tempo paralisado em seu disco de estreia Constantes Casos do Tempo que Parou (2020), transitar pelo limbo existencial em Limbo (2022), refletir sobre ilusões em Delusional (2023) e investigar intimidades urbanas em Conversas de Apartamento (2023), Bruno Leo apresenta agora Vestígios, seu quinto trabalho de estúdio.

Um álbum que funciona pra observar as coisas que ficam quando tudo já passou. Composto, arranjado, produzido e executado inteiramente por Bruno Leo em seu home studio em Helsinki, Vestígios confirma a assinatura autoral do músico carioca, que cresceu em Brasília, passou dois anos na Califórnia e hoje reside na Finlândia.

Com essa bagagem transcontinental, transita entre o indie rock, o indie pop e o rock alternativo com influências que vão de The Killers, Cardigans, Paramore, Doves e Stereophonics.

Se nos trabalhos anteriores Bruno Leo já demonstrava interesse pelo introspectivo e pelo cotidiano invisível, em Vestígios ele leva esse olhar pra mais fundo. Cada uma das oito faixas funciona como uma lente de aumento sobre os rastros e vestígios físicos e emocionais que compõem nossa existência. “Hora do Embarque” abre o disco no terminal de partidas da vida, onde malas abertas guardam não apenas roupas, mas passados que insistem em viajar conosco.

A faixa estabelece o tom do álbum. Movimento, transição e a pergunta “pra onde vamos?”. Logo em seguida, “Apartamento 22” nos leva aos corredores escuros de um edifício que poderia ser qualquer um. Com luzes que piscam e janelas travadas que se abrem rasgadas, a música transforma um apartamento em um portal para histórias que ninguém contou. É o espaço físico como vestígio de vidas secretas. “Trilha de Novela” observa o rosto quieto que aparece na janela, regando plantas que já vão murchar. Com sensibilidade, Bruno Leo captura aquele personagem urbano que todos já vimos mas nunca conhecemos. E a faixa nos transforma em atores da mesma novela cotidiana.

A melancolia se intensifica em “Telefonema a Cobrar”, onde uma chamada invertida na madrugada se torna uma metáfora para a saudade. Algo que nos cobra nas escolhas, nas palavras que não dão mais pra falar e nos nos ruídos de uma simples ligação. Em “Cemitério de Carros”, o disco alcança um de seus momentos mais poéticos. Latas enferrujadas sob o sol de janeiro, volantes gastos sem direção e memórias de adesivos no vidro. Cada elemento funciona como espelho do que já fomos.

A música transforma um ferrovelho em um memorial de vidas e desejos abandonados em rotas do capitalismo. “Entre Enredos” apresenta a estrutura mais minimalista do álbum, com versos curtos que esquentam as pontas dos dedos enquanto contam segredos. É sobre cuidar das lembranças sem ter certezas, sobre soltar os próprios medos e despencar de velhos enredos. “Inventário” cataloga os objetos que sobram. Um casaco esquecido na escada, chave sem porta, relógio quebrado e um livro sem capa.

Bruno Leo entende que não conseguimos viver só nos grandes momentos, mas também, nos detalhes, nas cartas e nos bilhetes esquecidos no bolso. Uma despedida disfarçada de inventário emocional. O disco se encerra com “Carta ao Futuro”, onde o músico escreve endereços que não existem e assina nomes que nem sabe. É a faixa mais meta do álbum. Um vestígio que ainda será deixado, uma promessa de uma memória futura. “A carta ao futuro me ensina a me perdoar” — verso que resume a jornada completa de Vestígios.

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